É comum ouvirmos que grande parte dos clubes e federações esportivas do Brasil ainda possuem gestões amadoras. No meu último texto, escrevi sobre o fim do Ministério dos Esportes e sobre a dependência dos nossos esportes profissionais por dinheiro público. Hoje vou falar sobre profissionalismo, que é a base de sustentação desse ramo de negócios. Sem fazer um grande histórico e consequentemente um texto longo, vou ilustrar essa situação com algo não tão distante. Na década de 1970 até 1990 era comum existirem os “badboys” nos esportes e na música, ídolos e astros desrespeitando fãs, jornalistas ou colegas de profissão. Até que os patrocinadores começaram a ver problema nisso, pois nenhum empresário responsável desejava aliar a marca da sua empresa a alguém com problemas de comportamento e notícias nas páginas policiais. Por isso que desde a década de 2000 aproximadamente, os badboys foram sumindo do mapa aos poucos. Ídolos do esporte e astros da música que viam a grana chegando dos patrocínios perceberam que tinham muito mais a ganhar tendo um bom comportamento. Já os badboys foram perdendo patrocínios e consequentemente dinheiro, ou seja, era melhor mudar o comportamento. Isso é algo muito próximo do que ocorre com a gestão de entidades esportivas. Os que apresentam “bom comportamento” tendem a receber mais patrocínios privados. Por exemplo a CBRu (Confederação Brasileira de Rugby). Pode não ser uma entidade perfeita, mas está mais avançada que muitas federações de esportes populares e com mais recursos. Logicamente que o investimento de patrocínio depende de outros fatores como a popularidade da modalidade, a visibilidade na mídia, a participação de atletas famosos, os resultados internacionais e etc. Entidades com “bom comportamento”, ou seja, com boas práticas de gestão possuem boa governança corporativa, transparência financeira, ética, cumprimento de metas e normas, entre outros parâmetros de qualidade. Aprofundando um pouco na questão do profissionalismo em si, isso não significa que algo é “profissional” porque tem dinheiro envolvido. Afinal, quantos jogadores amadores ganham dinheiro para jogar partidas de final de semana? Na gestão, quantos gestores recebem dinheiro e entregam resultados amadores? A palavra profissionalismo deveria carregar junto uma bagagem com outros significados, como: formação adequada, atitudes responsáveis e adequadas, metas e cobranças por resultados, eficiência, transparência, inovação, foco, dedicação... Vejamos, muitas modalidades que não aparecem na grande mídia reclamam da falta de espaço. Porém, o que estão fazendo para mudar isto? Ganhar popularidade? Quais projetos possuem? Qual visão de futuro? Dois exemplos e sugestões: 1. Aumentar o número de praticantes de uma modalidade ou federação? Que tal iniciar projetos voluntários em escolas públicas com atletas atuais ensinando crianças a modalidade? Que tal colocar metas crescentes para números de participantes por ano? O pessoal que trabalha com Badminton dá bons exemplos aqui e aqui. Aumentar o relacionamento com a comunidade poderá abrir portas com pequenos empresários, para depois tornar-se atraente para os grandes empresários. É ilusão querer grandes patrocínios sem o mínimo de profissionalismo e projeção. 2. Aumentar a exposição de torneios e transmissões? Já ouviu falar em streaming? Transmissões pela internet. Não é tão difícil fazer e nem tão caro. Hoje a tecnologia está acessível e torna tudo isso bem possível. Um exemplo real para campeonatos amadores é o mycujoo.tv. Deve existir outras plataformas e até mesmo os conhecidos Facebook e Youtube possuem serviços desse tipo. Outro exemplo é a câmera dinamarquesa Veo, que fica estática ao lado do campo e filma o jogo todo sem a necessidade de um cinegrafista. A câmera acompanha o movimento da bola e ainda fornece estatísticas. Esta câmera foi vencedora de prêmios de inovação em tecnologias do esporte. Quer incrementar a qualidade da transmissão com narração e comentaristas? Que tal uma parceria com uma faculdade de jornalismo e de educação física, em que os próprios alunos ficarão responsáveis pela transmissão, narração e reportagens. Os graduandos estarão aprendendo na prática e o evento ganhará um serviço a mais. Já está inserido numa faculdade? Que tal uma parceria com alunos de marketing, para criar um plano comercial e de busca de patrocínios? Não é fácil fazer tudo isso, se fosse qualquer um faria, mas com planejamento e profissionalismo é possível. A qualidade virá com o tempo, assim como o possível aumento de patrocínios. Por fim, de parcerias em parcerias, será possível melhorar a qualidade do serviço. Que poderá levar a grandes patrocínios. Já conseguiu patrocínio? Qual retorno você deu a ele? Algum relatório de exposição da marca e envolvimento com o público? Alguma pesquisa com o público sobre a percepção do patrocínio? Por que o patrocinador deverá renovar com seu evento? Buscar estas respostas possibilitará a criação de um plano interessante de marketing, patrocínio, visibilidade, envolvimento e retorno. Quantas entidades esportivas buscam estes planos?
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A comunidade esportiva do Brasil vive um momento de apreensão e de baixa expectativa em relação às políticas públicas e investimentos no esporte. O presidente eleito Jair Bolsonaro já deixou claro que reduzirá o número de ministérios, buscando a economia de recursos públicos e a maior eficiência na gestão, além de priorizar investimentos em segurança pública, saúde e educação. O Ministério do Esporte passará a fazer parte do Ministério da Educação, como foi melhor explicado nessa matéria de Alexandre Pussieldi. Já nesse texto de Demétrio Vecchioli, o autor comenta sobre os desafios do novo presidente em relação ao esporte. A “década de investimento” no esporte brasileiro passou. Teve início nos grandes investimentos para o Pan Rio 2007, depois Copa 2014 e Jogos Olímpicos em 2016. Muito dinheiro gasto em infraestrutura, muita corrupção e quase nenhum recurso investido em programas esportivos. Durante esse período, muitos críticos alertaram que não bastava investir nos “atletas prontos”, era necessário pensar em programas para uso das estruturas construídas e maior investimento na formação de novos atletas. Uma ótima análise sobre investimentos equivocados pode ser vista nesse texto do Thalles Valle. Penso que o esporte profissional não pode depender dos recursos públicos. O grande motivo dele ser “esporte profissional” é justamente ter interesses e recursos que possibilitem a profissionalização, como patrocínios, rendas de público e de direitos de transmissão. Caso contrário, seria esporte amador ou no máximo, esporte semiprofissional, com o atleta conciliando o esporte com outra profissão. Para ilustrar essa situação, basta lembrar dos modelos de investimento da antiga União Soviética e dos EUA, as grandes potências olímpicas. O modelo soviético, comunista, com o poder público investindo no esporte profissional demonstrou ser inviável. Não existem tantos recursos públicos assim. Já o modelo americano demonstrou ser mais viável, com o investimento público no esporte escolar, colegial e até universitário. Isto é, enquanto a criança, o adolescente e o adulto jovem estão em formação escolar ou acadêmica, conciliam as atividades esportivas. Após este período, seguirá a carreira profissional quem tiver futuro e mercado, reservado aos verdadeiros talentos esportivos. Os demais, no mínimo terão uma formação acadêmica para seguir uma profissão regular. Retornando a situação brasileira, vivemos numa encruzilhada. Dependemos de dinheiro público para sustentar a maioria das modalidades olímpicas. Até no futebol, que gera recursos privados suficientes para se manter, há grandes investimentos públicos, como a Petrobrás, Eletrobrás, Caixa Econômica, entre outras que provavelmente esqueci. Se as modalidades profissionais não são autossustentáveis com recursos privados, precisam encontrar outras formas de sobrevivência. O modelo americano, aliado às universidades me parece ser a melhor saída. Para isto funcionar no Brasil, a comunidade esportiva deverá se preocupar em parcerias entre clubes e universidades, para que os atletas consigam bolsas de estudo. Além disso, focar na melhor organização dos jogos universitários, desde o nível municipal, estadual e nacional, deixando de ser um evento cervejeiro, para ser um evento realmente esportivo. Assim, com organização e alto nível, poderá despertar o interesse de patrocínios e da mídia esportiva. Os grandes destaques esportivos acabarão encontrando oportunidades profissionais para seguirem suas carreiras, seja no Brasil ou no exterior. Para encerrar este texto, é interessante analisar o caso do futebol profissional masculino. O Campeonato Brasileiro está entre os 10 mais valorizados do mundo. Possui investimentos e salários altos até mesmo para os padrões europeus. No entanto, quase todos os clubes possuem dívidas com o governo federal e não são cobrados por isso, não como uma empresa comum seria. O que acontecerá se as empresas públicas cortarem estes investimentos? Acaba o futebol brasileiro? Não, mas será forçado a entrar numa realidade de “fechar a conta”, ou seja, gastar menos do que ganha e naturalmente trazer para a realidade os salários dos jogadores e comissões técnicas. Bem-vindos para a responsabilidade e eficiência na gestão do esporte!
Terminadas as eleições, já é especulado a possível nomeação de ministros e já se cogitam nomes para cargos de confiança visando compor uma equipe para 2019. Nestes rumores, é cogitado que a pasta do Esporte, seja agregada possivelmente à outra pasta já existente (não sendo esta uma informação oficial, sendo tão somente fruto de rumores).
Neste texto, vou levantar alguns pontos a serem considerados para o entendimento à cerca desta possibilidade (que pode não ocorrer), vale destacar que o texto exprime a opinião do autor e somente dele. O orçamento para 2018 do Ministério do Esporte é de cerca de 1,5 bilhões de reais. Sendo que até o momento foram gastos, cerca de 220 milhões de reais. 95,57% dos gastos do Ministério do Esporte em seus valores contratados dispensaram licitação. Sendo que do total gasto, 99% deles foram para pagamento de serviços. Dentro dos gastos informados, cerca de 80 milhões de reais, foram gastos com administração geral. Ou seja, o que disto, foi realmente revertido para o desenvolvimento esportivo no país? Apenas para comparar, em 2016, o programa Militar destinou cerca de 18 milhões de reais aos seus atletas de rendimento, sendo que dos 462 atletas brasileiros que participaram dos Jogos Rio 2016, 145 eram vinculados a este programa e das 19 medalhas obtidas, 13 foram conquistadas por competidores vinculados ao programa. Também para efeitos comparativos, embora as 19 medalhas (totais) do país, tenham representado seu melhor resultado em edições dos Jogos Olímpicos de Verão, vale recordar os resultados (totais) de edições anteriores como em 2012 Londres com 17, 2008 Pequim com 16, 2004 Atenas com 10, 2000 Sydney com 12 e 1996 Atlanta com 15, ocasião em que o Brasil enviou ao evento, menos da metade da delegação que disputou os Jogos do Rio. Estes são dados a serem considerados, pois nem sempre MAIS dinheiro, significa MELHORES resultados, uma vez que nem todo dinheiro destinado, tem como destinatário final, o desenvolvimento e avanço esportivos. O objetivo aqui não é o de menosprezar ou desqualificar os serviços prestados pelo Ministério do Esporte, mas sim de exprimir que a estrutura atual pode ser otimizada (como tudo sempre pode) e não significando que a possível junção desta pasta à outra já existente, signifique retrocesso no campo do esporte, pelo contrário, apenas um uso mais consciente do recurso, uma vez que o programa Militar funcionou apoiando atletas que obtiveram resultados expressivos na última edição olímpica, este pode ser um modelo que venha a funcionar. Enquanto não há um desenvolvimento sério do Esporte, com uma proposta decente que atrele o esporte ao ensino, será necessário selecionar talentos que basicamente se desenvolveram “sozinhos” e ajuda-los já praticamente na fase adulta. Nem de longe é o que o esporte nacional precisa, mas é o mais perto que se pode fazer no curto prazo. Considerando as outras prioridades do país, não seria o enxugamento de gastos do Ministério do Esporte, que faria as já precárias condições enfrentadas por muitos atletas brasileiros em seu dia-a-dia, que iriam piorar. E aí? O que será que Bolsonaro fará? Manterá a Pasta e os recursos, exatamente como estão? Migrará a pasta para outra já existente? Cortará cargos? Criará novos cargos? Vale lembrar que em seu programa de governo, não havia uma proposta direcionada especificamente ao Esporte. Mas caso o presidente venha a ler este texto, fica aqui o apelo para o uso consciente do dinheiro, fazendo com que ele chegue, onde mais é necessário, que seguramente, não deve de ser nos grandes salários de Brasília. |
Entidades Desportivas
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Abril 2023
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