Essa semana o texto é para falar sobre as medalhas e conquistas de quem trabalha com o esporte. Todos nós temos nossos momentos de orgulho e lembranças que guardamos com carinho. Aqueles momentos que fazem valer a pena trabalhar na gestão esportiva. Por isso, convidei um dos melhores jornalistas que eu conheço para falar sobre o assunto, então aproveitem o Beto Pacheco explicando o motivo de ser tão gratificante trabalhar com esporte, de uma forma que poucos conseguiriam fazer através de texto. Relato do Beto Pacheco (jornalista)Quando o Daniel Vila me convidou para escrever esse artigo para o seu espaço de debates sobre o esporte, fiquei pensando qual seria o tema. Minha área de formação é o Jornalismo e entrei para o esporte por um caminho similar ao dele: uma bolsa de extensão universitária (no caso, pós-graduação) na equipe administrativa do Geração Olímpica, programa de bolsa-atleta do Governo do Estado do Paraná. Foi lá, colegas de trabalho, que nos conhecemos. Isso ocorreu nos idos de 2014. "O tempo passa, o tempo voa", diria aquele antigo jingle de uma já finada empresa paranaense. Mas o programa no qual entramos como estagiários, ao contrário daquela saudosa empresa, segue "vivinho da silva", e muito bem. Em 2021 completa a sua 10ª edição. Minha trajetória profissional, em certa medida, se confunde com sua existência. Inicialmente contando com 250 atletas contemplados, lá em 2011, ano de sua fundação, atualmente apoia financeiramente cerca de 1.200 atletas e técnicos (pioneiro neste quesito) do Paraná, e em diferentes faixas etárias e estágios – da formação a estrelas de renome e títulos mundiais, olímpicos e paralímpicos. Nomes como os do maior jogador de vôlei de praia de todos os tempos, Emanuel Rego, fizeram parte de suas fileiras. E foi esse programa em especial que me proporcionou o grande momento da minha carreira: fazer a cobertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Lembro que, entre outras funções, eu e o Daniel estávamos encarregados da pesquisa de resultados para ver quais atletas e técnicos inscritos teriam direito à maior bolsa do programa, a Olimpo, que à época pagava R$ 4 mil por mês. Eram apenas 20 vagas e tínhamos que ter a certeza, pautados em dados, cartas, relatórios, resultados, em suma, tudo aquilo que corroborasse a convocação, ou não, de que determinada pessoa estava garantida para a disputa dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Daniel chegou ao ponto de traduzir um site da Bósnia e Herzegovina, país onde acontecia o Campeonato Mundial de Vôlei Sentado, para tentar decifrar se a seleção brasileira, que contava com três paranaenses, haveria de ter conseguido a tão sonhada vaga. Sim, ele conseguiu traduzir (Ave, Google!), acertou a análise e os três atletas foram para a Rio 2016. E Daniel acrescentou “tradução de bósnio” ao seu currículo. Se não o fez, está perdendo um grande filão. Dei essa volta, quase 42 km e 195 metros em texto, para, enfim, falar qual o tema desse ensaio: as oportunidades que o esporte cria. Como propicia experiências inacreditáveis, seu principal valor, mesmo que para a grande maioria não seja fruto de vultosos bens financeiros. Poder viajar o mundo, conhecer pessoas e lugares dos mais variados, trabalhar em eventos colossais, experimentar outras culturas e vivências é de fato o famoso “não tem preço” (para citar mais um slogan/jingle). E é assim dentro e fora das quadras. Afinal, todas as profissões adjacentes ao esporte acabam por ter oportunidades únicas, por vezes inigualáveis. Lembro bem do instante em que pisei no Parque Olímpico, naqueles dias Paralímpico, pela primeira vez. Foi para pegar a minha credencial de imprensa. O Beto dos primeiros dias à carteira da faculdade de Jornalismo, na PUC, não poderia imaginar que aquilo se concretizaria. Tenho-a até hoje, a credencial, com foto, dizeres e código de barras. É a minha medalha. No Rio, fiz parte de um time que produziria diariamente, ao vivo, o jornal da hora do almoço da TV é-Paraná (à época o nome da TV do Estado). Giovanna Pereira na apresentação; Fábio Freitas como repórter cinematográfico; Adriano Rattman na produção e captação de imagens e eu, produção, reportagens para os sites do Governo do Estado e também fazendo uma coluna diária para a Rádio Educativa, 97.1 FM. Também transmitimos ao vivo, aos domingos, um programa esportivo. Sempre falando dos resultados e histórias desses atletas do Geração Olímpica.
Vibrei aos berros (quebrando todos os protocolos jornalísticos e passando uma vergonha danada) na Tribuna de Imprensa quando, na piscina, Daniel Dias, vencedor do Prêmio Laureus e a maior lenda que o Brasil já produziu esportivamente, ganhou a sua 24ª medalha paralímpica. Logo abaixo de mim, naquela tribuna, estava um repórter oriental, possivelmente japonês, que, além de estar praguejando a minha falta de modos, em seu laptop escrevia freneticamente caracteres que iam “de cima para baixo” e não “da esquerda para a direita” na tela. Ali foi o derradeiro estalo daquela grandiosidade.
Seguiu ao lado, roda a roda, do irmão Eliseu (que tem a mesma doença) e de Dirceu Pinto (já falecido) até a final, a qual perderam. Usar aqui a expressão “infelizmente perderam”, definitivamente, não caberia. Se há uma situação em que a palavra vitória é suprema é nessa partida. O encontrei na zona mista logo após. Nos conhecíamos de longa data, afinal ele treina em um ginásio que fica na sede da Superintendência do Esporte, onde trabalho desde 2014. Fiz inúmeras reportagens, vídeos e entrevistas com ele ao longo dos anos. Logo que saíram de quadra, diversos veículos de imprensa, do mundo todo, os aguardavam. Eu era o último da fila. Eles foram atendendo um a um, com muita simpatia e imensa alegria. Ao meu lado, uma equipe da Rede Globo, cujo repórter naquela ocasião era o canoísta paralímpico, campeão mundial, Fernando Fernandes. Marcelo se deslocava para atender aos globais e eu seria o próximo. Foi quando a responsável pela assessoria de imprensa do evento anunciou que era “a última entrevista”. Suspirei, imaginando que a oportunidade de entrevistar o recém medalhista paralímpico tinha se ido. Marcelo ouviu a assessora e decretou: “Então vou atender ao Beto primeiro”. E assim o fez. Tive a minha entrevista e tirei uma das poucas fotos com entrevistados ao longo da minha profissão. Marcelo, Eliseu e Dirceu foram ao pódio. Não ouviram o hino na hora, pois só aos campeões é dado esse direito. Na sequência, encontrei com ele novamente na arquibancada, já de medalha de prata no peito. Assistimos juntos à vitória do Brasil na final de outra classe da bocha. O que aconteceu então estará sempre em minha memória e em um vídeo que gravei para um documentário. Marcelo Santos, medalha de prata, viu à sua frente a bandeira subir novamente (destinada oficialmente a outros brasileiros vencedores) e pôde, enfim, cantar o hino. E eu estava lado a lado com ele, no meu pódio. Ah, sim, e claro que aquela assessora deixou a Globo fazer a última entrevista. Esse foi o momento mais marcante da carreira do Beto Pacheco e seu? Deixe aqui nos comentários, adoraria saber qual é o momento que representa sua medalha.
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Quem está envolvido com o esporte sabe dos inúmeros desafios financeiros que as instituições enfrentam diariamente, principalmente para conseguir verba para manter ou expandir sua capacidade. Diante de instituições com recursos limitados, a comunicação muitas vezes é deixada de lado e, o foco do investimento é todo na parte técnica, como montagem de elenco, contratação de profissionais para treinamento, reabilitação e despesas com competições. Porém, como atrair um investidor, se não existe ninguém fazendo um relacionamento da equipe com a mídia? As empresas ainda buscam muito exposição de marca, então como um patrocinador vai apoiar um projeto que não aparece em lugar nenhum? Ainda mais hoje com redes sociais, que acabam oferecendo diversas ferramentas de divulgação. Eu particularmente se tivesse a frente de uma entidade esportiva, iria focar muito em divulgação e imprensa. Inclusive em alguns projetos que escrevi esse ano, percebi que mesmo na busca de dinheiro incentivado, a comunidade do esporte se preocupa muito com: material esportivo, treinamento e pouquíssimo em divulgar a empresa que irá apoiar o projeto.
Se você imaginar que estamos falando de um esporte muito tradicional e popular no Brasil, esses números assustam. Ainda mais falando de uma modalidade que necessita de cada vez mais uma expansão de sua divulgação, proporcional ao crescimento que ela vem tendo em praticantes. E não podemos dizer que o sucesso do voleibol é recente, como por exemplo o tênis, que teve seu crescimento no final dos anos 90, com o fenômeno Guga. Em 1984, quando a seleção brasileira masculina subiu ao pódio para ser premiada com a medalha de prata nos Jogos de Los Angeles, até a última imensurável conquista do ouro em 2016 no Rio de Janeiro, a modalidade vêm crescendo. Durante todo este tempo o que vimos foi um altíssimo crescimento na procura de crianças e adolescentes em busca de aprenderem o esporte e para ele dedicarem suas vidas, resultando assim no surgimento de inúmeras categorias de base do esporte espalhadas em escolinhas e clubes. Nas escolas o esporte cresceu nas aulas de educação física e professores começaram detectar talentos e indicar aos clubes, para que seus atletas pudessem crescer na modalidade e participar de competições que tomaram conta do país.
Isso valoriza imensamente os atletas, comissões técnicas e pode ser a melhor forma de manter ou conquistar um patrocinador, são eles que investem nas equipes com a possibilidade de contratação de atletas de altíssimo nível, além de possibilitar a estrutura do gerenciamento financeiro da equipe. O maior exemplo disso é o fim da equipe masculina de voleibol de Maringá, anunciado no ano passado, mesmo com um nome forte como o ex-campeão olímpico, o levantador Ricardinho gerindo o projeto, a falta de apoio foi essencial para o final do projeto: “Infelizmente, em um campeonato formado por gigantes, não tivemos o suficiente para brigar de igual para igual. Fizemos bonito, chegamos à sexta posição no primeiro ano, e nos outros dois tivemos uma boa atuação. Porém, sem patrocinadores, as edições seguintes foram marcadas por lutas constantes em busca de apoio da iniciativa privada e dos governos municipal e estadual”. Os resultados em quadra são importantes, mas para se obter e manter um patrocinador é essencial um excelente trabalho de comunicação. Como está o investimento nesse departamento em sua entidade?
O artigo de hoje é para auxiliar várias pessoas que tem boas ideias, mas não conseguem tirar elas do papel. Em parceria com a gestora do Projeto Maestro da Bola, Renata Pozzi, fizemos uma reflexão sobre como o projeto foi criado e executado, para trazer alguns pontos importantes que devem ser pensados antes de se iniciar um projeto. Contextualizando, o Projeto Maestro da Bola foi criado em 2017 pelo Ricardinho, ex-jogador de futebol com passagens marcantes pelo Paraná Clube, Bordeaux, Corinthians e campeão do mundo com a seleção brasileira em 2002.
Se hoje o projeto já cresceu e visa crescer ainda mais, houve uma construção e planejamento desde antes de sua execução, o que foi fundamental. A Ideia “O Ricardo, principalmente no auge, era muito chamado para ir em projetos sociais, conhecer as crianças e por várias vezes, foi convidado para ser padrinho de projetos. Ele fazia as visitas, mas nunca quis apadrinhar porque pensava ser necessário ter 100% de confiança no trabalho da entidade. Quando ele parou de jogar, nós começamos a desenhar um projeto que tivesse o nosso DNA, com as modalidades de futebol e futsal e com retorno ao município", conta Renata. Estudo e Formação
Adaptações Eu gostei bastante de ver que antes de estruturar o projeto houve uma grande pesquisa, penso que isso é essencial e possibilita alguns atalhos, como a Renata conta sobre a questão da sede e abrangência do projeto: "Todas as entidades que eu visitei tem sede própria, então nós começamos a discutir a estratégia de como chegar nessas crianças. Ter uma sede é muito bacana, você consegue atender com maior carga horária e desenvolver pessoas. Porém, ela onera na questão do recurso, é necessário muito capital para construir a sede, desenvolver colaboradores e no nosso entender ela acabaria limitando o acesso das crianças, por causa do deslocamento. As crianças teriam dificuldade de se deslocarem dos bairros delas até nossa sede. Então tivemos a ideia de aproveitar espaços públicos, Curitiba é uma cidade com vários parques, quadras e ginásios públicos. Então fomos na prefeitura e conseguimos fazer um termo de cooperação. Eles cedem os espaços e fazem a manutenção, as vezes até cedem professores e, o projeto entra com uniforme, realização de festivais, como a Copa Maestro que acontece o ano todo, palestras e uma série de outras ações, inclusive culturais, de acordo com o nosso planejamento”. Colocando em Prática Aqui vêm outro ponto chave, possivelmente o início é a parte mais crítica de um projeto desse tipo, mas iniciar pode ser a melhor forma de conseguir apoio conforme Renata contou que aconteceu com o projeto Maestro da Bola: “Para colocar em prática é necessário recurso, como o Ricardo queria muito fazer acontecer, ele tirou do bolso para o nosso núcleo inicial com 100 crianças. Então começamos a tentar contato com a iniciativa privada, buscar doações de amigos, foi um processo de “passar o chapéu” mesmo. O segredo é conseguir passar para os parceiros, para as pessoas, o mesmo entusiasmo que se tem para fazer o projeto”. Recursos
Iniciamos em 2017 dessa forma, nossa parceria com a prefeitura nunca envolveu repasse de recursos, então começamos com a iniciativa privada e hoje temos vários parceiros que nos apoiam com patrocínio direto. Com o passar do tempo fomos conseguindo pegar chancelas e certificados e começar a trabalhar com mais recursos, advindos de leis de incentivo públicas. Hoje temos recursos obtidos através de: Lei de Incentivo ao Esporte Federal, da Lei de Incentivo ao Esporte Estadual – Proesporte e em 2019 conseguimos recursos municiais para a equipe de deficiente visuais”. Desafios
Esse artigo te ajudou? Tem um projeto que você não consegue tirar do papel? Adoraria ler suas reflexões.
Ontem uma das melhores corridas dos últimos anos, deu início à temporada da Fórmula Um e com ela iniciou também a temporada de F1 Fantasy para aqueles mais apaixonados pelo esporte. No ano passado cerca de 15.500 usuários no Brasil participaram da brincadeira e no início dessa temporada o número já subiu para 15.700. Para quem não conhece, o chamado fantasy games é um estilo de jogo online onde os participantes criam e escalam equipes imaginárias de um esporte real. Com base no desempenho estatístico, os atletas recebem pontuações que somam para as equipes que os escalaram. Muito forte nos Estados Unidos o fantasy chegou na principal categoria de automobilismo em 2018, com certeza devido a nova proprietária, a Liberty Media, que é norte-americana. Para jogar só é necessário se cadastrar, escolher 1 equipe e 5 pilotos e torcer para que eles façam bons treinos e boas corridas. Ao término do final de semana, pelo desempenho nas pistas cada piloto recebe uma pontuação e a equipe de fantasy com a maior pontuação no final do ano é a campeã.
Funcionou comigo ano passado, especialmente porque eu comecei a ir bem, terminei na 57ª posição entre os 15 mil brasileiros que jogaram, ganhei as duas ligas que participei e por causa disso não perdi uma corrida e recentemente terminei a 3ª temporada da série Drive to Survive, que a categoria tem na Netflix. Com a NFL não é diferente, desde que comecei a jogar o fantasy em 2015 eu passei a ler mais e acompanhar mais o esporte que eu já gostava. Semanalmente acompanho as lesões, sugestões e alterações para tentar identificar quais os melhores jogadores para escalar. A interatividade que esse tipo de diversão proporciona me tornou um grande consumidor de Formula Um e NFL e meu gasto anual para isso é quase 0. Já as ligas capitalizam, ganhando fidelidade, público e com isso atraindo mais patrocinadores. Numa era em que o esporte busca mobilizar o público mais jovem e criar interatividade com os fãs, esse tipo de diversão pode ser um grande aliado. E você joga algum fantasy game?
Nesse final de semana começou a sétima temporada da Fórmula E. Idealizada em 2011, a ideia de Alejandro Agag e Jean Todt virou realidade em 2014. Ter a ideia de uma corrida de carros sustentáveis, para ajudar a criar um mundo melhor e mais limpo, há quase uma década, vamos combinar que é muito pioneirismo.
Isso me lembra um pouco a história da Fórmula 1, que tinha, e ainda tem, interesse das montadoras e demais empresas em desenvolverem produtos e tecnologias no limite extremo. A proposta da Fórmula E é bem clara, ser uma plataforma para empresas desenvolverem tecnologias relevantes, ajudando a refinar o design de veículos elétricos e a melhorar a experiência de direção para os usuários de carros de rua em todo o mundo. Hoje a categoria atrai as montadoras pela possibilidade de desenvolver uma nova tecnologia para automóveis, tecnologia essa que cada vez mais parece ter vindo para ficar. Além disso, a proposta de tecnologia e sustentabilidade da Formula E, que opta por correr apenas em ruas das cidades e não utilizar autódromos faraônicos, chama atenção também de empresas do ramo da tecnologia e de empresas relacionadas ou preocupadas com questões de sustentabilidade.
De tempos em tempos, surge uma velha máxima na imprensa, nas salas de aula ou mesmo nas rodas de amigos: o esporte é um reflexo/espelho da sociedade. Assim se justificam comportamentos dos mais diferentes atores deste universo: atletas, dirigentes, treinadores, torcedores. Escândalos, polêmicas, brigas, tudo acaba compreendido como uma continuação de atitudes que o envolvido ou a envolvida tem ou teria fora do escopo da prática de sua profissão ou na demonstração de pertencimento ao grupo do seu time preferido.
Porém não nos esqueçamos que sociedade é, numa definição básica, um agrupamento de indivíduos seguindo um padrão comum em determinado período de espaço e tempo. Ou seja, é composta por todas as ações desta coletividade. Deste modo, as decisões tomadas por homens e mulheres em seus trabalhos, perante sua família e amigos, no trânsito ou no estádio de futebol, não podem ser recortadas do todo e inseridas naquela situação específica, mas sim entendidas como o comportamento que ele ou ela apresenta em todos os âmbitos de convívio. Contextualização feita, passemos aos temas centrais deste texto. Recentemente, dois casos distintos ganharam notoriedade nas páginas esportivas do noticiário. No dia 20 de setembro, a jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, logo após conquistar o terceiro lugar no Circuito Brasileiro da modalidade, em Saquarema-RJ, se manifestou contrária ao presidente Jair Bolsonaro. No momento da premiação, ela gritou “fora, Bolsonaro” no microfone. Já em 10 de outubro, o Santos Futebol Clube anunciou a contratação do atacante Robinho, naquela que seria a terceira passagem deste pela Vila Belmiro. Mas o que seriam apenas mais dois fatos corriqueiros – a expressão da opinião de um atleta e uma negociação do mercado da bola – tomaram proporções muito superiores à esfera esportiva. Carol Solberg foi imediatamente execrada nas mídias sociais por defensores do presidente, e defendida em seguida por seus críticos. O retorno de Robinho aos holofotes fez com que fosse lembrada sua condenação por estupro na Itália em 2017, por um acontecimento de 2013. Solberg recebeu uma advertência do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com base no raso argumento de que sua manifestação poderia prejudicar a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e seus patrocinadores, como se uma opinião pessoal fosse superior à reputação das instituições (não que a da CBV seja muito limpa, mas isso é assunto para depois). O presidente do STJD Otacílio Araújo, ignorando completamente o fato de a arena de jogo fazer parte da sociedade, também afirmou ser “errada” a fala inserida dentro da quadra. Felizmente, num lapso de consciência, o STJD absolveu-a no último dia 16. A condenação seria extremamente perigosa para justificar posteriores cerceamentos a manifestações de liberdade de expressão, seja no esporte ou fora dele. A decisão de um órgão superior de justiça pode encorajar ações similares de outras instituições, que, não raramente, interpretam textos e julgamentos à sua própria luz, a fim de justificar opiniões controversas cujas defesas, em certos casos, chegam a tangenciar o absurdo. O Santos, por sua vez, errou ao não considerar a imagem de Robinho para a contratação – ou pensou que seus torcedores o idolatravam a ponto de ignorar uma condenação por crime hediondo. O próprio clube desprezou tal fato, diga-se, e só cancelou o acerto com o atacante após perder patrocinador e quase perder outros. Isto é, pouco importou Robinho ser um criminoso condenado, impedido de pisar na Itália, muito menos a saúde física e mental da vítima. O Santos Futebol Clube só desistiu do negócio quando sentiu no bolso. A empresa que rompeu o contrato de patrocínio com o clube do litoral paulista é do ramo de odontologia estética, e justificou o fim da parceria pelo fato de a maioria de seus clientes ser mulher, assim como a vítima de Robinho. A observação de um padrão comum em determinado período de espaço e tempo, portanto. Outros patrocinadores lançaram comunicados oficiais deixando claro não tolerar violência, sobretudo contra a mulher. Nunca houve, como nos anos recentes, tantas manifestações contrárias aos abusos contra mulheres. O movimento #MeToo surgiu entre profissionais femininas de Hollywood e encorajou vítimas no mundo todo a exporem seus casos e denunciarem seus agressores. A sociedade contemporânea já não tolera mais tal comportamento, ainda que o criminoso seja um jogador de futebol famoso, ídolo de um dos times mais populares do país. O mesmo vale para o episódio envolvendo Carol Solberg. Ela tem total direito de expor sua opinião enquanto pratica sua atividade profissional, mesmo sofrendo ameaças – de morte, inclusive – e com a propagação de notícias falsas envolvendo seu nome. A sociedade brasileira atual não está preparada para ser contrariada, tomando para si aquilo que julga como verdade absoluta – e ai de quem pensar diferente. Por isso é muito importante a absolvição da atleta, uma vez que a própria existência de julgamento neste caso já é por si só um despropósito. Sociedade é algo único, indissociável. Não existe a sociedade do esporte, a sociedade do trabalho, a sociedade da família. Nossas atitudes e pensamentos são únicos, e as decisões que tomamos são elos de uma mesma corrente. Para a engrenagem não enguiçar é necessária a existência de opiniões conflituosas, de discordâncias, mas com respeito às normas vigentes. Exaltar um estuprador e proibir manifestações políticas entram na categoria de atendados à liberdade e ferem o convívio social. Não deveriam sequer serem cogitadas, portanto. Olá, amigos e amigas. Que bom estar de volta! Nestes dois anos ausente do Portal, me casei com a Layla e me tornei pai da Ana Lívia e “paidrasto” do Samuel. E o mundo foi à lona, nocauteado por um inimigo invisível. Que esta pandemia acabe logo e soframos o mínimo possível. Porém alguns cenários são os mesmos do meu último texto até hoje. Neste caso específico, a situação segue inalterada desde 2011: a comercialização dos naming rights pelo Corinthians de sua arena.
No dia 30 de maio daquele ano, precisamente às 8h14, a construção do estádio foi iniciada. Já com a promessa de sediar a Copa do Mundo FIFA 2014, o alvinegro paulista, recém eliminado na fase classificatória aos grupos da Libertadores pelo desconhecido Tolima da Colômbia, começava a concretizar um de seus maiores objetivos nos, até então, 101 anos de história. O local não poderia ser mais emblemático: a Zona Leste da capital do Estado, berço da torcida corintiana. Além do andamento das obras, um termo pouco comum aos ouvidos brasileiros começou a ganhar espaço na imprensa esportiva: naming rights. Em tradução direta, direitos de nomeação. No escopo do marketing, é o direito de uma marca ou empresa de nomear o espaço ou evento em questão, em troca de uma quantia significativa de dinheiro. No Brasil, o exemplo mais conhecido no esporte é o Allianz Parque, arena pertencente ao Palmeiras. Porém os mais antigos se lembram do Free Jazz Festival ou do Hollywood Rock, quando os naming rights foram explorados na área de eventos culturais. Os naming rights vão além de simplesmente pagar pelo direito de batizar determinado estádio, arena ou evento. Permite à corporação explorar comercialmente o espaço, podendo nomear também setores específicos, como camarotes, salas de imprensa e vestiários, a fim de exibir o leque de produtos que fazem parte de seu portfólio. Por exemplo, a Unilever pode comprar os naming rights de um estádio e batizar um lado das arquibancadas de “setor Dove” e o outro de “setor Rexona”. Tudo, evidentemente, de acordo com o contrato assinado junto ao detentor do local. Deste modo, investir em naming rights pode se tornar uma excelente maneira de a empresa se firmar na memória dos consumidores e, consequentemente, ser a escolhida na hora de encher os carrinhos pelas gôndolas do supermercado. Naming rights, portanto, também atuam no sentido de criar preferência de compra e criar conexões afetivas entre consumidores e marca, haja vista a carga emocional que o esporte carrega consigo. Mas para que tal situação seja bem-sucedida, é preciso, antes de tudo, fixar o novo nome do espaço entre o grande público e a mídia. Um exemplo de fracasso dos naming rights se deu logo no primeiro caso do tipo no Brasil. Em 2005, o Athlético Paranaense vendeu o nome de sua arena à fabricante asiática de celulares Kyocera. Porém a Kyocera Arena era assim chamada por poucos. Os demais interessados no estádio o nomeavam pelo apelido, famoso até hoje: Arena da Baixada. Conclusão: em 2008, o próprio Athlético desfez o contrato, em busca de um parceiro mais lucrativo. Não conseguiu. A Kyocera Arena não foi eficaz em estabilizar sua marca entre os torcedores, o que talvez tenha refletido na baixa rentabilidade da sociedade. Precavido, o Corinthians tem em contrato com a Rede Globo, principal detentora dos direitos de transmissão do futebol brasileiro, que a emissora deverá chamar sua arena pelo nome definido após a venda dos naming rights, independentemente de qual corporação os adquirir. O objetivo é evitar casos como o do rival Palmeiras, cujo Allianz Parque é tratado por Arena Palmeiras na líder de audiência dos televisores nacionais. Ou, ainda, o da Red Bull, que tem sua escuderia da Fórmula 1 Red Bull Racing chamada de RBR pela mesma emissora. Se o Corinthians venderá realmente os naming rights de sua arena, não se pode afirmar. Porém esta chama, que parecia apagada, formou uma nova faísca nas últimas semanas. O apresentador da TV Bandeirantes Neto cravou o negócio fechado e, desde então, as especulações em torno do possível comprador só fazem aumentar, bem como as expectativas do torcedor alvinegro de, enfim, ver o clube aliviar suas contas. O tempo confirmará ou não o furo de reportagem. Em caso positivo, resta saber se o clube paulista e a empresa saberão monetizar a parceria. Frequentemente indico filmes para meus alunos da faculdade de Educação Física, como forma de ilustrar e aprofundar alguns ensinamentos do meio esportivo. Quase todos são baseados em fatos reais. Acredito que vale a pena reservar umas duas horas para assistir cada um, pois os conteúdos vão além do esporte, com fatos históricos que nos ajudam a entender os dias atuais. Em tempos de pandemia, esta lista poderá tornar mais proveitoso os horários livres. *Infelizmente nem todos os trailers estão com legenda em português. 1 – O homem que mudou o jogo – Moneyball (2011)2 – Duelo de Titãs – Remember the Titans (2000) 3 – Ícaro – Icarus (2017) 4 – Borg vs McEnroe (2017) 5 – Rush: no limite da emoção – Rush (2013) 6 – A grande escolha – Draft Day (2014) 7 – Todos os corações do mundo – Two billion hearts (1995) 8 – Somos Marshall – We are Marshall (2006) 9 – Um homem entre gigantes – Concussion (2016) 10 – Invictus (2009) 11 – Munique – Munich (2005) 12 – Senna (2010) 13 – Hooligans (2005) Os filmes abaixo, eu ainda não vi, mas me indicaram. Estão por ordem de lançamento.
Será que faltou algum filme importante? Tem outras sugestões?
Com o término do ano se aproximando, muitos se questionam à cerca do quanto ganham os atletas profissionais, ou ainda, qual o atleta mais bem pago.
Embora no imaginário popular os jogadores de Futebol sejam os melhores pagos no Esporte (o que não é tão inexato), eles nem de longe, atingiram a vultuosa cifra de Floyd Mayweather, que em 2018 abarcou cerca de 285 milhões de dólares em sua conta, tendo sido de acordo com o site USA Today e também, Ranking da Forbes, como o atleta mais bem pago do ano de 2018. Não é novidade uma vez que Mayweather liderou o Ranking em 2015, 2014 e 2013. Em 2016, Cristiano Ronaldo liderou a lista, que hoje, ocupa a terceira posição com incríveis 108 milhões de dólares ao ano. Embora os futebolistas não estejam liderando a lista atual, quando considerando os 10 mais bem pagos do ano de 2018, eles são maioria dentre os esportes, com 3 representantes (Messi #2 com 111 milhões de dólares; C. Ronaldo #3 com 108 milhões de dólares; Neymar Jr. #5 com 90 milhões de dólares), seguidos do Basquete com 2 representantes (Lebron James #6 com 85,5 milhões de dólares e Stephen Cury #8 com 76,9 milhões de dólares) e do Futebol Americano também com 2 representantes (Matt Ryan #9 com 67,3 milhões de dólares e Matthew Stafford #10 com 59,5 milhões de dólares). Sempre presente, o tenista Roger Federer ocupa neste ano a posição #7 com 77,2 milhões de dólares e o lutador de MMA Conor McGregor a #4 com 99 milhões de dólares. Todos estes atletas ganham vultuosas quantias financeiras por meio de patrocinadores e propaganda. Já o tenista e os lutadores contam ainda com a premiação de seus certames e ainda, participação em bancas de apostas. É... talvez seja a hora de colocar as filhas e filhos para praticar mais esportes!!! Fontes: https://www.usatoday.com/picture-gallery/sports/2018/06/06/forbes-top-10-highest-paid-athletes/35765295/ https://www.forbes.com/athletes/#3fe8863e55ae Olá, amigos e amigas. Desculpem-me a ausência de textos no portal, outros compromissos foram passando na frente, e então me dei conta que já faziam cinco meses desde o último. Aliás, agradeço a repercussão positiva que este alcançou. Ao trabalho! Imagine-se torcedor de um time da série A, mas com passaporte quase carimbado à segunda divisão faltando, digamos, 15 rodadas para o fim do Brasileirão. Destas, 8 serão em casa, no estádio onde você possui afetuosas memórias de infância. A diretoria toma decisões questionáveis, o técnico parece perdido, e o elenco não enche os olhos de ninguém. Você é apaixonado pelo seu time*, mas não um fanático. Ou seja, frequenta o estádio de vez em quando, compra uma camisa ou chaveiro, mas coloca outras pautas em prioridade na sua escala de atenção e preocupação. O próximo jogo é em casa, contra um adversário direto na zona de rebaixamento, e os ingressos estão com preços promocionais. Um amigo lhe convida a irem assistir à partida, você se anima. Porém olha a previsão do tempo: chuva com trovoada. As arquibancadas são descobertas. As ruas que dão acesso ao estádio são estreitas, engarrafamentos são constantes, não há estacionamento, ônibus só a 2km de distância. Sem contar as filas do sujo banheiro e da lanchonete – que cobra 30 reais por um sanduíche frio e uma cerveja sem álcool. Você e seu amigo desistem de ir ao jogo, assim como outros tantos torcedores, e, o futebol sofrível será testemunhado por apenas uns 3 mil corajosos – a capacidade do estádio é de 35 mil. Vamos a outro cenário. Sua nacionalidade é norte-americana, seu time preferido é de basebol. Novamente, você é um apaixonado, não fanático. A equipe não chega sequer aos playoffs a 40 anos, o elenco é carente de estrelas e, na atual temporada, as perspectivas são desanimadoras: 18 derrotas em 30 jogos. Mas a última vez que as arquibancadas do estádio local não estiveram lotadas em todas as partidas foi em 1998. Você é um dos responsáveis, pois assistiu in loco a 83% dos jogos em casa este ano. Se o time vai mal, a lógica é o público se esvair das arenas, conforme visto no cenário brasileiro fictício do texto, bem como no real, por exemplo, com somente 3.614 pagantes assistindo ao melancólico 0 X 0 entre Vitória X Grêmio pela 37ª rodada do Brasileirão, que selou a queda dos baianos. Os dirigentes do futebol brasileiro parecem acostumados a tal situação, e, a receita já é conhecida por todos: time em má fase, ingresso quase de graça. É como se a própria diretoria assinasse um atestado de incompetência e reconhecesse a falta de qualidade do elenco, pois julga que 5 ou 10 reais é o suficiente para ver aqueles 11 patetas. E o valor também seria, na ótica deles, adequado aos apertos do estádio – chuva, brigas, trânsito, jogo às 22h. Do mesmo modo, o torcedor é, para os cartolas, um chimpanzé amestrado cujo único fator decisivo sobre ir ou não ao estádio seria o preço. Mas, então, o cenário norte-americano é uma mentira? É impossível ter um estádio lotado com o time a duras penas? Não, muito pelo contrário. Basta compreender que o local da prática esportiva, seja um estádio, ginásio ou arena, não se comporta somente como tal. Isto é, deve ser encarado como um espaço de entretenimento, no qual o jogo é apenas uma das atrações. O torcedor considera todas as experiências vividas no estádio, não somente o embate entre seu time e o rival. Se o time vai mal mas lhe são oferecidas cadeiras confortáveis, cobertura, shows musicais, alimentação de qualidade, transporte público na porta, fan experience, atrações infantis, a probabilidade de retorno é maior do que se o time viver época vitoriosa, mas a ida ao local do jogo for desastrosa, com brigas, intimidação policial, tumulto nas catracas etc. Por conta disso, o cenário do torcedor de basebol norte-americano cujo time vai de mal a pior pode soar estranho ao brasileiro, mas é algo bastante corriqueiro nas ligas de lá. Ir a uma partida da MLB, NBA ou NFL é um programa da família, que toma o dia todo, quando não o final de semana. Uma cena comum é ver grupos fazendo churrasco e bebendo no estacionamento dos estádios nos EUA (tailgate), compartilhando emoções e experiências com desconhecidos.
Os dirigentes esportivos de lá entendem que o estádio ou a arena são uma fonte de sociabilidade, que ativam lembranças positivas, afeto, bem como o amor que o torcedor sente pelo time. Todos esses fatores são benéficos ao consumo, e tendem a fazer com que o espectador retorne ao local. Isto é, falta aos cartolas brasileiros a percepção de que o estádio é uma importante fonte de receitas, com enorme potencial a ser explorado pelo time e pelos patrocinadores. Desta maneira, é preciso pensar o ambiente da prática esportiva como uma engrenagem capaz de satisfazer o torcedor desde o momento em que compra o ingresso online, até a volta para casa. Acordos com prefeituras a fim de se melhorar as vias de acesso e as linhas de transporte, por exemplo, são algo além do esporte, mas, em uma perspectiva macro, ajudam a experiência do público a ser positiva. Fidelizar o torcedor não é só cobrar preço de banana quando o time precisa ganhar. *Para saber mais sobre classificações de torcedores, procure por artigos científicos com o tema Fan Typology ou Fan Category. |
Comunicação e Marketing
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Maio 2022
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