O episódio da suposta escalação irregular do uruguaio Carlos Andrés Sanchez na última semana pela Copa Libertadores traz à tona a precariedade das ações de organização do departamento administrativo de alguns clubes brasileiros, bem como da própria entidade organizadora a Conmebol.
O técnico Cuca em entrevista após o término da partida que culminou com a eliminação dos Santos na Copa Libertadores 2018, foi enfático: "Eu posso ser mandado embora, mas vou falar. O Santos tem que melhorar muito profissionalmente, internamente, muito, não é pouca coisa não. Isso que ocorreu é um erro muito grave e muito grande, é 'beabá' do futebol, de situações.... Isso resulta em tudo que aconteceu hoje. O torcedor já veio louco da vida para o jogo. A gente veio sem poder dormir. Precisamos melhorar e muito. Eu quero o bem do Santos", afirmou Cuca (Esporte UOL). Mas o que de fato aconteceu? O atleta estava de fato irregular? O Santos é o único responsável? E a Conmebol porque não agiu para prevenir o ocorrido? Pois é! Podemos concluir que sim para as questões acima. Por incrível que pareça na nossa maior competição continental ocorrem situações como essa, que expõem a fragilidade da organização e gestão do nosso futebol. Inadmissível que a Confederação Sul Americana de Futebol não tenha um sistema eficaz que previna a escalação de atletas irregulares pelos clubes. Com isso numa competição milionária, recheada de patrocinadores, a Conmebol “perde a mão” em sua gestão ao não investir na segurança jurídica e organizacional de suas competições. Os erros continuam ao criar um regulamento em que o clube punido por se beneficiar com uma escalação irregular de atleta ainda tenha chances de reverter o revés e buscar a classificação. Oras se o atleta foi considerado irregular o Santos deveria ter sido eliminado de plano. Em razão disso se criou um clima de extrema animosidade entre a torcida santista que foi a campo como se fosse para uma guerra. Resultado: partida que foi encerrada por falta de condições de segurança. Feitas essas considerações nota se que a Conmebol possui uma série de problemas de organização e administração desportiva. Mas é preciso reconhecer que o maior culpado nessa história toda é de fato o Santos Futebol Clube e seu respectivo departamento jurídico que não observou se o atleta tinha pena a cumprir por força da expulsão ocorrida quando jogava com a camisa do River Plate da Argentina. Sem a devida prudência, o Santos FC acreditava que o sistema da Conmebol dava condições de jogo ao atleta, o chamando sistema Comet! Oras, bastava ao clube santista ter enviado à Conmebol um ofício para se certificar que os novos inscritos na Copa Libertadores da América tinham condições de jogo. Essa prática é recorrente entre os clubes de futebol em todos as categorias de competições, onde certidões são emitidas pelos tribunais desportivos para fins de certificar os antecedentes desportivos dos atletas. Nesse contexto, resta claro que a fala do técnico Cuca representa bem a realidade dos fatos ao implicar seus pares do clube pela omissão em não investigar o passado disciplinar do atleta Carlos Sanchez, sendo que esse tipo de levantamento é algo corriqueiro dentro do futebol. E mais grave! Com tantos meios de comunicação se torna até algo fácil e rápido de se fazer. O clube joga milhões de dólares pelo ralo em razão da simples falta de um documento que apontasse a irregularidade do atleta. Enquanto a diretoria santista se explica, o seu torcedor sofre com a eliminação precoce de um clube que não consegue se organizar. Típico retrato de muitos clubes do futebol brasileiro.
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Contabilidade e Direito Desportivo
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Julho 2023
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