Nós, torcedores apaixonados, ficamos empolgados ao irmos ao estádio e acompanhar nosso time de perto. Seja jogo em casa, fora, meio do campeonato ou em alguma decisão importante, sempre damos um jeito de estarmos presentes. Porém, sabemos que as coisas complicam um pouco quando colocamos na ponta do lápis o valor do ingresso, estacionamento na região, alimentação e acima de tudo, segurança. Tendo isso em vista, hoje trago algumas informações para entendermos como o nosso país do futebol se comporta em relação ao mundo quanto à experiência que oferece na hora de irmos aos estádios. Para começarmos a termos ideia de quanto vale, monetariamente, um jogo em casa para os clubes, vemos em pesquisa feita por Guilherme Maniaudet e Leandro Silva (Globo Esporte, 08/07/2022) que nos 20 primeiros jogos como mandante em 2022, o Corinthians já recebeu cerca de R$ 48 milhões em bilheteria, com o ticket médio a R$ 69,19. A média dos 10 times que mais arrecadaram em bilheteria em 2022 é de R$ 25 milhões em cerca de 19 jogos em casa. Segundo a pesquisa dos mesmos jornalistas, nesse ano de 2022 o Brasileirão começou com a maior média de público dos últimos 10 anos. Após 2 anos com portões fechados por conta das restrições da pandemia, os clubes voltam a ter o respiro da arrecadação com venda de ingressos, que podemos ver que é um valor altíssimo. Até esse momento do Brasileirão, a média de público está em 19.477 pagantes/jogo, comparado a 17.987 em 2019, 15.412 em 2018 e 14.095 em 2017. Agora em relação ao valor médio dos ingressos no Brasil, entre esses 10 times, chegamos a R$ 47,63. Em 2019, para os mesmos 10 clubes, a média era de R$ 40,80. Mas, para termos uma melhor visão de quanto isso significa na renda dos brasileiros, vamos fazer uma proporção entre salário-mínimo x valor pago para assistir a um jogo. Hoje o salário-mínimo no Brasil é de R$ 1.212,00, ou seja, considerando o ticket médio do Corinthians de R$ 69,19, você estaria gastando 5,70% do salário-mínimo para ir ao jogo, sem contar locomoção, alimentação, etc. Em 2018, Lorenzo Corrêa Meyer (Gazeta Esportiva), mostrou dados do relatório financeiro da UEFA, analisando quanto custava ir a um jogo de futebol nas ligas da Europa, somando o ingresso alimentação, transporte e outros (valores em Euro). Para comparar com o valor do Brasil em 2018 também, foi feita essa proporção salário-mínimo x ticket médio. Lembrando que o valor do ticket médio do Brasil inclui somente o ingresso, ao contrário das ligas europeias. Lorenzo Corrêa ainda faz a relação considerando para o brasileiro um valor de R$ 39,90 - incluindo ingresso, alimentação, transporte e outros – o que nos faz chegar a 4,25% do salário mínimo da época (2018), com o Brasil assim liderando o ranking de país com a experiência mais cara para o torcedor acompanhar um jogo em comparação às principais ligas europeias. E vamos combinar, considerando o preço de uma passagem de ônibus em São Paulo (2018) de R$ 4,00, mais uma água no estádio em torno de R$ 4,00 também, chegamos facilmente a esse incremento de R$ 7,90 no custo médio de R$ 32,00 do ingresso. Esse estudo ainda vai além, fazendo essa proporção também com os grandes times europeus. Em 2018, com R$ 20,00 a mais em transporte e alimentação, assistir a um jogo do Palmeiras e Flamengo, saia mais caro, proporcionalmente, do que assistir um jogo do Real Madrid, o qual era o mais caro da Europa (2018). Hoje, o ticket médio para um jogo do Real Madrid é de € 80,53, sendo o salário mínimo da Espanha de € 1.050,00 - 7,66% (somente ingresso). Com a média de R$ 59,47 para um jogo do Palmeiras (2022), e o salário mínimo do Brasil a R$ 1.212,00, sai a 4,90% (somente ingresso). Vamos agora nos aprofundar na questão da ocupação dos estádios. Vimos que mesmo com o ticket médio a R$ 69,00, o Corinthians arrecadou R$ 48 milhões em bilheteria em 20 jogos esse ano. O brasileiro lota ou não seus estádios? Mesmo com a maior média de público no começo do Brasileirão desde 2013 (19.477 pagantes/jogo), o Brasil fica em 5º lugar quando comparado às principais ligas do mundo (2022). A Bundesliga é o campeonato com maior média de público desde 2013, com cerca de 41.516 pagantes/jogo. Isso acontece porque os clubes na Alemanha oferecem ingressos baratos para que os estádios estejam sempre cheios. Nessa temporada 2021/22, por conta das restrições da pandemia no país, os estádios aparecem bem mais vazios. Quanto aos clubes individuais, o Flamengo é o time com maior média de público do Brasil, com cerca de 55.573 pagantes/jogo na temporada 2021/22. Porém, é uma exceção no nosso país, onde seu principal campeonato, Série A do Brasileirão, não teve nem metade dos ingressos vendidos nos últimos 5 anos de disputa (excluindo 2020/2021 por conta da pandemia). O Corinthians em 2019, por exemplo, foi o segundo clube com maior média de público, sendo essa de 33.143 pagantes/jogo. Em 2019, último ano de estádios 100% abertos ao público, o Brasil apresentou em percentual de ocupação nos estádios (Globo Esporte, 2019):
Em 2014, em levantamento feito pela Pluri Consultoria, o Brasil aparecia em 15º lugar em relação às médias de público do mundo entre vinte campeonatos de futebol, ficando atrás de países pouco tradicionais no futebol como China, Japão e Estados Unidos. Em 2019, alguns dados ainda se repetem - Brasil (média de 19.551 pagantes/jogo) atrás dos Estados Unidos (média de 24.488 pagantes/jogo) e China (média de 23.234 pagantes/jogo). Já frequentei estádios na Coréia do Sul, China e Estados Unidos, e em todos esses, tive experiências incríveis em relação à segurança e lazer. É mais do que um jogo, é um evento, e obviamente que os Estados Unidos são os experts nesse assunto. Infelizmente, além de caro, ir ao estádio no Brasil é muito perigoso, não é um evento para a família, muitas vezes locais de difícil acesso (estacionamento, transporte público) e horários inviáveis, quando durante a semana 21h00, por exemplo. O Brasil precisa melhorar essa experiência, se mesmo falha já rende cifras milionárias, imagine se bem estruturada. O atrativo do jogo em si nós já temos.
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Setembro 2022
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