Essa semana o texto é para falar sobre as medalhas e conquistas de quem trabalha com o esporte. Todos nós temos nossos momentos de orgulho e lembranças que guardamos com carinho. Aqueles momentos que fazem valer a pena trabalhar na gestão esportiva. Por isso, convidei um dos melhores jornalistas que eu conheço para falar sobre o assunto, então aproveitem o Beto Pacheco explicando o motivo de ser tão gratificante trabalhar com esporte, de uma forma que poucos conseguiriam fazer através de texto. Relato do Beto Pacheco (jornalista)Quando o Daniel Vila me convidou para escrever esse artigo para o seu espaço de debates sobre o esporte, fiquei pensando qual seria o tema. Minha área de formação é o Jornalismo e entrei para o esporte por um caminho similar ao dele: uma bolsa de extensão universitária (no caso, pós-graduação) na equipe administrativa do Geração Olímpica, programa de bolsa-atleta do Governo do Estado do Paraná. Foi lá, colegas de trabalho, que nos conhecemos. Isso ocorreu nos idos de 2014. "O tempo passa, o tempo voa", diria aquele antigo jingle de uma já finada empresa paranaense. Mas o programa no qual entramos como estagiários, ao contrário daquela saudosa empresa, segue "vivinho da silva", e muito bem. Em 2021 completa a sua 10ª edição. Minha trajetória profissional, em certa medida, se confunde com sua existência. Inicialmente contando com 250 atletas contemplados, lá em 2011, ano de sua fundação, atualmente apoia financeiramente cerca de 1.200 atletas e técnicos (pioneiro neste quesito) do Paraná, e em diferentes faixas etárias e estágios – da formação a estrelas de renome e títulos mundiais, olímpicos e paralímpicos. Nomes como os do maior jogador de vôlei de praia de todos os tempos, Emanuel Rego, fizeram parte de suas fileiras. E foi esse programa em especial que me proporcionou o grande momento da minha carreira: fazer a cobertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Lembro que, entre outras funções, eu e o Daniel estávamos encarregados da pesquisa de resultados para ver quais atletas e técnicos inscritos teriam direito à maior bolsa do programa, a Olimpo, que à época pagava R$ 4 mil por mês. Eram apenas 20 vagas e tínhamos que ter a certeza, pautados em dados, cartas, relatórios, resultados, em suma, tudo aquilo que corroborasse a convocação, ou não, de que determinada pessoa estava garantida para a disputa dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Daniel chegou ao ponto de traduzir um site da Bósnia e Herzegovina, país onde acontecia o Campeonato Mundial de Vôlei Sentado, para tentar decifrar se a seleção brasileira, que contava com três paranaenses, haveria de ter conseguido a tão sonhada vaga. Sim, ele conseguiu traduzir (Ave, Google!), acertou a análise e os três atletas foram para a Rio 2016. E Daniel acrescentou “tradução de bósnio” ao seu currículo. Se não o fez, está perdendo um grande filão. Dei essa volta, quase 42 km e 195 metros em texto, para, enfim, falar qual o tema desse ensaio: as oportunidades que o esporte cria. Como propicia experiências inacreditáveis, seu principal valor, mesmo que para a grande maioria não seja fruto de vultosos bens financeiros. Poder viajar o mundo, conhecer pessoas e lugares dos mais variados, trabalhar em eventos colossais, experimentar outras culturas e vivências é de fato o famoso “não tem preço” (para citar mais um slogan/jingle). E é assim dentro e fora das quadras. Afinal, todas as profissões adjacentes ao esporte acabam por ter oportunidades únicas, por vezes inigualáveis. Lembro bem do instante em que pisei no Parque Olímpico, naqueles dias Paralímpico, pela primeira vez. Foi para pegar a minha credencial de imprensa. O Beto dos primeiros dias à carteira da faculdade de Jornalismo, na PUC, não poderia imaginar que aquilo se concretizaria. Tenho-a até hoje, a credencial, com foto, dizeres e código de barras. É a minha medalha. No Rio, fiz parte de um time que produziria diariamente, ao vivo, o jornal da hora do almoço da TV é-Paraná (à época o nome da TV do Estado). Giovanna Pereira na apresentação; Fábio Freitas como repórter cinematográfico; Adriano Rattman na produção e captação de imagens e eu, produção, reportagens para os sites do Governo do Estado e também fazendo uma coluna diária para a Rádio Educativa, 97.1 FM. Também transmitimos ao vivo, aos domingos, um programa esportivo. Sempre falando dos resultados e histórias desses atletas do Geração Olímpica.
Vibrei aos berros (quebrando todos os protocolos jornalísticos e passando uma vergonha danada) na Tribuna de Imprensa quando, na piscina, Daniel Dias, vencedor do Prêmio Laureus e a maior lenda que o Brasil já produziu esportivamente, ganhou a sua 24ª medalha paralímpica. Logo abaixo de mim, naquela tribuna, estava um repórter oriental, possivelmente japonês, que, além de estar praguejando a minha falta de modos, em seu laptop escrevia freneticamente caracteres que iam “de cima para baixo” e não “da esquerda para a direita” na tela. Ali foi o derradeiro estalo daquela grandiosidade.
Seguiu ao lado, roda a roda, do irmão Eliseu (que tem a mesma doença) e de Dirceu Pinto (já falecido) até a final, a qual perderam. Usar aqui a expressão “infelizmente perderam”, definitivamente, não caberia. Se há uma situação em que a palavra vitória é suprema é nessa partida. O encontrei na zona mista logo após. Nos conhecíamos de longa data, afinal ele treina em um ginásio que fica na sede da Superintendência do Esporte, onde trabalho desde 2014. Fiz inúmeras reportagens, vídeos e entrevistas com ele ao longo dos anos. Logo que saíram de quadra, diversos veículos de imprensa, do mundo todo, os aguardavam. Eu era o último da fila. Eles foram atendendo um a um, com muita simpatia e imensa alegria. Ao meu lado, uma equipe da Rede Globo, cujo repórter naquela ocasião era o canoísta paralímpico, campeão mundial, Fernando Fernandes. Marcelo se deslocava para atender aos globais e eu seria o próximo. Foi quando a responsável pela assessoria de imprensa do evento anunciou que era “a última entrevista”. Suspirei, imaginando que a oportunidade de entrevistar o recém medalhista paralímpico tinha se ido. Marcelo ouviu a assessora e decretou: “Então vou atender ao Beto primeiro”. E assim o fez. Tive a minha entrevista e tirei uma das poucas fotos com entrevistados ao longo da minha profissão. Marcelo, Eliseu e Dirceu foram ao pódio. Não ouviram o hino na hora, pois só aos campeões é dado esse direito. Na sequência, encontrei com ele novamente na arquibancada, já de medalha de prata no peito. Assistimos juntos à vitória do Brasil na final de outra classe da bocha. O que aconteceu então estará sempre em minha memória e em um vídeo que gravei para um documentário. Marcelo Santos, medalha de prata, viu à sua frente a bandeira subir novamente (destinada oficialmente a outros brasileiros vencedores) e pôde, enfim, cantar o hino. E eu estava lado a lado com ele, no meu pódio. Ah, sim, e claro que aquela assessora deixou a Globo fazer a última entrevista. Esse foi o momento mais marcante da carreira do Beto Pacheco e seu? Deixe aqui nos comentários, adoraria saber qual é o momento que representa sua medalha.
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Setembro 2022
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