A paixão de um indivíduo por um time de futebol normalmente é despertada logo na infância, quando o garoto ou garota já conquista certa autonomia e capacidade de compreensão do mundo a seu redor. E não raro os filhos seguem os pais, isto é, passam a torcer pela mesma equipe de seus familiares – primeiras referências de comportamento. Assim, o time começa a fazer parte da identidade daquela criança.
Porém a influência parental é apenas um dos fatores que auxiliam na formação de um torcedor. A identificação do indivíduo com o time é formada por uma série de aspectos, que contribuem para aumentá-la ou diminuí-la ao longo do tempo. Ou seja, é possível mensurar se eu sou “mais torcedor” que meu vizinho, mesmo ambos seguindo o mesmo time com afinco. Um destes fatores que influenciam no grau de identificação do torcedor com o time é o desempenho dos atletas dentro de campo, bem como sua postura fora dele (Wann, Koch, Knoth, Fox, Aljubaily & Lantz, 2006¹). Os torcedores, inclusive, adotam os jogadores como modelo de comportamento e se sentem próximos a eles acompanhando notícias e comprando camisas com o nome do ídolo, por exemplo. Deste modo, quanto mais sucesso o atleta conquista com o time, maiores as possibilidades de contribuir para aumentar a identificação do torcedor e, consequentemente, se tornar exemplo de conduta para este. Zinedine Zidane é um destes atores em relação ao Real Madrid. Multicampeão como jogador, iniciou sua carreira de treinador na equipe B do time para aprender a ser um técnico, e não já com protagonismo, em uma equipe de ponta, como fazem muitos ex-jogadores. Mas Zizou é destes personagens que parecem intocáveis, e nem mesmo a cabeçada que desferiu no italiano Materazzi na final da Copa do Mundo de 2006 – Materazzi teria ofendido sua irmã – abalou seu prestígio no mundo do futebol, muito menos com os torcedores merengues. O francês de ascendência argelina teve passagem discreta no banco da equipe B, sendo, inclusive, suspenso por não apresentar as credenciais necessárias para dirigir um time espanhol (posteriormente foi absolvido pelos tribunais do país). Um profissional comum, sem história no clube, provavelmente seria demitido. Porém a relação de Zidane com o Real Madrid está longe de ser comum. Mesmo sem muito sucesso no time B, o antigo camisa 5 do Madrid foi alçado ao posto de treinador do elenco principal em janeiro de 2016. A diretoria se valeu do tamanho de Zidane no clube para tentar esfriar os ânimos da torcida, devido aos maus resultados apresentados por seu antecessor, o espanhol Rafa Benítez. E a estratégia funcionou. O astro goza de elevado prestígio com o clube, seus dirigentes e torcedores. O prestígio, no escopo do marketing esportivo, tem o poder de transferir qualidades positivas do objeto admirado à identidade pessoal do torcedor (Carlson, Donovan & Cumiskey, 2009²). Ao mesmo tempo, o prestígio dado aos ídolos eleva o nível de ligação psicológica do torcedor com o time, pois a imagem do atleta é associada a memórias positivas envolvendo o clube (Carlson & Donovan, 2013³). Cabe a afirmação, portanto, que Zinedine Zidane é um fator de contribuição da identificação de torcedores com o Real Madrid, uma vez que, dado o êxito que o craque obteve como jogador e treinador deste time, a probabilidade de fazerem associações positivas entre ambos é alta. Portanto, ao deixar o comando do clube logo após conquistar a terceira UEFA Champions League seguida, Zidane marcou mais um golaço. Sua imagem não poderia estar em maior grau de positividade perante a torcida e, para não correr o risco de fracassos em campo mancharem-na, dada a perenidade do futebol, Zidane tirou os holofotes de si e ficou com a figura do tricampeonato, somada à que já possuía como atleta. É um exemplo a esta fogueira de vaidades que é o futebol, e motivo de orgulho aos torcedores do Real Madrid. Que todos sejam como Zinedine. ¹Wann, D., Koch, K., Knoth, T., & Fox, D. (2006). The impact of team identification on biased predictions of player performance. The Psychological Record, 56(1), 55. ²Carlson, B. D., Donavan, D. T., & Cumiskey, K. J. (2009). Consumer-brand relationships in sport: brand personality and identification. International Journal of Retail & Distribution Management, 37(4), 370-384. ³Carlson, B. D., & Donavan, D. T. (2013). Human brands in sport: Athlete brand personality and identification. Journal of Sport Management, 27(3), 193-206.
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Comunicação e Marketing
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Setembro 2022
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