Olá, amigos. Espero que estejam todos bem com a pandemia que nos assola. Em meu último texto, trouxe à tona os casos Carol Solberg e Robinho, e como esporte e sociedade estão interligados. Pois bem. Sinto a necessidade de permanecer no tema – e avançar um pouco. Este texto foi escrito em 28 de junho, data em que se celebra o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Em diferentes setores, vemos manifestações contra o preconceito que este público costuma sofrer. No esporte, idem. O fim de semana foi de lembranças à data na rodada do Brasileirão das Séries A e B, com camisas nas cores do arco-íris e bandeiras alusivas. Me permitam um parêntese para elogiar publicamente os gigantes Vasco da Gama e Germán Cano. Hoje, dia 28/6, vários clubes e atletas postaram conteúdos referentes em suas redes sociais. Ótimo, desde que a atitude se reflita na prática. Quem se lembra dos quadrados pretos na ocasião do assassinato de George Floyd, protestando contra o racismo? O que mudou para a população negra, mesmo? Pois é. Então, que tal dar voz às as torcidas organizadas LGBTQIA+, ou proibir os cânticos homofóbicos nas arquibancadas? Mas além do óbvio motivo de se lutar contra o preconceito e buscar igualdade, o esporte tem nos LGBTQIA+ um excelente filão a ser explorado. Em pesquisa de 2016, a consultoria norte-americana Out Leadership apontou que o potencial de consumo deste público é de R$ 419 bilhões. Cinco anos depois, é razoável imaginar uma fatia ainda maior. Ao mesmo tempo, a receita dos clubes vem caindo e as dívidas, aumentando. Com a pandemia, sem bilheteria, com a população cortando gastos, o faturamento dos times da Série A foi, em média, 9% menor. A reinvenção e a procura por novas fontes de arrecadação são urgentes. A perda de bilheteria é bastante sentida, a compensação terá que vir de alguma maneira. Outro ponto significativo é a diminuição no número de torcedores experimentada pelos times brasileiros. Em minha pesquisa para dissertação de mestrado, os que se declararam torcedores de clubes estrangeiros eram 42%. Igualmente, a maior “torcida” do futebol brasileiro é a não torcida. Ou seja, a parcela da população que não tem time nenhum é superior, inclusive, ao número de adeptos de Flamengo e Corinthians. Será que esses 22% de não torcedores – aproximadamente, 45 milhões de pessoas – não o são por que não gostam de futebol, ou não se sentem identificados com nenhuma das equipes do país ou do exterior? O discurso dos clubes não está alinhado ao seu pensamento? Quantos desses 45 milhões são LGBTQIA+? Destes, quantos querem consumir o futebol? Entre os torcedores declarados, quantos são LGBTQIA+ e não se manifestam por medo ou vergonha e, consequentemente, não consomem? Um primeiro passo seria investigar a população LGBTQIA+ e entender seus anseios em relação ao futebol, se existirem. O que pensam dos clubes e atletas, como os gritos homofóbicos nos estádios os atingem. Se torcem, se consomem, se sentem pertencimento ao grupo em torno do futebol e dos times. E de que maneiras fazem tudo isso. O modo de torcer de um LGBTQIA+ é igual ao de um homem ou mulher heterossexual, ou de uma criança? O que as eventuais diferenças apontam? Se o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ existe justamente para dar voz a este público, o futebol tem nas mãos uma excelente oportunidade para isso, e utiliza-la em seu favor. O consumo se torna mais e mais consciente, e a população vem buscando com frequência cada vez maior investir em marcas e empresas com as quais se identificam e respeitam liberdades individuais. O futebol tem uma grande oportunidade de oferecer possibilidades de manifestação a seus diferentes torcedores. Assim, com seus pensamentos alinhados e fazendo com que todos se sintam parte integrante daquele grupo, o consumo tende a acontecer naturalmente.
2 Comments
Beatriz
28/6/2021 21:54:11
Belo texto. Perfeito.
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Comunicação e Marketing
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Setembro 2022
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