Quem acompanha o futebol profissional no Brasil já deve ter ouvido falar que o calendário é caótico. Seja lá qual equipe você torce ou acompanha, frequentemente vê entrevistas de treinadores e dirigentes reclamando do excesso de jogos, do pouco tempo para treinar, além da troca constante de treinadores. Então você deve pensar, “ah, mas eu torço para um clube pequeno, que só joga o campeonato estadual durante três meses”. Pois bem, esse texto também é para você, afinal, você não gostaria de ver seu clube jogando mais do que ficando nove meses em inatividade? Certamente sim. Quando pensamos no setor econômico e esportivo do futebol profissional, não podemos analisar apenas com o olhar dos grandes clubes. Quantos são os grandes clubes no Brasil? Talvez algo entre 12 a 15 clubes? Este número não completa nem a quantidade de equipes que atuam no Campeonato Brasileiro da Série A (1º divisão nacional, com 20 clubes). Existem os clubes médios, que na maior parte estão diluídos entre a primeira, segunda e terceira divisão nacional (em torno de 50 clubes). Ainda, existem os clubes considerados pequenos, que vivem em dificuldades financeiras, com pequenos patrocínios, públicos e calendários deficitários. Estima-se que o futebol brasileiro tenha em torno de 650 clubes profissionais. Não é um número exato, pois ele muda todo ano, em função das falências, inatividades e também do surgimento de novos. Então voltamos a questão inicial: Por que o calendário do futebol brasileiro é caótico? Basicamente porque o Brasil tem campeonatos estaduais, além do Campeonato Brasileiro (liga nacional), a Copa do Brasil (copa nacional), além dos torneios internacionais. Se compararmos com os principais países do futebol europeu, lá não há estaduais, apenas as ligas nacionais, copas nacionais e torneios continentais. Isto significa que em média, os clubes brasileiros jogam 15 a 20 vezes a mais que os europeus num ano. Parece pouco? Num mês “cheio”, com jogos de quarta-feira e domingo, geralmente é possível jogar 8 vezes. Logo, são necessários no mínimo dois meses “cheios” para resolver os campeonatos estaduais. Essa expressão “de meses cheios” significa que os jogadores praticamente só jogam, quase não treinam, pois existem viagens e dias de descanso. Jogos em excesso afetam a qualidade do espetáculo. Equipe que não consegue treinar, que atua cansada, jogando contra adversários de pouca atratividade para patrocinadores, para a TV e para o público em geral, que começa a selecionar melhor quais jogos irá frequentar, economizando com ingressos. Então temos a receita do fracasso. Por outro lado, os clubes pequenos só jogam os estaduais. Se tirarem isso deles, o que sobrará? Clubes pequenos aguardam ansiosamente o jogo em casa contra um clube grande, pois sabe que a renda do jogo poderá fortalecer o caixa do clube, dando sobrevida e pagando salários atrasados. Além disso, cabe ressaltar a relevância dos clubes pequenos, que oferecem empregos para vários profissionais que atuam no futebol de forma direta (atletas, comissões técnicas...) e indireta (equipes de apoio, vendedores ambulantes, imprensa...). Ainda, os clubes pequenos são importantes reveladores de atletas, ou seja, a porta de entrada para a maioria dos jovens ingressarem no futebol. Isto é, são as “fábricas” quase invisíveis de talentos que tanto orgulham o futebol brasileiro. A maior parte dos grandes craques do nosso futebol começaram em clubes pequenos. Isto não pode morrer. Qual poderá ser a solução para isto tudo? Recentemente enviei para a Revista Brasileira de Futebol, uma proposta de modificação do calendário do futebol brasileiro, envolvendo a criação de uma copa estadual e do formato dos campeonatos estaduais como fases regionais da quarta divisão nacional. Inclusive alertei para um mecanismo de solidariedade, em que os clubes grandes poderão retribuir financeiramente para os clubes pequenos, em troca de diminuir os jogos deficitários do campeonato estadual. Ficou curioso? Então clique nesse link para ver a proposta completa.
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Entidades Desportivas
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Abril 2023
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