Muitos órgãos públicos já entenderam da importância e da relevância que o esporte pode ter para desenvolver uma região, uma comunidade, movimentar financeiramente um local entre outros fatores que só o esporte agrega. Inclusive comentei sobre esse tema há algum tempo atrás usando os Jogos da Aventura e Natureza realizados no estado do Paraná. Para mostrar que também é possível fazer essa união de órgão público até com o esporte de rendimento, hoje o texto é do Thiago Hoffmann Saldanha Estefano, profissional de Educação Física, especialista em Gestão em Marketing Esportivo, e com experiência de 10 anos atuando principalmente na área de marketing e gestão esportiva, empreendedorismo e gestão pública esportiva. Ele esteve envolvido com o projeto do Vôlei Taubaté Funvic de 2014 até meados de 2021, quando o projeto encerrou suas atividades na cidade do Vale do Paraíba do estado de São Paulo e foi transferido para a cidade de Natal no Rio Grande do Norte (RN) depois do rompimento da parceria entre a Funvic e a Prefeitura de Taubaté. O projeto - Relato de Thiago Hoffmann Saldanha Estefano O projeto Vôlei Taubaté Funvic foi um grande destaque nos últimos 8 anos (2013-2021) no cenário esportivo, principalmente para aqueles que acompanham de perto a modalidade. Durante o período que o projeto esteve presente na cidade de Taubaté/SP conquistou ótimos resultados em quadra, como os títulos da Superliga A (2018/2019 e 2020/2021), Copa Brasil (2015 e 2017), Supercopa (2019 e 2020), Troféu Super Vôlei (2020), Campeonato Paulista (2014, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019) e Copa São Paulo (2015), totalizando 14 títulos em 8 anos de projeto. Porém, através de um modelo de política pública, mostrou que investir no esporte não se resume somente em títulos, mas também através do desenvolvimento de projetos sociais e infraestrutura, onde se entende por política pública um conjunto de ações estipuladas pelo governo que atinge e traz benefícios para a população. Contudo, cabe ressaltar que há divergências políticas acerca do investimento realizado pelo Poder Público no projeto de uma equipe de alto rendimento. Se, por um lado, há discursos fortemente amparados na perspectiva que as equipes de alto rendimento trazem um grande retorno de visibilidade e reconhecimento positivo do nome da cidade e são capazes de criar oportunidades de entretenimento nos tempos livres, retorno para o comércio local, turismo para a cidade, investimento nas categorias de base e formação de atletas, otimização dos espaços físicos e promoção de projetos sociais, que por consequência, esses promovem a integração social, a promoção da saúde e a possibilidade da construção de um futuro melhor para os usuários. Em antagonismo, existe a crítica quanto ao investimento público em equipes de alto rendimento, visto que o Art. 214 da Constituição Federal de 1988 Lei Orgânica do município de Taubaté e a Lei n. 9.615/1998, conhecida como “Lei Pelé”, diz que o investimento no esporte educacional deve ser priorizado pela gestão pública. Embora se possam tecer críticas a este tipo de investimento, é inegável que o mesmo cumpriu um importante papel social perante os demais setores da sociedade e principalmente, o poder público as outras manifestações esportivas não foram prejudicadas, ao contrário, assim como o rendimento, houve um aumento no investimento do esporte educacional e de participação. O objetivo deste texto é detalhar a inserção de uma grande equipe da modalidade de voleibol na cidade de Taubaté, localizada no Vale do Paraíba do estado de São Paulo, e como este projeto influenciou a política pública esportiva do município e deixou legados positivos para o esporte da cidade. Para tanto, o método usado neste texto, teve como base o relato de um profissional que esteve presente em boa parte da história vencedora do time de voleibol da cidade de Taubaté e que prestou os seus serviços de 2014 a 2021 na área de marketing e comunicação, sem função executiva ou de diretoria responsável pelas principais tomadas de decisão. O projeto Vôlei Taubaté Funvic na visão da Política Pública do município de Taubaté O projeto Vôlei Taubaté Funvic sempre esteve intimamente ligado aos interesses do poder público, visto que o esporte sempre teve um papel de destaque no plano de governo do último prefeito de Taubaté (2013-2020), José Bernardo Monteiro Ortiz Júnior. Em razão disso, junto com a sua equipe técnica formada por profissionais de educação física, doutores, mestres e especialistas cada um em sua área de atuação na Secretaria de Esportes e Lazer, definiu 3 (três) modalidades âncoras que levariam o nome da cidade de Taubaté, e entre elas estava a modalidade de voleibol, reforçando assim a missão da Secretaria de Esportes e Lazer durante o período da gestão 2013 a 2020 que era de “fomentar ações por meio da prática de atividade física, esportiva e de lazer junto à comunidade, com a finalidade de democratizar o acesso e ampliar a cultura corporal do movimento, nos âmbitos educacional, competitivo e de participação" e da sua visão que era de “ser referência nacional como excelência em gestão pública esportiva municipal, inserindo Taubaté na condição de protagonista” Para que isso fosse possível, houve um aumento do investimento público municipal no esporte durante o período da última gestão. Este aprovado em assembleia na câmara dos vereadores, assim como todos os outros recursos aplicados no município através da LOA (Lei Orçamentária Anual). No caso do esporte de alto rendimento, foi criado em 2012 o Fundo de Assistência ao Desporto Amador de Taubaté (FADAT), onde são destinados valores em formato de bolsa-auxílio para os profissionais ligados aos projetos aprovados pelo Conselho Diretor do FADAT. As entidades da cidade que se enquadram no regulamento do edital de chamamento público podem se inscrever para tentar pleitear o apoio por meio de recursos financeiros, físicos e de logística junto ao FADAT. Falando especificamente do projeto do Vôlei Taubaté Funvic, a entidade proponente que pleiteou a verba do FADAT foi a Fundação Universitária Vida Cristã (Funvic) a qual era a responsável em fazer a gestão do projeto sob a supervisão dos gestores da Secretaria de Esportes e Lazer de Taubaté, a qual recebia o apoio financeiro e estrutural da Prefeitura de Taubaté, e como contrapartida manteve a parceria com mais de 50 empresas durante a sua trajetória de 8 anos na cidade do Vale do Paraíba, as quais apoiaram o time por meio de patrocínio direto, verba incentivada (federal e municipal) e também por meio de serviços. Muitos desses parceiros vinham por meio de contato com o antigo prefeito que fazia um approach inicial com os representantes das empresas e depois era apresentado uma proposta comercial de patrocínio esportivo visando fazer uma parceria com a equipe de voleibol da cidade. Muitas dessas empresas vinham com o interesse de manter um bom relacionamento com a cidade e passar uma boa imagem para os torcedores e moradores de Taubaté, visto que a maioria tinha alguma sede ou investimento na cidade. Foram poucas as empresas que tinham interesse realmente em explorar todas as contrapartidas contratuais que a equipe colocava como direito de acordo com as cotas fechadas. O papel do gestor de marketing e comunicação no Vôlei Taubaté Funvic Dito isso, o desafio para trabalhar no marketing da equipe teve início quando eu ainda estava trabalhando na Secretaria de Esportes e Lazer de Taubaté no cargo de gestor de esportes responsável pelo marketing e comunicação no ano de 2014. Além do trabalho com as demandas da Secretaria de Esportes e Lazer que envolviam os departamentos de eventos, esporte social, administrativo e também o da competição, eu também era o responsável por auxiliar no marketing da equipe do vôlei, visto a grandeza e a representatividade que o projeto teve para a cidade. Portanto, no vôlei, eu ficava responsável por:
Trabalhar no marketing de uma equipe a qual recebe investimento público e privado é saber discernir entre os objetivos do marketing esportivo que tem como uma das principais características o retorno financeiro e os objetivos marketing político que tem por característica o reconhecimento do governo, talvez este tenha sido o maior dos desafios, pois nem tudo que era sugerido era aprovado, muitas vezes por dificuldades de budget para o setor de marketing ou por simplesmente não estar dentro do que era esperado pelos gestores do projeto. Concluo o texto dizendo que o projeto Vôlei Taubaté Funvic deixou um grande legado positivo para a cidade de Taubaté, colocou o esporte de Taubaté no nível mais alto da prateleira, através deste investimento a cidade ficou reconhecida mundialmente, e como consequência, no guarda-chuva da equipe, por meio de um política pública esportiva estruturada, muitas outras ações foram benéficas para a cidade de Taubaté, o qual chamo de política pública invisível, que é tudo aquilo que está conectado com o time, porém não tem a mesma visibilidade da equipe de alto rendimento. Cito aqui a formação das categorias de base, criação de uma escola de atletas em período integral em sinergia com a Secretaria de Educação, projetos esportivos sociais voltado para crianças, adolescentes, adultos e idosos, entretenimento para o cidadão taubateano, retorno social para a entidades da cidade por meio das trocas de ingressos por mantimentos (em média 20 toneladas de alimentos foram arrecadados por temporada), turismo para a cidade (cerca de 20% do público vinham de outras cidades da região do Vale do Paraíba e grande São Paulo), melhorias na infraestrutura do ginásio e RH especializado para atender tanto a equipe adulta quanto às categorias de base, possibilidade de ver a equipe da sua cidade em jogos transmitidos na tv e no streaming. Pode-se dizer, portanto, que os retornos citados acima legitimam o investimento no esporte de alto rendimento, mesmo que neste caso seja idealizado pelo poder público e que seja um compromisso na agenda do líder governamental e logo não prejudique o investimento nas outras manifestações esportivas.
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Alguns dias atrás minha namorada me enviou uma mensagem perguntando sobre as medidas da rede e da quadra de beach tennis. O motivo é que próximo da casa dela tem uma quadra de areia e ela queria ver se poderíamos jogar lá. Isso me lembrou de uma conversa que eu tive com um diretor técnico da Federação Paranaense de Tênis em que ele falava que o tênis não era tão praticado no Brasil porque todos buscavam muita formalidade na prática. Ao contrário do futebol, que era possível jogar com bola de meia, chinelo no lugar dos gols, com apenas uma trave, muitas modalidades não deram esse passo de simplificar o acesso e ao longo do tempo da federação vivenciei algumas experiências que reforçaram isso.
Na faculdade tive uma aula com o esgrimista olímpico Athos Schwantes e ele apresentou um pouco do TCC dele, em que ele mostrou que com material reciclável e adaptado era possível fazer vários objetos para ensinar esgrima nas escolas com segurança. Eu acredito que as entidades esportivas deveriam pensar mais nisso, nessa simplificação do esporte para facilitar sua massificação. Aqui eu já deixo um exemplo que eu acho muito interessante, a Arena Ping-Pong criada pela Confederação Brasileira de Tênis. Ao invés de ficar gritando ao mundo que não é ping-pong o nome do esporte, a CBTM abraçou o ping-pong, o que é genial, pois é assim que todos chegam ao tênis de mesa.
Quando superarmos esse paradigma de que para praticarmos esportes precisamos seguir um monte de regras, provavelmente o esporte será mais praticado no Brasil, independente da modalidade.
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Abril 2023
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