Após a estreia da Alemanha na Copa de 2018, em que a atual campeã foi derrotada para o México, foi muito falado pela imprensa em geral sobre uma “maldição” que ronda o jogo inicial das equipes que defendem o título. Como “maldição” tem relação direta com superstição e fica distante do que é racional, do que tentamos buscar pela análise técnica, podemos converter isso em uma espécie de “pressão excessiva” sobre os atuais campeões, que de certa forma pode atrapalhar o desempenho esportivo esperado. Abaixo apresento um rápido histórico, que demonstra quando começou a surgir essa conversa toda:
Notaram que não foi relacionado o campeão de 2002? Foi o Brasil, que na copa seguinte, em 2006 venceu sua estreia contra a Croácia e não sofreu o mesmo problema dos demais. Então, para tornar a “maldição” mais realista, dizem que ela ocorre apenas com os países europeus. Agora vamos aos fatos. A França realmente foi surpreendida por Senegal em 2002. Mais que isso, a França jogou com baixo rendimento nos jogos seguintes também. Zidane, o principal jogador estava machucado e entrou apenas na terceira partida, sem totais condições de jogo. A seleção francesa dependia muito dele e quando decidiu colocá-lo, já era tarde, foram eliminados. Já no caso da Itália em 2010, a questão é diferente. O futebol italiano não teve a mesma evolução que Alemanha e Espanha tiveram nos últimos 15 anos e que as seleções da Inglaterra e Bélgica estão conseguindo agora. Parece que o futebol italiano parou no tempo, continua apenas baseado em defesa e contra-ataque. Quase nunca domina o jogo, nem a posse de bola e nem toma as iniciativas do jogo. Desta forma, ela se iguala a equipes medianas e fica muito atrás das potências atuais do futebol. Ah, mas ela foi finalista da Eurocopa 2012? Foi, aos trancos e barrancos. Venceu a Alemanha com dois golaços de Balotelli, num jogo que deu tudo certo para a Itália e nada certo para os alemães. Na final, a Itália foi dominada pela Espanha e não demonstrou nenhuma capacidade para vencer o jogo. No caso da Espanha em 2014, ela enfrentou no primeiro jogo ninguém menos que a outra finalista de 2010, a Holanda. Qualquer resultado era possível. Impressionou porque a Espanha foi eliminada na primeira fase, mas também perdeu para o Chile, que só saiu da copa após perder nos pênaltis para o Brasil (com aquela bola no travessão no final do jogo). Ou seja, a primeira fase da Espanha já foi em nível de oitavas de final... ou final, no caso holandês. Aliás, na copa de 2010 que a Espanha foi campeã, também estreou com derrota contra a Suíça, nesse caso sem “maldição” nenhuma, apenas não conseguiu superar o bloco defensivo suíço. Por fim, a Alemanha em 2018 perdeu para o México, da mesma forma que perdeu para a Itália na Eurocopa 2012. Dominou o jogo, criou as melhores oportunidades e a bola não entrou. O adversário conseguiu alguns contra-ataques e a bola entrou. Fim de jogo com resultado inesperado. Quer outros exemplos de estreias com resultados inesperados?
Isto é, resultados inesperados acontecem muito no futebol. A pressão no jogo de estreia existe, principalmente porque espera-se muito das equipes que possuem os melhores jogadores do mundo. No entanto, é notável que mesmo entre grandes jogadores o entrosamento pode não ser o ideal no início do torneio. Afinal, eles se encontram algumas semanas antes e treinaram e jogaram pouco juntos. Depois, com o decorrer dos jogos, há uma tendência das melhores equipes dominarem os adversários e vencerem os jogos. Vejo tudo isso de uma forma mais ampla. Seja lá qual for o adversário da estreia, do campeão ou não, não existem mais equipes inocentes no futebol, como era comum nas copas anteriores à década de 1990. Hoje existe um intercâmbio muito forte no futebol. Jogadores de alto nível dos principais países estão atuando em diversos continentes. Por exemplo, há brasileiros, argentinos, alemães, espanhóis, franceses, holandeses espalhados em campeonatos da China, Rússia, Ucrânia, Cazaquistão, EUA, Japão, Emirados Árabes, Qatar, entre outros. Nenhum campeonato africano? Não, mas os melhores jogadores africanos atuam no futebol europeu, principalmente na França. Não existe mais país isolado ou inocente no futebol, pelo menos não entre os que chegam na copa do mundo com 32 seleções. Se os clubes não importam estrangeiros, exportam jogadores para os principais centros de futebol. As equipes inocentes que ainda existem, já são eliminadas nas eliminatórias para a copa, nas fases continentais. Só para completar os fatos, em praticamente todas as copas recentes tivemos a chegada de um ou mais países inesperados nas fases finais:
E agora que a copa de 2026 terá 48 equipes? Pois é, talvez assim aumentará as chances de termos novamente alguns países mais inocentes na copa e muitos resultados inesperados. É aguardar para ver.
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Abril 2023
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