No meu último texto, abordei sobre os novos rumos que a educação física escolar está tomando no Brasil, com maior enfoque na diversificação de conteúdos e menos nas modalidades esportivas. Estas mudanças surgiram como uma tentativa de resgatar a educação física escolar, que na maioria das escolas se resume no famoso “rola a bola” do futsal e grande desinteresse por parte dos alunos. No entanto, o esporte brasileiro parece ter uma carência de um plano nacional, coordenado, que seja eficiente na formação de atletas em diversas modalidades e não apenas no futebol, como ocorre atualmente. Dando a sequência nessa discussão, vamos analisar os modelos de formação de atletas que algumas potências esportivas utilizam e comparar brevemente com o plano brasileiro. Para começar, vamos analisar o caso dos Estados Unidos, a maior potência olímpica da história. A base dos esportes lá ocorre nas entidades educacionais, como escolas, colégios e faculdades, diferente do Brasil que depende dos clubes esportivos. Após passarem por todas estas etapas, os melhores atletas se tornam profissionais por volta dos 22 a 23 anos, já com uma graduação acadêmica e um melhor nível intelectual. Existem casos de atletas que não fizeram faculdade e foram direto para o esporte profissional, mas esses casos são raros. Este trajeto na carreira, com início nas escolas, passando pelos colégios, faculdades até chegarem no esporte profissional é conhecido como o “caminho do atleta” (do inglês athlete pathway). Isto significa que a formação esportiva não será interrompida como ocorre aqui no Brasil, quando projetos são descontinuados com frequência, ou mesmo que os atletas passam de determinadas idades e simplesmente são excluídos das equipes, sem ter para onde seguir a carreira. Nesse link tem um exemplo do “caminho do atleta” na formação de jogadores de hóquei no gelo.
Como resultado desse modelo, os EUA quase sempre lidera o quadro de medalhas dos Jogos Olímpicos e, no caso dos Jogos Panamericanos, acabam liderando até com atletas do segundo e terceiro escalão. Para ilustrar tudo isso, vamos analisar a composição da delegação dos EUA nos Jogos do Rio 2016 (Globo Esporte, 2016):
Fazendo um paralelo a nossa situação no Brasil, isto resolveria o problema da maioria das modalidades que não possuem apoio e recursos até mesmo para os profissionais, como os esportes individuais, futebol feminino, handebol, entre outros. Se todos os nossos atletas pudessem continuar fazendo seus esportes até a idade universitária, já seria um grande incentivo para mantê-los na prática. No entanto, há um aspecto negativo no modelo norte-americano. No futebol masculino, em que a concorrência internacional está muito acirrada e difundida em todo o mundo, só formar atletas nas escolas e faculdades tem se mostrado um nível inferior aos clubes sul-americanos e europeus. Por isso a seleção masculina dos EUA ainda não está entre as potências internacionais. No meu próximo texto, vou abordar o modelo europeu, com maior destaque para a Grã Bretanha que passou a ser referência internacional no modelo de formação de atletas nos últimos anos. Até lá! Quer ler mais sobre os planos de formação de atletas? Texto 1 - A educação física escolar e a falta de base do esporte no Brasil Texto 2 - O modelo dos EUA de formação de atletas Texto 3 - Modelo de formação de atletas: Grã Bretanha Texto 4 - Proposta de Plano Nacional de Formação Esportiva no Brasil Quer ver uma entrevista por vídeo sobre o mesmo assunto? A formação de atletas no Brasil e no exterior - Ciência da Bola (19/10/2020)
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A educação física escolar atual no Brasil tem como orientação geral a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Este documento é um conjunto de orientações que foi criado para nortear os currículos das escolas, redes públicas e privadas de ensino, de todo o país. Foi publicado em 2017 pelo Ministério da Educação, após receber milhares de contribuições de professores, gestores e especialistas em educação. O grande objetivo da elaboração do BNCC foi de oferecer uma base que define o conjunto de aprendizagens essenciais a que todos os estudantes têm direito na Educação Básica. Isto é muito interessante, se considerarmos a grande disparidade que há entre o ensino na rede pública e particular, bem como nas diferentes regiões do país. Isto é, se houver instruções claras do que cada série deverá ensinar aos alunos, deverá ter uma melhoria geral da educação no Brasil. Além disso, provavelmente é melhor ter um plano do que não ter plano nenhum. O que destaco nesse texto é especificamente a questão da educação física escolar. Seguindo as orientações atuais da BNCC, os professores de educação física devem abordar diversos assuntos nas aulas, indo muito além das tradicionais modalidades esportivas, por exemplo, abrindo espaço para jogos e brincadeiras, danças, práticas de aventura, ginásticas e lutas. A ideia é que a educação física tenha uma maior conexão com as disciplinas escolares, ou seja, com foco no ensino e não no lado técnico-prático das modalidades esportivas. Espera-se criar alunos mais informados e críticos sobre diversos conteúdos ao invés de atletas. Também espera-se atrair mais alunos participantes, principalmente os que não demonstram grandes interesses pelos esportes tradicionais. Por exemplo, caso o tema da aula seja uma dança específica, o professor deverá contextualizar a dança, com aulas teóricas passando pela origem, histórico, procedimentos de prática, como técnicas básicas e atitudes, como comportamentos adequados dos praticantes. Na sequência, a aula prática fará muito mais sentido para os alunos. Isto significa que irá oferecer muito mais conhecimentos do que apenas a prática isolada de movimentos. Nessa reportagem tem uma demonstração de como a educação física escolar está sendo ministrada com resultados interessantes. Diante do modelo proposto pela BNCC, é possível dizer que não iremos desenvolver atletas nas escolas. É verdade que com a educação física escolar desprestigiada nas últimas décadas, poucos atletas foram descobertos a partir delas. No entanto, será que o Brasil está seguindo um modelo interessante no desenvolvimento esportivo, em afastar o esporte das escolas? Qual seria o modelo ideal? O desenvolvimento esportivo não significa apenas boa colocação no quadro geral de medalhas nos Jogos Olímpicos, mas em utilizar o esporte como auxílio na educação e formação de cidadãos. Para populações de baixa renda, o esporte é um dos principais caminhos de ascensão social, seja com uma carreira de atleta profissional, ou mesmo como atleta universitário, com bolsas de estudo nas entidades de ensino no Brasil e até no exterior. Isto não pode ser simplesmente descartado, mas deverá ser encarado como uma política de estado. Em breve, abordarei num novo texto sobre os diferentes modelos de formação esportiva adotado por países desenvolvidos e que poderão nortear o esporte brasileiro. Quer ler mais sobre os planos de formação de atletas? Texto 1 - A educação física escolar e a falta de base do esporte no Brasil Texto 2 - O modelo dos EUA de formação de atletas Texto 3 - Modelo de formação de atletas: Grã Bretanha Texto 4 - Proposta de Plano Nacional de Formação Esportiva no Brasil Quer ver uma entrevista por vídeo sobre o mesmo assunto? A formação de atletas no Brasil e no exterior - Ciência da Bola (19/10/2020)
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Formação de Atletas
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Agosto 2024
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