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Proposta de Plano Nacional de Formação Esportiva no Brasil

10/12/2020

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Crédito: Eugene Ptashnik - unsplash
Você já viu projetos esportivos serem interrompidos e todo o trabalho realizado com crianças e jovens ser simplesmente abandonado? Isto é bem comum aqui no Brasil, independente da sede do projeto ou de quem é o gestor. O que parece ser um problema localizado num único projeto interrompido, na realidade demonstra uma inconsistência do nosso plano de formação esportiva. É sobre isto que vamos debater nesse texto.
 
Vale reforçar que este texto é a sequência de outros três que já foram publicados em relação ao mesmo tema. No primeiro, abordei sobre os dilemas atuais da disciplina de educação física e da pouca prática de esportes nas escolas brasileiras. Nos dois textos seguintes, expliquei brevemente como funciona o modelo de formação esportiva dos Estados Unidos e no outro, sobre o modelo da Grã-Bretanha. Agora, vamos fechar esta série de análises, falando especificamente qual rumo o esporte brasileiro deveria tomar.
 
O modelo atual de formação esportiva no Brasil
 
No final do século XIX e início do século XX, o Brasil recebeu uma grande quantidade de imigrantes europeus como italianos, portugueses, alemães, espanhóis e ingleses. Este período coincidiu com o início das práticas esportivas como o remo e o futebol, que resultou na criação de vários clubes de regatas, atléticos, sport clubs e football clubs.
 
Atualmente, estes mesmos clubes esportivos são alguns dos principais formadores de atletas no Brasil, ou seja, seguimos o modelo europeu, baseado em clubes. O problema é que a maior parte dos clubes vive com poucos recursos, dependendo de contribuições de associados ou de verbas públicas. Além disso, a capacidade de absorção de crianças e jovens é relativamente pequena para uma cidade inteira, então os clubes geralmente selecionam os melhores ao invés de possibilitar a prática massiva para todos.
 
Se a maioria das crianças não possuem local de aprendizado, como poderão ter alguma chance de serem selecionados pelos clubes?
 
O talento esportivo depende de muita prática e de um ambiente que proporcione as condições para que ele se desenvolva. No vídeo abaixo (apenas em inglês), elaborado pela Sport Scotland, há uma explicação interessante e resumida sobre como os talentos esportivos se desenvolvem.
O modelo de formação esportiva que sempre tivemos no Brasil foi um modelo elitista, em que só conseguiam espaço para praticar esportes aquelas crianças com grande potencial esportivo, selecionadas precocemente como talentos, ou aqueles em condições de pagarem para terem acesso aos clubes. A maioria dos jovens fica excluída, sem chances de desenvolvimento.
 
Você deve estar pensando: ahh, mas a maioria dos jogadores profissionais de futebol são de origem pobre...
 
Sim, só que o futebol é um caso à parte, devido a popularidade da modalidade no Brasil, com vários projetos sociais, escolas privadas e por geralmente ter várias equipes nos clubes esportivos. Ainda assim, há um grande desperdício de talentos no futebol. No entanto, e os demais esportes? Quantas crianças já tiveram oportunidade de praticar? Esse é o foco desse texto.
 
Iniciativas isoladas interessantes
 
Existem iniciativas de várias confederações e federações estaduais interessantes para promover a iniciação esportiva de crianças nas suas respectivas modalidades. Cito dois abaixo, que vale a pena conhecer:
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Mini-Handebol – Federação Paulista de Handebol (FPHb)
que desenvolveu o projeto, elaborou um manual gratuito e oferece palestras para a capacitação de professores para incentivarem a prática da modalidade nas escolas, além de festivais esportivos, com o foco de atrair novos participantes.
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​Viva Vôlei – Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) que desenvolveu o programa, com adaptações das regras para facilitar a inserção das crianças na modalidade, além de possibilitar várias quadras pequenas e a participação simultânea de até 24 crianças na mesma aula.
No entanto, estas iniciativas acabam sendo isoladas, localizadas em poucas regiões, sem atingir a abrangência nacional. Quantas crianças poderiam participar de programas como estes, se tivessem acesso na sua cidade?
 
Quando analisamos os casos de esportes que não são populares no Brasil, fica evidente que faltam praticantes por desconhecimento e pela falta de incentivos. A vivência em esportes diversificados durante a infância possibilita uma formação mais ampla das crianças, em relação aos aspectos físicos, motores e culturais.
 
Para qual rumo a formação esportiva no Brasil deverá seguir?
 
Basicamente integrar escolas, clubes e universidades, num modelo híbrido, aproveitando os benefícios das entidades educacionais, com o nosso modelo atual de clubes. E qual a diferença entre oferecer esporte em clubes ou nas escolas?
 
Para responder esta questão acima, basta analisarmos outras duas questões mais específicas. Quantos clubes temos em cada cidade? Quantas escolas? Obviamente que são muito mais escolas do que clubes. Isto possibilita que o esporte seja oferecido para as crianças e jovens de uma forma muito mais ampla nas escolas do que apenas nos clubes. Isto é, são dadas oportunidades a todos os estudantes e ainda, a base de praticantes será muito maior do que a base apenas dos clubes. Além disso, as crianças, os professores de educação física e alguma estrutura esportiva já estão disponíveis na própria escola. Este é o início da receita para formar atletas: ampla base de praticantes!
 
A iniciação de diversas modalidades deverá ser feita nas escolas, mas tem que ter as condições básicas. O ideal seria que a escola fosse em período integral, em que meio período estudam dentro de sala as disciplinas tradicionais, almoçam na escola e no outro meio período participam de variadas atividades como aulas de esportes, de música, de artes, oficinas profissionalizantes, até reforço escolar das disciplinas básicas. Como o ideal está longe de acontecer, por ser necessário um investimento muito maior, pelo menos que as práticas esportivas ocorram no contraturno escolar.
 
Eu sei que você deve estar se questionando, mas a maioria das escolas não tem estrutura esportiva, como já mostraram essas pesquisas:
  • Nas cidades da copa, apenas 45% das escolas têm quadras (Folha, 2014);
  • Seis em dez escolas públicas do Brasil não tem quadras para atividade física (Globo, 2016).
 
Por isso deverá haver mais investimento nas escolas e pelo menos saberemos que o dinheiro está sendo bem investido. Não custa lembrar que o Brasil sempre está entre os piores países do mundo no ranking em relação a educação básica. Assim, começaremos a atacar diretamente o problema da baixa qualidade da educação, ao invés de buscarmos soluções que só rodeiam o problema e não resolvem nada.
 
Quais modalidades são possíveis de praticar dentro das escolas, que em geral possuem apenas uma quadra esportiva?
 
Na quadra (8): futsal, vôlei, handebol, basquetebol, tênis, hóquei, badminton, tag-rúgbi;
Sala com tatame (4): judô, luta olímpica, taekwondo e karatê;
Sala simples (3): tênis de mesa, ginástica rítmica e esgrima.
 
15 modalidades olímpicas no total. Além disso, cidades litorâneas poderão incluir as práticas náuticas (remo, vela e canoagem), vôlei de praia, futebol de areia e surfe.
 
Será que não seria interessante oferecer essa gama de esportes nas nossas escolas públicas atuais? Será que não haveria um melhor desenvolvimento das crianças e adolescentes, em relação à disciplina, autoconfiança, concentração, cognição, além dos benefícios óbvios de desenvolvimento físico e motor?
 
Nos vídeos abaixo, produzidos pelo Comitê Olímpico do Brasil para os Jogos Olímpicos Rio 2016, uma demonstração como é possível ensinar várias destas modalidades nas escolas:
Badminton
Esgrima
Hóquei
Luta Olímpica
Rúgbi
Taekwondo
O plano nacional deverá ter ações em conjunto
 
Ações isoladas não costumam oferecer resultados consistentes. Projetos encerrados após um ou dois anos são exemplos de fracasso, de investimentos perdidos, pois os participantes perdem a continuidade da formação esportiva e ficam sem rumo na carreira. Muitas vezes, os projetos são interrompidos por deficiências de gestão, falta de prestação de contas, além do corte de verbas públicas.
 
O esporte brasileiro não pode depender desse modelo de projetos isolados. Necessita de um plano nacional, que estabeleça o “caminho do atleta” (athlete pathway), com o início das práticas esportivas nas escolas, que na sequência os talentos sejam selecionados e bem aproveitados pelos clubes e no fim, que os jovens adultos consigam ainda conciliar a prática esportiva com a formação acadêmica nas universidades. Assim, terão a possibilidade até de participar dos Jogos Olímpicos, como costuma ocorrer nos EUA.
 
Todo esse processo deverá ter uma coordenação central do governo federal e do COB, que supervisionará o trabalho das confederações, que irão supervisionar os trabalhos feitos pelas federações estaduais, que irão supervisionar os trabalhos dos clubes e universidades, que irão supervisionar as atividades das escolas. Assim, todos os envolvidos, cada um com sua missão, numa cadeia de responsabilidades, deverá ter um fluxo melhor de formação esportiva (Figura 1).
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Esta cadeia de responsabilidades também oferecerá maior respaldo de gestão, jurídico, contábil, técnico-científico e metodológico, considerando o mesmo formato de atuação de todos os envolvidos. Também deverá haver metas e planos a serem cumpridos, como número de locais e número de participantes, garantindo a eficiência de todo o programa.
 
Como resultado, haverá melhor gestão dos recursos, até mesmo facilitando a entrada de investimentos privados, devido a abrangência do plano nacional. Outro benefício imediato será uma ampla base de praticantes, sendo monitorados pela mesma equipe técnica, com avaliações físicas, psicológicas, técnicas e táticas padronizadas, facilitando a seleção e promoção dos talentos esportivos.
 
Parece complexo? Realmente é, mas bem amarrado, basta fazer cumprir. Da mesma forma que lojas atuam em rede em todo o Brasil e no exterior, um plano nacional com metas e supervisão direta não é impossível de ser feito. Para se ter uma ideia, atualmente é somente a Secretaria de Esportes do Governo Federal, em Brasília, que supervisiona e fiscaliza todos os projetos que foram aprovados lá. É uma supervisão muito mais distante e complicada de ser realizada, baseada praticamente apenas em documentos. Na forma como proponho, os clubes e federações que não cumprirem com suas responsabilidades, incluindo a transparência na gestão dos recursos, poderão ser excluídos do programa.
 
Qualificação dos recursos humanos será primordial
 
Como trabalhar tantas modalidades diferentes nas escolas? Deverá ter capacitações dos professores de educação física das próprias escolas, que poderão receber um bônus salarial por se envolverem no programa. As federações e universidades serão as responsáveis pelas capacitações.
 
O envolvimento das universidades particulares no programa esportivo poderá trazer benefícios como a redução de impostos. Além disso, a participação em eventos esportivos pode resultar na veiculação gratuita do nome da universidade na mídia. As faculdades também abrirão espaços de estágios, como educação física, fisioterapia, medicina, psicologia, administração, marketing, jornalismo, direito, contabilidade, entre outros.
 
Para os atletas, ter o envolvimento das universidades com programas de bolsas, será a garantia de poder cursar uma faculdade e ainda permanecer praticando a modalidade esportiva. Esta é a melhor solução para quase todas as modalidades esportivas, em que os atletas não recebem dos clubes e não conseguem pagar as faculdades.
 
A maior parte dos jovens praticantes nas escolas e universidades não se tornará esportista profissional, isso é fato. No entanto, o esporte pode possibilitar ascensão social para aqueles mais dedicados. Se não for numa modalidade, poderá ser em outra. Eventualmente aparecerão bolsas estudantis no Brasil e até no exterior. Para quem é de baixa renda e estuda em escolas públicas de baixa qualidade, o esporte é uma das grandes esperanças de melhoria de vida.
 
Quem tem o poder de mudar essa situação?

Os políticos, mas de forma geral não terão o conhecimento para desenvolver. Então, precisa iniciar o movimento com profissionais e pesquisadores da área esportiva incluindo clubes e federações. Para então chegar num plano pronto. Enquanto ficarmos vendo a educação física escolar fraca e ninguém faz nada, ficará assim. Se nas escolas não produzimos atletas e estamos vendo que só os clubes não possuem condições, ficaremos quanto tempo nessa situação indefinida? Até hoje não existe plano nacional de formação esportiva, existe muito individualismo dos clubes e das federações, que não evolui.
 
Johan Cruyff, ex-jogador e treinador holandês de futebol se referiu assim sobre os esportistas:
Na minha opinião, os atletas têm grandes qualidades. Eles são pessoas comprometidas, focadas, que buscam a superação. Com essas características e uma formação acadêmica adequada, eles podem se tornar líderes de sucesso. Quem melhor para servir aos interesses do esporte que alguém que tenha o coração de um atleta?

​Johan Cruyff

A proposta acima é um plano perfeito?
 
Provavelmente não, mas é o que seria possível fazer apenas melhorando a gestão, a organização dos recursos humanos e a infraestrutura que já estão disponíveis nas redes públicas. Seria um novo direcionamento para o modelo de formação de atletas do Brasil, aumentando muito o número de praticantes na base, relativamente com pouco investimento.
 
Discorda da minha proposta? Talvez suas sugestões farão algo ainda melhor. Que tal compartilhar conosco?
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Autor: Luiz Antonio Ramos Filho
Mestre em Gestão do Esporte e Especialista em Futebol (mais sobre o autor)
Fonte: GestaoDesportiva.com.br
*As opiniões e informações publicadas nesse blog são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente os valores do GestaoDesportiva.com.br

Quer ler mais sobre os planos de formação de atletas?
Texto 1 - A educação física escolar e a falta de base do esporte no Brasil
Texto 2 - ​O modelo dos EUA de formação de atletas
​
Texto 3 - Modelo de formação de atletas: Grã Bretanha
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