No Brasil, nos últimos anos, muito tem sido discutido a respeito da forma como clubes de futebol são geridos, e temas como clubes virando SAF, clubes falindo como associações civis sem fins lucrativos, falta de profissionalismo dentro dos mesmos, têm ganhado cada vez mais enfoque. Mas e a gestão do futebol no resto do mundo, como acontece? A título de comparação, onde o Brasil se encontra quando colocado lado a lado com outros países? BRASIL No Brasil, vemos a maioria dos clubes adotarem o modelo de associação civil sem fins lucrativos, o qual não visa o lucro, sendo toda receita que entra usada para pagar as obrigações financeiras do clube, como salários, manutenção, viagens, etc. Em casos raríssimos, se não inexistentes, ao sobrar algum montante, que seria o lucro, o valor teoricamente deve ser reinvestido na organização, seja para contratar novos atletas, investir na infraestrutura, etc. O modelo de associação civil sem fins lucrativos é isento de várias tributações, como Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e Cofins, sendo isso um atrativo para os clubes. Porém, é também um modelo conhecido como não profissional dentro do futebol, caracterizado por muita politicagem e gestores amadores. Os políticos (conselho deliberativo, fiscal e presidente) são eleitos por associados dos clubes e têm mandatos curtos, o que os leva a buscarem objetivos de curto prazo para associarem seus nomes à grandes conquistas, como um título, a contatação de uma estrela do esporte, etc. Esses políticos não são remunerados (salvo exceções), tendo geralmente uma fonte de renda fora do futebol, dedicando-se ao clube em outros momentos, porém, tomando decisões que deveriam ser tomadas por profissionais especializados que vivem o dia a dia do clube. Outro ponto que caracteriza esse modelo é alta rotatividade de funcionários que entram e saem de acordo com a vontade da nova presidência - trocou presidente/diretoria, muito provavelmente trocarão alguns funcionários, sendo contratadas pessoas indicadas pelos mesmos. Em 2021, um novo cenário se instalou no Brasil, com a aprovação de Lei 14.193 da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), que permite e incentiva os clubes de futebol a deixarem de ser associações sem fins lucrativos e tornarem-se empresas. Para isso, o clube não pode ter participação de nenhum membro de sua associação civil originária nos conselhos de administração e nos conselhos fiscais, o que traz mais profissionalização na gestão. O modelo SAF também viabiliza e traz mais segurança para a entrada de investidores, os quais podem adquirir o clube em pequenas partes por ações, ou adquirir grande parte, se tornando sócio majoritário. Dentre as vantagens da SAF para a maioria dos clubes que vivem superendividados, temos incentivos para pagamento de dívidas fiscais, possibilidade de recuperação judicial quanto às dívidas privadas, um regime tributário especial, etc. O Cruzeiro, por exemplo, teve sua SAF comprada em abril de 2022 por Ronaldo Nazário (Tara Sports), forma que acharam para não quebrarem após baterem R$1 bilhão em dívidas. Ronaldo é dono e sócio majoritário do Cruzeiro Esporte Clube SAF, com 90% das ações. Gabriel Lima é o CEO, e assim como outros funcionários, foi contratado por sua capacidade para a respectiva função, não mais por politicagem. Sérgio Santos Rodrigues, que era presidente do Cruzeiro antes da SAF, continua no cargo até final de 2023, sendo agora presidente da associação originária, a qual tem 10% da SAF e cuida dos patrimônios do clube, como a sede administrativa e os clubes sociais. Entre outros exemplos, temos o Cuiabá Esporte Clube SAF, clube empresa desde sua fundação, tendo como dono desde 2009 a família Dresch. Em dezembro de 2021 decidiram se tornar SAF, buscando as melhores condições fiscais que o modelo oferece, mantendo os donos originais, sendo Alessandro Dresch o presidente, e Cristiano Dresch o vice-presidente. O Botafogo, assim como o Cruzeiro, vendeu 90% de suas ações para o americano John Textor em março de 2022, transformando-se em S.A.F BOTAFOGO. O presidente do clube antes da SAF, Durcesio Mello, ficou no cargo de presidente do conselho diretor na associação originária, não mais tratando de assuntos do futebol e sim quanto à parte social e esportes olímpicos. Thairo Arruda é o diretor da SAF, e o clube busca por um CEO esse ano. A SAF não é a solução definitiva dos clubes, assim como temos associações civis indo bem, como o Flamengo e Athletico Paranaense, podemos ter SAFs que não vinguem do jeito que esperávamos, mas pelo menos elas trazem uma maior profissionalização e transparência aos clubes, que agora correm o risco de falir como qualquer empresa. ALEMANHA Vamos começar a falar de Europa agora, onde o futebol é (pelo menos) visto como um meio que gera rios de dinheiro e super profissionalizado. A Alemanha, com medo de perder a tradição de seus clubes, criou o modelo de gestão 50+1. Antes de 1998 os clubes alemães eram todas associações civis sem fins lucrativos, porém, a partir desse ano, a DFB (Federação Alemã de Futebol) permitiu a abertura de capital nos clubes para investimentos externos, mas regulada pela regra 50+1, protegendo as associações originárias dos clubes e seus associados dos investidores que querem entrar e fazer mudanças radicais. Por conta da regra, a associação civil é obrigada a manter no mínimo 50% + 1 das ações, o que dá a ela maior poder de decisão, podendo os outros 49% serem negociados com investidores. Isso valoriza muito a participação dos torcedores nas decisões, já que esses têm direito de voto como associados, porém, afasta um pouco grandes investimentos, pois não importa quanto as empresas invistam, elas nunca terão poder de decisão suficiente dentro do clube. Essa regra impõe certa limitação no futebol alemão, que vai ficando para trás quando comparado com outros campeonatos que têm muito mais dinheiro, podendo contratar melhores jogadores, ter melhor estrutura, o que consequentemente aumenta a competitividade perante os outros. Em 2018 a Federação Alemã organizou uma votação com os clubes da Bundesliga e Bundesliga 2 a respeito da manutenção ou não do modelo 50+1, e a maioria foi favorável à manutenção da regra, assim como os torcedores. Sobre a regra, há uma exceção que acontece no caso de uma empresa/pessoa investir no clube por 20 anos continuamente, tornando-se assim apta a reivindicar a maioria dos direitos de voto da organização. A questão vai então para avaliação da federação alemã, que pode permitir ou não. Isso aconteceu no TSG 1899 Hoffenheim, clube criado em 1899, e que tem desde 1990 o apoio financeiro de Dietmar Hopp, cofundador da empresa SAP (software). Por ter mais de 20 anos de contribuição no clube, Hopp hoje tem 96% das ações da organização, porém, é odiado no futebol alemão por ser visto como alguém que usou do seu dinheiro para comprar ascensão no esporte, já que o clube começou a ter sucesso após seus aportes financeiros, e pelos torcedores alemães apoiarem tanto o 50+1, veem essa situação como algo ruim. Temos como outros exemplos na Alemanha o Bayern de Munique, clube que tem o maior número de sócios no mundo, 323 mil, e tem 75% das suas ações na mão da associação originária do clube, 8,33% das ações com a Audi, 8,33% com a Adidas (uniforme e material esportivo) e 8,33% com a Allianz (naming rights do estádio). O VFL Wolfsburg, fundado em 1945 por funcionários da Volkswagen, conta com subsídio da montadora desde o início, fugindo da regra 50+1 pelo fato do longo período de investimento da empresa no clube, a qual hoje possui 95% das ações. O Bayer 04 Leverkusen é outra exceção à regra, sendo proprietária de 100% das ações do clube a empresa farmacêutica Bayer, que o fundou em 1904. Por fim, vemos um caso à parte, o RB Leipzig, clube não muito bem-visto na Alemanha pelo fato de driblar a regra de uma forma inusitada. A empresa Red Bull comprou o SSV Markranstädt em 2009, mas diferente dos seus outros times pelo mundo (New York Red Bulls, Red Bull Bragantino, etc.), o novo clube alemão não pode ter o nome da marca na identidade do clube por conta do 50+1, sendo esse chamado RasenBallsport Leipzig. A Red Bull tem 49% das ações, e os outros 51% teoricamente ainda estão com a associação originária do clube, porém, todos os associados que votam são funcionários da Red Bull, ou seja, é a companhia que manda na prática. ESPANHA Na Espanha, até a década de 90, os clubes espanhóis basicamente se constituíam como associações civis sem fins lucrativos, não tinham dinheiro e os presidentes/dirigentes ficavam pouco tempo no cargo, tendo visões apenas de curto prazo, como é no Brasil até hoje. Em 1990 foi então aprovada a Ley del Desporte pelo governo da Espanha, a qual obrigava os clubes, ou só suas equipes profissionais, a se tornarem empresas (sociedades anônimas desportivas - SAD). De todos os clubes profissionais da época, só escaparam da lei o Barcelona, Real Madrid, Athletic Bilbao e Osasuna, pelo fato de não terem dívidas, sendo esses até hoje associações esportivas sem fins lucrativos. Dentre exemplos, temos o Real Valladolid Club de Fútbol SAD, adquirido por Ronaldo Nazário em 2018, que hoje detém 72% das ações do clube (51,05% no nome da sua empresa Tara Sports e 21,68% no nome próprio), sendo daí 10% de Carlos Suárez Sureda, 9,1% da Imobiliária Agora, 4,99% da Utopía del Sur e 3,17% divididos entre demais acionistas. O Club Atlético de Madrid SAD, fundado em 1903, forma sua estrutura acionista com 65,98% da Atlético HoldCo (de Miguel Ángel Gil, CEO do clube, e Enrique Cerezo, presidente), 33% de Idan Ofer (através de sua empresa Quantum Pacific Group), e o restante entre pequenos acionistas. O Futbol Club Barcelona, associação civil sem fins lucrativos, é o quinto clube no mundo com maior número de sócios, 231 mil em 2022, dos quais alguns participam na votação de presidente e direção do clube. Recentemente, o clube passou por grandes apuros financeiros sob comando do ex-presidente Josep Maria Bartomeu, podendo ter falido caso se constituísse como empresa. Ferran Reverter, que foi CEO do Barcelona até 2022, foi um nome muito importante na reconstrução do clube. Hoje o presidente é Joan Laporta, eleito com 30.184 votos em 2021. PORTUGAL Assim como no Brasil, os clubes em Portugal tinham em sua maioria a forma de associação civil, porém, esse cenário começa a ter reformulações a partir de 1995, quando através do decreto-lei 146/95, os clubes começaram a ter a opção de transformarem suas associações endividadas, que não tinham interesse de investidores, em negócios que poderiam gerar lucro ao trazer acionistas para o clube com investimentos. Isso não foi pra frente por conta de as cláusulas não serem interessantes para os investidores. Em 1997 há uma nova tentativa para clubes profissionais se constituírem SAD (Sociedade Anônima Desportiva) com o decreto-Lei 67/97, mas a maioria continuou optando pela estrutura associativa, embora essa agora tivesse regras mais rigorosas a serem cumpridas quanto à transparência dos clubes. É só então em 2013, com o decreto-Lei 10/2013, que os clubes que participariam das competições profissionais dali em diante (Primeira e Segunda Liga Portuguesa), foram obrigados a constituírem-se SAD ou SDUQ (Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas). Desde então, investimentos externos foram possíveis, com cláusulas interessantes para os dois lados. Na maioria dos casos, o departamento de futebol profissional se constitui SAD/SDUQ, assim como os times B, enquanto os clubes associativos originais ficam com a base e como donos do patrimônio das equipes (estádios, símbolos, etc.). A SAD é como a nossa SAF. O modelo adotado pela maioria dos clubes portugueses hoje, vem para transformar os clubes associativos em empresas, trazendo uma melhor administração, melhor gestão financeira e mais transparência, podendo haver investimento de vários acionistas e ser uma empresa de capital aberto. As associações civis originárias, em sua maioria, são donas dessas empresas SAD que abriram e que administram o futebol, porém, vendem parte das ações para investidores, sendo obrigadas as associações civis originárias a manter pelo menos 10% das ações da SAD. O Benfica, por exemplo, continua sendo associação civil, com 290 mil sócios, porém, criou a SAD, da qual a associação é sócia majoritária (66,98%), para administrar o futebol profissional. O Grupo Valouro, da indústria do agronegócio português, de José Antonio dos Santos, tem 16,38% da SAD. Do outro lado, o modelo da SDUQ é visto como uma forma de preservar a identidade da instituição, onde o clube fundador é o único sócio, e não tem a possibilidade de outros sócios entrarem como é no caso da SAD. Dos 18 clubes da Primeira liga hoje, somente Arouca, Casa Pia, Rio Ave, Gil Vicente e Paços de Ferreira são SDUQs, e dos 18 da Segunda liga, somente é SDUQ o Spoting Clube da Covilhã. O Casa Pia, clube tradicional de Lisboa que há 83 anos não jogava na elite do campeonato português, voltou para a Primeira Liga nessa temporada 2022/23, após investimento do empresário norte-americano Robert Platek, que começou em 2020. Por conta de o clube ser SDUQ, o formato de investimento foi diferente, não havendo uma formalidade na aquisição por parte do empresário, que injetou dinheiro para melhorar o time, comissão técnica e estrutura, sem ser no papel um sócio, já que como o modelo prevê, o clube originário é 100% dono do futebol profissional. Após 2 anos de negócios bem-sucedidos entre o clube e Platek, hoje eles se preparam para se tornarem uma SAD, formalizando a participação do empresário como sócio. Um caso intrigante do futebol português é o do Clube de Futebol os Belenenses. O clube em 1999 se tornou SAD, sendo o único sócio a associação originária. Em 2012, vendeu 51% das ações para o grupo Codecity, de Rui Pedro Soares, sendo a relação entre clube e novo sócio não muito amigável desde o começo, já que o empresário não investia tanto quanto prometera, e não se importava com a tradição do clube. Essa relação foi entre trancos e barrancos até 2018, quando o clube e a SAD decidem romper, tornando-se duas entidades diferentes, sem relação. Belenenses SAD ficou com o time profissional nas divisões de elite do campeonato português, e Belenenses clube ficou com os jogadores da base, participando apenas no campeonato distrital (como o estadual do Brasil), sem calendário nacional. A SAD começou a mandar jogos no Estádio Nacional do Jamor, teve que mudar emblema e uniforme, enquanto o clube originário continuou no Estádio do Restelo, com o CT, escudo e uniforme original. Em 2020 o clube originário vendeu também os 10% que ainda detinha da SAD, rompendo 100% o vínculo entre os dois. A B-SAD, como é chamado hoje, é um time sem clube fundador com sua fundação em 2018, e joga a Liga Portugal 2. O C.F. Os Belenenses, clube originário, hoje disputa a Liga 3. INGLATERRA Após os episódios de hooliganismo na década de 1960, caracterizados por violência de torcedores nos jogos, onde pessoas chegavam a morrer, como o caso do Desastre de Hillsborough em 1989, os estádios ingleses começaram a passar por vistorias de segurança, sendo gerado o relatório Taylor. Para se adequarem então às novas regras, os times começaram a ter que investir na reforma dos estádios, e para arrecadar mais dinheiro, começaram a vender suas ações para investidores de fora, aderindo assim a maioria ao formato de empresa. Diante dessa situação, a federação inglesa de futebol (FA) não impôs uma legislação específica para os clubes, só colocou como exigência eles não terem um único sócio, tendo que negociar suas ações no mercado acionista. Hoje, enquanto clubes de outros países como Espanha, Itália, possuem em sua maioria investidores nacionais, a Inglaterra conta majoritariamente com investimento internacional. O Manchester City, um dos clubes mais ricos do mundo, foi comprado pela Abu Dhabi United Group (ADUG) em 2008, do bilionário Sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan, que hoje obtém 81% da organização. O restante das ações pertence à empresa Silver Lake. O Manchester United FC foi comprado pela família americana Glazer em 2005, que se mantém no controle do clube até hoje. Possuem ações de classe B, o que confere a eles poder sobre as decisões do clube, e abrem para outros investidores, por meio de ações de classe A, a possibilidade de comprar ações do clube na Bolsa de Valores de NY. Embora na Europa vemos casos como o Barcelona que se apertou financeiramente nesses últimos anos, clubes italianos como a Fiorentina, Torino, Napoli que já chegaram a falir, temos um número bem menor de escândalos financeiros no esporte como vemos no Brasil, com salários atrasados, multas não pagas, etc. Um fair play financeiro que funcione, regras claras a serem seguidas e que tenham consequências concretas no caso de não serem cumpridas, formam a base para se construir uma gestão sólida nos clubes de futebol, tratando os times e seus funcionários com a seriedade que merecem ser tratados.
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Sportswashing, o termo que se refere à junção das palavras “esportes + lavagem”, vem ganhando cada vez mais visibilidade. Ele descreve a prática de usar do esporte para mascarar, esconder ações e aspectos negativos de governos, indivíduos, corporações, melhorando assim sua reputação manchada perante o mundo. Governos totalitários que violam direitos humanos, oprimem mulheres e a comunidade LGBTQIA+, censuram a imprensa, apoiam a pena de morte, entre outros, viram no esporte uma forma de camuflar esses feitos, trazendo a atenção do mundo para uma outra face que envolve investimentos multimilionários em clubes de futebol, eventos como a Copa do Mundo, Fórmula 1, Olimpíadas, etc. Essa prática já acontece desde antes do século XXI, mas o termo só foi criado em 2018 pela Anistia Internacional, organização não governamental que defende os direitos humanos. O esporte é o melhor e mais popular veículo para espalhar propagandas positivas para um governo. Hitler usou disso em 1936 nas Olimpíadas de Berlim, propagando o regime nazista; a Argentina também quando sediou a Copa do Mundo em 1978 e estava sob uma ditadura que usou do evento para obter apoio da população e amenizar a repercussão das torturas e assassinatos que cometiam. Hoje em dia vemos muitos clubes sendo adquiridos por regimes totalitários que são alvos de críticas, como o Newcastle que é comandado pela Arábia Saudita (Mohammad bin Salman), o Manchester City pelos Emirados Árabes Unidos (Sheik Mansour), o Paris-Saint Germain pelo Catar (Nasser Al-Khelaifi), entre outros. Vamos explorar um pouco dos detalhes de cada um. Newcastle O clube inglês Newcastle foi adquirido por 300 milhões de libras em 2021 pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita, que pertence à família real do país. A Arábia Saudita é uma monarquia absoluta, considerada um estado totalitário, onde o atual rei, Salman bin Abdulaziz Al Saud, é o chefe do estado e o chefe de governo. O Alcorão, livro sagrado do Islamismo que é religião predominante no país, é o que rege a constituição local, assim como o comportamento, direito e deveres da população. O príncipe a herdar tudo é Mohammad bin Salman, "dono" do Newcastle, que indicou Yasir Al-Rumayyan como governador do Fundo de Investimentos que fez a aquisição e presidente não executivo do clube. Considerado um dos países culturalmente mais fechados e intolerantes do mundo, o regime da Arábia Saudita é conhecido por perseguir seus opositores, criminalizar homossexuais, apoiar fortemente a pena de morte, reprimir as mulheres e perseguir seguidores de religiões que não sejam o Islamismo. Em 2016, o príncipe Mohammad bin Salman lançou um ambicioso plano chamado “Visão 2030”, onde ele almeja fazer com que a Arábia Saudita dependa menos do petróleo e diversifique mais sua economia, desenvolvendo mais os setores da saúde, educação, infraestrutura, recreação e turismo. Para isso, eles precisam mudar sua imagem de intolerantes perante o mundo, e uma ótima forma é através do futebol, algo amado internacionalmente. A compra do Newcastle é um ótimo exemplo de sportswashing, fazendo com que os torcedores vibrem com a aquisição do time, que tem como objetivo tornar o clube uma potência mundial, coisa que a gestão anterior não conseguiu nem em termos financeiros e nem desportivos. O torcedor não se importa com a origem do dinheiro, desde que tenham vitórias e títulos para seu time do coração. E é esse o principal ponto do sportswashing, fazer com que a imagem e a atenção sobre um governo totalitário seja mudada para a imagem de um país riquíssimo que tem o poder te transformar clubes de futebol em super potências.
O país maquia seu lado obscuro através do esporte, seja com a compra do PSG, seja com a Copa do Mundo 2022, seja com altos investimentos nos clubes. A ideia é que o mundo os veja como os poderosos que têm o poder de trazer para o mesmo time Neymar, Messi, Mbappé, e que fazem a Copa do Mundo mais cara da história. Olhando no site do PSG lemos - “Desde a compra do clube pela QSI em 2011, ele se transformou e se tornou um dos principais clubes de futebol e marcas esportivas globais do mundo”. Em um dos locais mais caros do mundo, a 5ª Avenida em Nova Iorque, vemos inclusive uma loja do PSG em grande estilo, mostrando seu poder perante outras marcas futebolísticas. Para atrair turismo, mostrar suas instalações e cultura para um público internacional, o Catar sedia anualmente treinos e torneios em que o PSG comparece, sendo o mais famoso a Qatar Winter Tour, torneio que acontece todos os anos em Doha – algumas possibilidades que só o esporte poderia abrir as portas.
Hoje, o City Group, como é popularmente chamado, é uma holding constituída majoritariamente pela empresa Newton Investment and Development LLC, também propriedade do Sheikh Mansour, e por 18,1% pela empresa americana Silver Lake. Comandam 12 times entre Inglaterra (Manchester City FC), EUA (New York City FC), Austrália (Melbourne City FC), Japão (Yokohama F. Marinos), Uruguai (Montevideo City Torque), entre outros. Os Emirados Árabes Unidos são constituídos por sete emirados, tendo cada território seu próprio emir (líder). Para escolher o presidente do país, esses emires escolhem um dentre os sete pra ocupar o cargo, sendo o atual Maomé bin Zayed Al Nahyan, emir de Abu Dhabi. O termo mais apropriado pra esse governo seria uma "federação de monarquias", já que os emires são de famílias reais. O país conhecido por suas cidades luxuosas e tecnológicas, como Dubai, também tem sua má fama por violação dos direitos humanos, superexploração de trabalhadores estrangeiros, pouca liberdade de expressão, etc., mas conseguem ser fortemente associados aos investimentos multimilionários no esporte a nível mundial. Outros exemplos Dentre vários outros exemplos que podemos citar, vemos também o caso do Azerbaijão, visto como um país de governo autoritário que reprime opositores, restringe a liberdade de protesto e religião, e que investiu milhões e milhões no Atlético de Madri entre 2012 e 2015. No início, começaram estampando na camisa do time o nome do país com o slogan “Land of fire” (PT: “Terra de fogo”), para atrair público para o turismo local. Após isso, fecharam um patrocínio máster na temporada 2013/2014, sendo estendido até 2015, por cerca de 12 milhões de euros por ano para continuar estampando na camisa do time propaganda do país.
É possível combater o sportwashing? Infelizmente, essa é uma prática muito difícil de combater, sendo inviável impedir que clubes sejam comprados por ditaduras, que treinadores e atletas boicotem o futebol em locais com regimes totalitários assim ao não irem jogar pra eles, etc. Dinheiro é a alma de todo negócio e algo que não falta em cada um desses exemplos anteriores. Assim como o mundo não vai parar de comprar petróleo de países do Oriente Médio, assim eles vão continuar investindo altamente nos esportes para conquistar uma fama positiva de tabela. Recentemente, por conta da invasão da Ucrânia pela Rússia, o governo do Reino Unido impôs fortes restrições ao Chelsea, que tinha como dono o russo Roman Abramovich, o qual tinha um relacionamento bem próximo com Vladimir Putin, que é o cabeça do regime ditatorial da Rússia. Abramovich teve que vender o clube, o que fez muita gente pensar que a situação de restrições poderia se aplicar a outros governos extremistas também, o que não foi o caso. A situação com Abramovich e com a FIFA excluindo a Rússia da Copa do Mundo 2022 foi diferente. O país não tem tanta influência internacionalmente e nem uma contribuição acentuada ao esporte como os países do Oriente Médio hoje têm, então é muito mais fácil desbancar um país, em termos esportivos, que está envolvido claramente em um conflito terrível e que não vai acarretar em um impacto nos eventos, do que fazer os bilionários do Catar, Arábia Saudita e Emirados venderem seus times, já que suas más ações estão de certa forma mais “encobertas”.
Em 2021, Lewis Hamilton também protestou ao usar um capacete com um arco-íris no Prêmio do Qatar de Fórmula 1, em favor da comunidade LGBTQIA+, afirmando em entrevista: "Conforme as competições esportivas vão para esses locais, elas têm o dever de colocar em foco esses problemas. Esses lugares precisam de escrutínio. Direitos iguais são uma questão séria" (Globo Esporte, 19/11/2021). O esporte tem um poder de “cegar” as pessoas diante de certas situações, a vontade de ganhar, de gritar campeão, fala muito mais alto do que se opor a regimes totalitários, opressores. Com isso, nos resta aproveitarmos cada oportunidade possível para expormos o assunto e levantarmos discussões a respeito, de forma que isso venha a ter um efeito positivo.
A Copa do Mundo mais cara da história vem dando o que falar dentro e fora de campo. Com todas as polêmicas envolvendo a construção de estádios, proibição de bebidas alcóolicas e demonstração de afeto em público, entre outros, o país sede investiu nada mais nada menos que R$ 1,22 trilhão, comparado com R$ 61,8 bilhões da Rússia em 2018. Quando olhamos além dos lindos estádios, estrutura da cidade luxuosa, vemos que tudo isso envolve muita tecnologia, seja dentro do espetáculo do jogo ou fora. Os oficiais do evento contam com ferramentas sofisticadas para controlar quase todos os aspectos dos jogos e seus arredores, procurando promover a melhor experiência a todos os que vão ao país. Começando com aspectos dentro de campo, vemos a bola Al Rihla sendo a primeira bola oficial de Copa do Mundo com tecnologia conectada. Em uma colaboração entre Adidas, FIFA e Kinexon, empresa líder em sensores de última geração e inteligência artificial, dados sobre a posição dos atletas em campo são combinados com sensores dentro da bola que rastreiam cada toque nela cerca de 500 vezes por segundo, informando instantaneamente os árbitros de vídeo onde e quem tocou na bola.
Com esse mesmo propósito de otimizar a tomada de decisão, sendo essas mais rápidas e precisas sobre os pênaltis, impedimentos, lances, os estádios possuem 12 câmeras de rastreamento em seus telhados que rastreiam 50 vezes por segundo a bola e até 29 pontos no corpo dos jogadores, calculando suas posições exatas no campo. É uma forma de detecção semiautomatizada de impedimentos, onde as localizações dos dados rastreados são enviadas aos árbitros de vídeo em tempo real, os quais após análise de um lance de impedimento, por exemplo, comunicam os árbitros em campo e que ao confirmarem, uma animação 3D é exibida no estádio e nas transmissões de TV para mostrar como que a decisão foi alcançada. Já extra campo, vamos começar a falar sobre os estádios. São oito deles, muito tecnológicos e luxuosos, e com muitos planos para o pós-Copa, para que não fiquem sem uso após tanto investimento. Para aliviar as altas temperaturas no Catar, sistemas de resfriamento foram implantados em sete dos oito estádios, onde o ar de dentro é puxado por aberturas estratégicas nas arquibancadas e perto do gramado, resfriado, filtrado e empurrado novamente para fora. O sistema de refrigeração é ativado com energia solar e tem sensores pelo estádio que ajudam a regular as temperaturas. Por meio de tecnologia, o resfriamento ocorre somente onde há pessoas, mantendo o local entre 17 e 23 graus Celsius. Para entender mais sobre o sistema, acesse o vídeo no link. Outra curiosidade é que, pensando também no calor, os estádios foram projetados e orientados de acordo com a posição do sol para maximizar a sombra no campo e arquibancada. As cores e materiais dos mesmos também foram calculadas para absorver o menos de calor possível. Após a Copa, os planos para os estádios incluem transformação em um conjunto de instalações comunitárias, com lojas comerciais, mercearias, clínicas de saúde e talvez até uma escola, como é o caso do Lusail; e para o 974, por exemplo, o plano é desmontá-lo completamente, algo que acontecerá pela primeira vez em uma Copa do Mundo, já que esse é formado por containers conectados por aço modular.
Para assegurar a segurança, mais de 15.000 câmeras com reconhecimento facial foram instaladas nos oito estádios e seus arredores, pelas quais os centros de comando e controle no Catar rastreiam os movimentos das pessoas durante os jogos, usando algoritmos para tentar evitar tumultos e detectar ameaças à segurança. Além dos estádios, o controle fica sobre metrô e ônibus também, contando com drones para estimar o número de pessoas nas ruas. Com o intuito de elevar ainda mais a experiência dos torcedores, a FIFA criou o aplicativo FIFA+ “Stadium Experience”, o qual permite torcedores na Copa do Mundo escanearem o campo com o celular através do app e visualizar as partidas em realidade aumentada (RA). O aplicativo reconhece automaticamente cada jogador em campo, e ao tocar neles, suas estatísticas individuais e de equipe aparecem, assim como velocidades em tempo real. Pelo app replays do VAR podem ser visualizados também, assim como um mapa de calor mostrando posse de bola, tentativas de gol, quantos passes foram feitos (certos ou errados), etc. O torcedor hoje muitas vezes não se contenta somente em ficar 90 minutos sentado assistindo, muitos querem interagir, ter mais detalhes, que é o que o uso do app oferece. Cada vez mais vemos a arte do esporte envolvida com tecnologia, inovações - seja para captar mais dados, melhorar as análises, engajar mais os torcedores. Há controvérsias de que esse uso de tecnologia, às vezes visto como exagerado, faz com que o esporte perca um pouco de sua beleza, sendo muito dependente, no caso de impedimentos por exemplo, do uso de recursos extra campo, e não só mais do conhecimento e entendimento dos árbitros, por exemplo. Eu vejo isso como um ciclo natural, assim como cirurgias hoje podem ser realizadas por robôs, a inteligência artificial se infiltra em todos os ramos, inclusive no futebol. Mas e você, o que pensa disso tudo?
Quem acompanha o futebol profissional no Brasil já deve ter ouvido falar que o calendário é caótico. Seja lá qual equipe você torce ou acompanha, frequentemente vê entrevistas de treinadores e dirigentes reclamando do excesso de jogos, do pouco tempo para treinar, além da troca constante de treinadores. Então você deve pensar, “ah, mas eu torço para um clube pequeno, que só joga o campeonato estadual durante três meses”. Pois bem, esse texto também é para você, afinal, você não gostaria de ver seu clube jogando mais do que ficando nove meses em inatividade? Certamente sim. Quando pensamos no setor econômico e esportivo do futebol profissional, não podemos analisar apenas com o olhar dos grandes clubes. Quantos são os grandes clubes no Brasil? Talvez algo entre 12 a 15 clubes? Este número não completa nem a quantidade de equipes que atuam no Campeonato Brasileiro da Série A (1º divisão nacional, com 20 clubes). Existem os clubes médios, que na maior parte estão diluídos entre a primeira, segunda e terceira divisão nacional (em torno de 50 clubes). Ainda, existem os clubes considerados pequenos, que vivem em dificuldades financeiras, com pequenos patrocínios, públicos e calendários deficitários. Estima-se que o futebol brasileiro tenha em torno de 650 clubes profissionais. Não é um número exato, pois ele muda todo ano, em função das falências, inatividades e também do surgimento de novos. Então voltamos a questão inicial: Por que o calendário do futebol brasileiro é caótico? Basicamente porque o Brasil tem campeonatos estaduais, além do Campeonato Brasileiro (liga nacional), a Copa do Brasil (copa nacional), além dos torneios internacionais. Se compararmos com os principais países do futebol europeu, lá não há estaduais, apenas as ligas nacionais, copas nacionais e torneios continentais. Isto significa que em média, os clubes brasileiros jogam 15 a 20 vezes a mais que os europeus num ano. Parece pouco? Num mês “cheio”, com jogos de quarta-feira e domingo, geralmente é possível jogar 8 vezes. Logo, são necessários no mínimo dois meses “cheios” para resolver os campeonatos estaduais. Essa expressão “de meses cheios” significa que os jogadores praticamente só jogam, quase não treinam, pois existem viagens e dias de descanso. Jogos em excesso afetam a qualidade do espetáculo. Equipe que não consegue treinar, que atua cansada, jogando contra adversários de pouca atratividade para patrocinadores, para a TV e para o público em geral, que começa a selecionar melhor quais jogos irá frequentar, economizando com ingressos. Então temos a receita do fracasso. Por outro lado, os clubes pequenos só jogam os estaduais. Se tirarem isso deles, o que sobrará? Clubes pequenos aguardam ansiosamente o jogo em casa contra um clube grande, pois sabe que a renda do jogo poderá fortalecer o caixa do clube, dando sobrevida e pagando salários atrasados. Além disso, cabe ressaltar a relevância dos clubes pequenos, que oferecem empregos para vários profissionais que atuam no futebol de forma direta (atletas, comissões técnicas...) e indireta (equipes de apoio, vendedores ambulantes, imprensa...). Ainda, os clubes pequenos são importantes reveladores de atletas, ou seja, a porta de entrada para a maioria dos jovens ingressarem no futebol. Isto é, são as “fábricas” quase invisíveis de talentos que tanto orgulham o futebol brasileiro. A maior parte dos grandes craques do nosso futebol começaram em clubes pequenos. Isto não pode morrer. Qual poderá ser a solução para isto tudo? Recentemente enviei para a Revista Brasileira de Futebol, uma proposta de modificação do calendário do futebol brasileiro, envolvendo a criação de uma copa estadual e do formato dos campeonatos estaduais como fases regionais da quarta divisão nacional. Inclusive alertei para um mecanismo de solidariedade, em que os clubes grandes poderão retribuir financeiramente para os clubes pequenos, em troca de diminuir os jogos deficitários do campeonato estadual. Ficou curioso? Então clique nesse link para ver a proposta completa.
A Copa do Mundo FIFA 2022 terá seu pontapé inicial em poucos meses e já vem nos impressionando desde já. Será a Copa mais cara da história, com uma infraestrutura de cair o queixo, tendo até cidade sendo construída do zero para sediar o evento. Hoje vamos explorar o quanto de dinheiro está girando em torno desse megaevento e falar um pouco também sobre as cifras que compõem nossa querida Seleção Brasileira. Começando no assunto de premiações, cada uma das 32 seleções classificadas para a disputa recebe logo de início US$ 1,5 milhões da FIFA, para arcar com as despesas de preparação para o mundial, como alimentação, segurança, logística de rouparia e materiais, etc. A FIFA banca toda a organização do evento, assim como as viagens e acomodações das seleções. A seleção brasileira, por exemplo, já fechou para ficar no luxuoso Westin Doha Hotel & Spa no Catar, tendo 200 quartos exclusivamente para eles, para terem toda privacidade necessária. A premiação de uma Copa do Mundo nunca foi tão alta quanto da edição de 2022, recebendo:
Os gastos estimados da FIFA com a Copa de 2022 são de cerca de US$ 2 bilhões, entre premiação, comissão organizadora do evento, produção televisiva, gastos pós evento e etc. O que se espera arrecadar entre direitos de transmissão e marketing, bilheteria e outros é cerca de US$ 6,4 bilhões. Estima-se um lucro de mais de US$ 4 bilhões para a FIFA com essa Copa, algo impressionante; mas o mais chocante mesmo é o valor que o país sede está desembolsando com toda infraestrutura para o evento – US$ 200 bilhões. Sim, quase 15 vezes mais caro do que o que o Brasil gastou na Copa de 2014 (US$ 15 bilhões). O fato é que o Catar sempre visou com essa Copa transformar o país em um destino turístico após 2022, com isso, além de toda infraestrutura para o evento, com a construção de 8 novos estádios e centros de treinamento, eles aproveitaram para ampliar o país como um todo – novas cidades, novas linhas de metrô e estradas, 100 novos hotéis, aeroportos, tudo com muita tecnologia e detalhes luxuosos.
Quanto às receitas de Seleção Brasileira, em 2018, tivemos (Thiago Cara, ESPN, 2019):
Mas e gastos com os atletas, a seleção tem? Teoricamente, sim. Na prática, nem tanto. Segundo a Lei Pelé, artigo 41, quando um clube cede um atleta que foi convocado para competições pela Seleção Brasileira, a CBF deve indenizar o mesmo pelos encargos previstos no contrato de trabalho do jogador em questão, ou seja, pagar o salário dele para o clube cedente durante o período em que durar a convocação. Se o atleta volta impossibilitado de jogar pelo seu time, seja contusão, enfermidade, a CBF deve continuar cobrindo seus gastos até que esse esteja 100% apto de voltar a atuar pelo seu clube. No ano de 2021, com a convocação de Gabigol, Everton Ribeiro e Weverton para as eliminatórias e Copa América, o Palmeiras e Flamengo ficaram desfalcados por cerca de 44 dias, e a CBF não pagou nada aos clubes pelos atletas. É assustador quando vemos esse tanto de dinheiro pra lá e pra cá, mas a verdade é que ninguém estaria investindo esse montante se não tivessem a certeza de um retorno ainda maior. Estou ansiosa para a Copa no Catar, e ainda mais para a de 2026 nos Estados Unidos, México e Canadá, que com certeza superará os investimentos de 2022.
De um modo geral, é fácil explicar a um leigo sobre futebol como funciona o principal campeonato do país, o Brasileirão. São quatro divisões (A, B, C e D), sendo a divisão A, a divisão de elite, e a D, a divisão mais baixa do futebol nacional. Há acesso e rebaixamento de quatro times entre as divisões, ou seja, os quatro primeiros colocados, ao final do campeonato, sobem para a divisão acima e os quatro últimos caem para a divisão abaixo. Ok, mas como os times entram para a série D? Quem colocou eles lá? Entra time novo todos os anos ou sempre rodam os mesmos? Muita gente já me fez essa pergunta, e sempre ficava confusa a explicação, já que são diversos fatores que influenciam quais times disputarão a série D. Vamos começar falando do sistema de disputa, sendo o campeonato dividido em 6 fases: Fase 1: Os 64 clubes participantes são divididos em 8 diferentes grupos com 8 clubes/cada. Disputam turno e returno. Os quatro primeiros colocados de cada grupo, ao final da disputa dessa 1ª fase, classificam para a fase 2. Fase 2: Mata-mata (eliminatório), com 32 clubes distribuídos em 16 grupos de 2 clubes/cada. Jogo de ida e volta - perdeu, sai da disputa. Fase 3: Mata-mata, com 16 clubes distribuídos em 8 grupos de 2 clubes/cada. Fase 4: Mata-mata de acesso, com 8 clubes distribuídos em 4 grupos de 2 clubes/cada.
Até o ano passado, antes da primeira fase, a competição tinha uma fase preliminar, onde oito equipes se enfrentavam em mata-mata para definir quatro que passariam à fase de grupos (fase 1). Agora em 2022, o campeonato aboliu a fase preliminar. Vamos entender como esses 64 clubes entram para a disputa. Série C: Quatro clubes dos 64 são os que foram rebaixados da Série C do ano anterior. De 2021 para 2022 foram Santa Cruz - PE, Paraná - PR, Oeste - SP e Jacuipense - BA. Quanto aos outros 60 clubes, vamos por partes. Ranking Nacional das Federações (RNF): As 27 federações estaduais de futebol no Brasil são ranqueadas de acordo com alguns critérios, levando em consideração as competições realizadas nos últimos 5 anos, tendo cada ano um peso diferente na pontuação. Quanto mais times o Estado tem disputando os campeonatos de elite (Brasileirão, Copa do Brasil, Libertadores, etc.) e em boas colocações, mais alta sua posição no ranking. Desde o início do RNF, em 2003, as seis primeiras posições nunca tiveram mudanças, sendo sempre os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Porém, com boas campanhas de clubes como Ceará e Fortaleza, o qual foi semifinalista da Copa do Brasil e quarto colocado no Campeonato Brasileiro 2021, o ranking para 2023 deve trazer muitas novidades. Campeonatos Estaduais: A partir de sua colocação no RNF, a federação estadual tem direito a 4, 3, 2 ou 1 vaga pro campeonato da Série D.
Os times que preencherão essas vagas devem seguir critérios a partir da posição em que terminaram no campeonato estadual anterior, sendo esses:
Exemplo: O Rio de Janeiro, estando em 2º lugar no RNF 2022, tinha direito a 3 representantes do Estado na série D:
**As Federações podem conceder uma de suas vagas para o clube vencedor de um Torneio Seletivo, seguindo normas da CBF, como foi o caso do Pérolas Negras. Esse torneio deve ter sido disputado por no mínimo 4 clubes pertencentes à 1ª Divisão de Profissionais de cada estado. Os clubes classificados pelos campeonatos estaduais/torneios seletivos da temporada 2022, disputarão o Campeonato Brasileiro Série D da temporada 2023. Sempre participam da temporada seguinte à sua classificação. Premiação: Cada clube na série D recebe o valor de R$120 mil para disputa do campeonato, tendo como premiação no presente momento:
Custos Série D: Com um aumento de R$ 8,5 milhões no orçamento de 2021 para 2022, a CBF investe cerca de R$ 60 milhões na série D, incluindo transporte, hospedagem, alimentação, custos de arbitragem e dopagem durante todo o campeonato. Para viagens com distância acima de 700 km, cada clube recebe passagem aérea para 25 pessoas da delegação. Para viagens de até 700 km de distância, cada clube recebe passagem rodoviária/aluguel de ônibus para as delegações. Hospedagem e alimentação são limitadas a 25 pessoas por delegação/jogo. Um pouco confuso, cheio de detalhes, mas muito interessante. Acho fascinante a organização de um campeonato como esse, ainda mais num país tão grande como o Brasil. São inúmeros pontos a serem pensados e detalhados, mas espero ter esclarecido a dúvida de muitos.
É constante a troca de treinadores no futebol brasileiro. Já escrevi sobre isto uma vez nesse link. Acho necessário voltar a abordar esse assunto sob uma análise da gestão de recursos humanos. Os clubes brasileiros trocam muito de treinadores, isto não é novidade para ninguém. Só para embasar esta informação, segue uma pesquisa atualizada do CIES (2022). Numa análise de 90 ligas nacionais profissionais de futebol no mundo, o Brasil é o terceiro no ranking dos clubes que mais trocam de treinadores com base na quantidade de dias de permanência no cargo. Estamos atrás apenas da líder Arábia Saudita (com média de 156 dias no cargo), da segunda colocada Bolívia (média de 162 dias no cargo) e no caso do Brasil, terceiro colocado, com média de 163 dias no cargo. Se olharmos a comparação das 14 maiores ligas do mundo na tabela a seguir, o Brasil lidera fácil o ranking negativo. Na Argentina, os técnicos ficam o dobro do que no Brasil e ainda é menos que um ano de permanência no cargo. Por outro lado, entre os que mais permanecem, estão os Estados Unidos, mas principalmente Inglaterra, Alemanha e Espanha, que estão entre as 5 principais ligas do mundo e não sofrem com esta rotatividade de técnicos. Por que se troca tanto de treinador no Brasil? Baixo desempenho da equipe é a maior causa. Desgaste da relação entre a comissão técnica e atletas também pode levar a troca de comando. Eventualmente o treinador recebe proposta para outro clube, as vezes até, de um clube numa situação pior, mas com um salário e projeção melhores, que podem resultar na mudança. Muito bem, vamos focar nas duas primeiras grandes causas, que é quando a diretoria decide pela mudança. O desempenho está abaixo do esperado, mas qual foi o investimento realizado? O clube tem noção sobre o potencial do elenco? Isto não é uma conta exata, mas oferece uma boa noção sobre qual posição na tabela o clube deveria estar. Exemplo, o elenco tem valor de mercado entre os 5 inferiores da competição e espera que o clube esteja entre os 5 melhores, isso não tem lógica. Como saber o valor dos elencos, Transfermarkt é uma boa referência de pesquisa, mas existem outras formas. Será que as críticas da imprensa em relação ao desempenho esportivo são condizentes com a realidade? Exemplo, até pouco tempo atrás, o técnico Renato Gaúcho fazia um bom trabalho no Grêmio e já queriam ele como técnico da Seleção Brasileira, inclusive, interrompendo o trabalho do Tite. O “relativo fracasso” que o Flamengo teve na sequência já fez a mesma imprensa detestar o Renato, pedindo a cabeça dele. Agora, para eles, o Renato não presta mais. Isso tudo em menos de dois anos... não tem lógica. Qual poderá ser a solução para as constantes trocas? O que realmente me motivou a escrever este texto é sobre a consciência necessária que as diretorias de futebol deveriam ter. A maior parte dos clubes brasileiros não possuem um estilo próprio de jogo. Não possuem uma identidade própria. Exemplos:
Outra situação que devemos refletir. Quando um treinador está bem alinhado com o estilo do clube, provavelmente foi um jogador do clube e ídolo da torcida. Daí surgem alguns resultados ruins e a diretoria troca. Não seria mais lógico a diretoria tentar alguns ajustes e correções pontuais com o treinador ao invés de trocar? Para explicar melhor isto, vou dar um exemplo do meio empresarial. Imaginem um diretor executivo de uma grande empresa, os famosos CEOs que tanto são falados na atualidade. Após alguns meses de resultados ruins da empresa, será que o diretor será imediatamente trocado? Ou tem uma análise mais profunda para descobrir porque a empresa está rendendo abaixo do esperado. Nas grandes empresas, o diretor executivo não toma as decisões sozinho. Geralmente ele é amparado pelo Conselho de Gestão, com vários conselheiros com muito conhecimento sobre o que estão aconselhando. Ou seja, são várias cabeças cooperando para acharem as melhores soluções para a empresa. Voltando para o futebol, qual é a real situação do treinador? Ele normalmente é super pressionado por causa dos resultados. Se perder 3 ou 4 jogos seguidos, provavelmente será demitido. Ele normalmente não pede muitos conselhos para os atletas, pois são diretamente interessados nas escalações. Ele também não costuma receber conselhos dos diretores e conselheiros do clube, porque pode parecer que ele está aceitando sugestões só para manter o emprego. Então, ele recebe no máximo conselhos dos assistentes técnicos. No fim disso tudo, o treinador muitas vezes se sente isolado no cargo e sem respaldo da diretoria, sendo que foi esta mesma diretoria que contratou os atletas. O ideal seria que o diretor de futebol fosse corresponsável pelo desempenho da equipe, afinal, foi ele que contratou o elenco e a comissão técnica. Para ilustrar esta situação, vejamos os exemplos que ocorrem na Seleção Brasileira. Nas Copa de 1994, o técnico Carlos Alberto Parreira teve no Coordenador Técnico Mario Jorge Zagallo uma espécie de conselheiro. Na Copa de 1998, Zico foi o conselheiro de Zagallo. Na Copa de 2002, Luiz Felipe Scolari teve Antonio Lopes na mesma função. Na Copa de 2014, Scolari teve Parreira na mesma função. Agora, para 2022, o Tite procura um “conselheiro”, como foi bem explicado nessa reportagem “Um Zagallo para mim: Tite procura assistente para ser seu antagonista na Copa do Mundo; entenda o perfil e a função”. A ideia é justamente ter alguém com muita experiência, mas que pensa diferente, enxerga coisas que o técnico do momento pode não estar atento e assim, melhorar a qualidade do trabalho. Este conselheiro estará ali para ajudar, sugerir soluções diferentes, mas não deverá se impor sobre o técnico. Dessa forma não haverá perda de liderança, nem duplo comando. Se ao invés de mandar o treinador embora, o trabalho fosse no sentido de fazer pequenos ajustes na forma de jogar, na escalação, na contratação de reforços, o trabalho teria uma sequência melhor, com mais lógica. Daí volto a falar sobre o Conselho de Gestão. Se todos tiverem um bom alinhamento de ideias, conselheiros, diretor de futebol, treinador, os ajustes serão mais naturais. O treinador não sentirá mais isolado e terá melhor respaldo da diretoria. Certamente terá melhores resultados do que simplesmente trocar de treinador, como se fosse a troca de um motivador de grupo. Quer saber mais sobre gestão de elenco e de clube, sugiro essas duas entrevistas, que são verdadeiras aulas gratuitas de futebol:
Conquistar uma vaga na Superliga A de voleibol é uma missão extremamente difícil. Permanecer na competição em sua primeira temporada é ainda mais difícil, em que se destaca o nível de excelência da gestão da equipe Unilife Maringá. Só uma administração neste patamar pode vencer as inúmeras adversidades de uma competição nacional do altíssimo nível. Os custos elevados de inscrição, de manutenção da equipe, viagens e demais despesas operacionais requerem alta qualidade na gestão dos recursos, de forma a manter a equipe competitiva e viável financeiramente. O segundo ponto de destaque é a dificuldade financeira em que o país atravessa. Isto reflete na dificuldade de angariar patrocinadores, pois em tempos de recessão, investimentos em patrocínios geralmente ficam reduzidos. Desta forma, cabe a gestão do clube ampliar as negociações com as empresas patrocinadoras, oferecendo qualidade do projeto esportivo e credibilidade. A credibilidade é demonstrada através de expressivos resultados já alcançados pela equipe na temporada anterior, com a divulgação da marca nas mídias sociais em larga escala, além da cobertura efetiva na imprensa local e nacional. Isto é, a garantia que os valores investidos terão bons resultados de exposição na mídia, reforçando a marca dos patrocinadores perante o público. O terceiro ponto de destaque é o acerto nas contratações de comissão técnica, atletas e membros de apoio, que compreendem a seriedade do projeto e levam este empenho para dentro de quadra, no máximo esforço para a entrega de resultados. Agora, após confirmar a permanência na elite nacional, deve ser realizada uma ampla avaliação da temporada, com as correções necessárias para que o projeto continue em desenvolvimento e atinja resultados ainda mais significativos no cenário esportivo brasileiro.
O fato de que os Estados Unidos são uma potência mundial em diversos esportes é nítido, e que nos últimos anos estão investindo cada vez mais dinheiro e reforços no futebol, também. Porém, o que pouco se sabe, é como o futebol é gerido por aqui. A estrutura americana para o “soccer”, como eles chamam o futebol (football é conhecido somente como o futebol americano), é composta por ligas, e os clubes se franquiam a elas. A principal, a MLS (Major League Soccer), começou a ser pensada quando a Federação de Futebol dos Estados Unidos (US Soccer) se comprometeu a criar uma liga profissional de futebol como uma condição para se tornarem país sede da Copa do Mundo de 1994. Em 1993 a liga é fundada, e em 1996 começa a ser disputada com 10 times. Hoje, com uma média salarial de US$ 325.000/ano e 28 times participantes, a MLS ainda não aparece entre as 10 ligas mais rentáveis do mundo, segundo dados da Sports Unfold. E é esse o objetivo a ser alcançado com tanto investimento sendo feito - juntar a MLS no topo desse ranking, onde vemos em primeiro, segundo e terceiro lugar a NFL (National Football League), a MLB (Major League Baseball) e a NBA (National Basketball Association), respectivamente. Quanto a ser um franqueado, o clube que deseja entrar para a MLS deve pagar um valor mínimo de US$ 200 milhões, além de construir um estádio nos padrões da competição, e apresentar um bom plano de negócios e acionistas. O Charlotte FC, que fará sua temporada inaugural nesse ano, pagou US$ 325 milhões para se franquear, o maior valor até então. A MLS possui também um teto salarial para os atletas, sendo o máximo de US$ 530.000/ano - com exceção dos designated players, que são atletas permitidos pela liga para receberem mais do que esse teto, com o objetivo de trazer jogadores já consagrados para a competição. Por conta de a liga ser organizada no modelo de franquias, com clubes empresa, a competitividade é bem equilibrada, já que todos os clubes possuem as mesmas regulamentações, budgets e incentivos. Particularmente, acho que esse sistema daqui traz certa monotonia para o esporte em si – como não tem acesso e rebaixamento, perde-se um pouco daquela emoção que todo fim de Brasileirão, por exemplo, nos traz. Todavia, devemos lembrar que mais do que essa emoção, os americanos buscam o espetáculo. Além do time de futebol do coração, eles têm o time de beisebol, hóquei, basquete para torcerem. Esse sistema é confortável na visão de muitos, tanto que em 2017, a média de público da MLS era de 21.500 pessoas, comparado com 16.137 torcedores no Brasileirão do mesmo ano. Desde o surgimento da MLS, várias outras ligas foram sendo criadas, estabelecendo uma hierarquia no futebol dos Estados Unidos. A US Soccer reconhece as ligas como profissionais somente até a terceira divisão. A 4ª divisão, por um consenso dos envolvidos no esporte, foi então estabelecida como semiprofissional. Os campeonatos nos Estados Unidos são divididos por conferências/regiões, devido à grande extensão do país. A MLS, por exemplo, é dividida em conferência leste e oeste, e assim que se tem o campeão dessas duas conferências, os mesmos disputam entre si para consagrar o campeão nacional. Como segunda divisão, logo atrás da MLS, temos a USL Championship (United Soccer League). Inaugurada em 2011, hoje conta com 28 clubes nos Estados Unidos e Canadá. Muitas dessas equipes são os times B de clubes da MLS. A média salarial é de US$ 30.000/ano. No seu início, a taxa para se franquear e entrar na liga era de US$ 250.000, e em 2018 esse valor passou dos US$ 7 milhões. Na terceira divisão temos a USL League One e a NISA. A primeira, sendo anunciada em 2017 com o pontapé inicial em 2019, vem com o propósito de entrar em regiões do país que não possuem acesso a um clube profissional local, lançando novos clubes em cidades com população entre 150.000 a 1 milhão de habitantes. Buscam locais que tenham estádios para ser casa dos clubes, e acima de tudo, que tenham negócios locais fortes com interesse de investir e ter um time local. Hoje conta com 11 times, e uma média salarial de US$ 15.000/ano. Já a NISA (National Independent Soccer Association), com sua temporada inaugural em 2019, conta com 10 equipes, e tem planos de criar um sistema de acesso e descenso assim que tiverem 24 equipes, sendo a primeira liga de futebol profissional nos EUA a ter esse sistema. Também com uma média salarial de US$ 15.000/ano, a NISA não cobra taxa de franquia, sendo uma ótima alternativa para ter um clube de futebol profissional nos EUA. Porém, os requerimentos são um investidor no clube, que possua um mínimo de 35% do time e tenha um patrimônio líquido de mais de US$ 10 milhões de dólares - fora o valor do clube e de sua residência pessoal; e também um estádio do clube com capacidade mínima de 1.000 lugares. Fechando a pirâmide americana do futebol, temos na quarta divisão a Nisa Nation, UPSL, USL League Two, NPSL e NSL. Todas são ótimas portas de entrada para ganhar visibilidade e assinar um contrato com um time profissional, ou para conseguir uma bolsa de estudos através do esporte em muitas universidades. A UPSL possui um sistema de acesso e descenso, sendo dividida em premier division - correspondente à primeira divisão; e division I - correspondente à segunda divisão. São mais de 250 equipes em mais de 20 conferências. Mesmo sendo semiprofissional, os jogos são sempre transmitidos por plataformas como a Eleven Sports, tendo assim os atletas a oportunidade de criarem seus materiais de apresentação. A USL League Two é uma a liga de verão, que vai de maio até julho apenas, diferentemente das outras que geralmente têm duas temporadas no ano – primavera (março-julho) e outono (setembro-dezembro). É alvo de muitos clubes que pertencem e são operados por um clube profissional, e que mandam seu time Sub23 para a disputa. Muitos atletas universitários participam aqui também, já que nesse período geralmente estão de férias de verão. As taxas para ingresso nas ligas semiprofissionais ficam em torno de US$ 2.000 – 3.000, mais valores de árbitros, campo, e outros gastos e investimentos necessários durante a temporada. A Nisa Nation, extensão da NISA da terceira divisão, começou a ser disputada ano passado, e é uma associação com várias outras ligas amadoras do país para produzir um campeonato com mais visibilidade, duração e competitividade. Na última temporada foram 10 times divididos em 2 conferências. Funciona como uma porta de entrada para futuros clubes NISA Pro, e por não possuir uma taxa para se franquear, é uma boa opção para os clubes colocaram seus times reserva para jogar, assim como uma opção para os clubes participarem e se prepararem antes de voltar a temporada oficial da liga que participam originalmente – como uma pré-temporada com jogos. Os campeonatos, em sua maioria, são organizados em pontos corridos na temporada regular dentro de cada conferência, e após esses jogos regionais, começam os playoffs (mata-mata), onde vão disputando os campeões de cada conferência entre si para consagrar o campeão nacional. Um modelo muito diferente do que estamos acostumados no Brasil, com seus prós e contras. Aqui muito se preza pelo espetáculo, por isso não importa a época, o esporte, o campeonato, os estádios e arenas estão sempre cheios. Muito ainda está pra acontecer no futebol nos Estados Unidos, e que eles ainda farão da MLS uma das maiores ligas do mundo, é só questão de tempo.
Por mais que falte uma estrutura esportiva clara no Brasil, é evidente que são os clubes os grandes locais de formação de atletas no país. O recente crescimento do Comitê Brasileiro de Clubes com o repasse de verbas para a estruturação de locais de treinamentos e equipe técnicas evidenciou ainda mais a importância dos clubes na formação esportiva no Brasil. Segundo dados do CBC, 6 das 7 medalhas de ouro conquistadas pelo Brasil em Tóquio vieram através de atletas formados em clubes. Do total de 21 medalhas conquistadas, 14 foram de atletas de clubes vinculados ao CBC e 88% da delegação olímpica em Tóquio era de atletas vinculados a clubes. Mas como acontece na prática, a estruturação de uma modalidade esportiva? Para responder essa pergunta conversei com o Diretor de Esportes Aquáticos do Santa Monica Clube de Campo, Eduardo de Oliveira Gomes, especialista em Administração e Marketing Esportivo e que atua na área de gestão esportiva em clubes e federações há 15 anos. Eduardo contou um pouco do processo de estruturação da natação do clube, que nas palavras dele: “transformaram o Santa Mônica de mero coadjuvante no esporte, na terceira força do Sul do Brasil, e um clube que vem crescendo muito no cenário nacional nos esportes aquáticos”. Os números comprovam isso, em 2019, antes da pandemia o clube possuía 1.200 associados matriculados nas atividades aquáticas e a equipe de competição possuía 150 atletas, entre natação e nado artístico. Recentemente, entre 30 de novembro e 04 de dezembro o clube organizou com muito êxito, o campeonato brasileiro infantil de natação. Essa competição foi a maior do Brasil em 2021, com a participação de mais de 700 atletas. Foram 114 clubes participantes, e o Santa Mônica finalizou a competição na 11ª colocação geral, conquistando a 7ª colocação no feminino. Ainda em 2021, 2 atletas do clube disputaram as seletivas olímpicas. Na natação, Rafaela Raurich que também é Campeã Pan-Americana e na Maratona Aquática, Henrique Figueirinha, o maior pontuador na modalidade ao longo do ano. Na Paraolimpíada de Tóquio, Eric Tobera trouxe a medalha de bronze para o clube e o nado artístico teve atletas convocadas para a seleção nacional. Sem dúvida um ano de muito sucesso. Vendo os resultados nas águas, pode até passar despercebido que a modalidade é relativamente recente no clube, iniciou nos anos 90, e posteriormente com a inauguração da piscina olímpica em 2016, e a filiação ao CBC – Comitê Brasileiro de Clubes, os esportes aquáticos tiveram grande impulso. Houve um aumento do número de praticantes, maior organização da equipe de competição, contratação de profissionais, aquisição de equipamentos modernos, dentre várias outras ações que levaram o Santa Monica aos resultados expressivos que o clube alcança atualmente. Um clube que recentemente completou 60, com uma área de 72 alqueires, e em torno de 25.000 associados (entre titulares e dependentes) que hoje possui umas das melhores e mais bonitas piscinas olímpicas do Brasil. Construída dentro das normas da FINA, coberta, com espaço termo acústico e ecologicamente correta. Além disso, são 2 salas de academia para os atletas e 1 sala de fisioterapia, ambas compartilhadas com as demais modalidades e equipadas com modernos aparelhos. A equipe técnica é composta pela supervisora dos esportes aquáticos Joyce, atleta olímpica e campeã Pan-Americana de basquete. O Head Coach da natação é Walde Saldanha, técnico de atletas de seleção brasileira, e que esteve à frente da natação do Clube Curitibano por muitos anos, além de mais 6 técnicos de natação e 1 técnica de nado artístico. Compartilhado com outras modalidades o Santa Mônica ainda possui 4 preparadores físicos e 2 fisioterapeutas. Além do apoio do CBC, para manter e desenvolver a modalidade, o clube conta também com um Projeto da Lei de Incentivo Federal e para o ano de 2022 irá iniciar um projeto social em parceria com a Prefeitura de Pinhais, onde 40 crianças entre 7 e 8 anos estarão iniciando a prática da natação, no contraturmo escolar nas dependências do clube. Mais uma possível fonte de novos talentos. Os resultados obtidos pelo Santa Mônica em tão pouco tempo chamam atenção do que pode ser construído com um bom planejamento e organização. A médio e longo prazo os resultados tendem a serem ainda melhores e ficam de exemplo para outras entidades que ainda estão iniciado, ou mesmo pensando em se organizar em alguma modalidade.
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Entidades Desportivas
Área reservada para a discussão de temas sobre gestão de clubes, federações e entidades desportivas em geral
Histórico
Abril 2023
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