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Formação de jogadores de futebol: a transição do futsal para o campo

20/8/2018

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​Vários jogadores brasileiros de futebol com destaque internacional, quando eram crianças, iniciaram a prática esportiva no futsal. Casos conhecidos como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Robinho e Neymar, são alguns exemplos. No grupo que disputou a Copa de 2018, 12 dos 23 jogadores da Seleção Brasileira foram federados no futsal, como mostrou esta reportagem. Também é frequente ouvirmos comentaristas de futebol elogiando jogadores com “habilidade de futsal”.
 
Por que será que o futsal é tão lembrado assim na formação de jogadores?
 
O futsal é amplamente praticado pelas crianças no Brasil, devido as facilidades de ter quadras poliesportivas nas escolas e bairros. Isso resulta em ganhos significativos na formação de jogadores de futebol, com maior habilidade com a bola.
 
Quanto menores são as crianças, o ideal é que o espaço de jogo seja menor. Além disso, que o número de participantes também seja menor. Um jogo de 11 jogadores contra 11 é muito mais complexo do que 5 contra 5, em relação ao tamanho do espaço de jogo, em relação as diferentes possibilidades de passes. Isto tudo resulta numa dificuldade maior de controle sobre a bola e sobre as ações do jogo, como defender, atacar e fazer gols.
 
Quem já viu campeonatos de futebol de campo com crianças abaixo de 10 anos?
 
Costuma ser um monte de crianças correndo atrás da bola, com muitos chutões e quase nenhum passe. Geralmente ficam concentrados num dos lados do campo, no lado da equipe mais fraca. Qualquer chute alto a bola entra no gol, pois as traves dos adultos são gigantes para as crianças. Também existem casos que a bola utilizada também é dos adultos, parecendo uma “melancia” pesada para os pequenos jogarem. Obviamente que essa não é a iniciação esportiva adequada no futebol.
 
Crianças devem jogar em espaços adequados para crianças. No vôlei e no basquete também fazem estas adaptações, como o minivôlei com apenas 3 jogadores de cada lado, quadra menor e rede mais baixa, ou o minibasquete com uma cesta adaptada mais baixa e bola mais leve.
 
É possível reduzir as medidas dos campos de futebol e também das traves e bolas? Sim, muitos fazem isso. É um passo importante para facilitar essa adaptação. No entanto, na maior parte dos campos de futebol e competições de crianças, não fazem estas adaptações.
 
Por tudo isso que o futsal é a melhor forma de iniciação esportiva para crianças:
  • O espaço de jogo é menor. Os gols estão mais próximos tanto para defender quanto para atacar, ou seja, os participantes não estão correndo à toa. Estão constantemente tentando resolver os problemas do jogo, como superar a marcação, criar oportunidades de finalização e em recuperar a bola;
  • A participação das crianças é mais efetiva, com maior número de toques na bola do que no extenso campo de futebol;
  • A quadra, apesar de ser dura e as vezes áspera nas quedas, facilita o domínio da bola com quiques mais baixos e sem as irregularidades do campo, tornando o jogo mais rápido;
  • O número de jogadores, com 5 para cada lado, torna mais fácil a compreensão do jogo, além das possibilidades de passes e também das responsabilidades de cada participante. Ninguém pode se “esconder” em quadra;
  • As constantes substituições também são um ponto positivo. Crianças costumam ter pouca resistência e nada mais justo que ao sentirem cansaço, sejam substituídas. Depois de descansar, entram novamente para jogar.
 
Além desses aspectos positivos óbvios da iniciação no futsal, a modalidade também costuma ser uma grande oportunidade de desenvolvimento técnico dos jogadores. Aqui, ainda podemos continuar falando sobre as crianças, mas também já incluir os adolescentes.
 
Como o futsal é jogado em espaços reduzidos, isso naturalmente proporciona:
  • Que os jogadores desenvolvam a habilidade de manter a posse de bola contra uma marcação próxima, aprendendo a protege-la sem desespero;
  • Que os jogadores utilizem as duas pernas para chutar e passar a bola;
  • Que os jogadores usem a habilidade individual para superarem a marcação adversária, com dribles com a bola e fintas sem a bola (movimentações para se livrar da marcação);
  • Que os jogadores consigam chutar rapidamente a bola, antes do bloqueio adversário;
  • Que os jogadores pensem rapidamente no que farão com a bola, antecipando os movimentos adversários, pois o jogo exige agilidade.
 
No futsal nem tudo é drible. Há muita movimentação sem bola e muitos passes rápidos que fazem o jogo fluir. Só que o drible está sempre ali, pronto para ser utilizado quando for necessário ou quando houver uma boa condição para isto. Seja por jogadores de ataque ou de defesa, afinal, a constante movimentação dos jogadores faz com que os defensores ataquem e os atacantes defendam muito mais do que ocorre no futebol.
 
Podem reparar, quando um jogador de futebol de campo joga no futsal, ele parece ficar desajeitado em quadra. O espaço para driblar e chutar a gol geralmente é pequeno e ele não consegue fazer com a mesma precisão que costuma fazer no campo.
 
E o contrário, jogadores de futsal se adaptam bem ao futebol de campo?
 
Geralmente sim, costumam demonstrar maior habilidade com a bola e facilidade com a marcação um pouco mais distante. No entanto, também sentem dificuldade em relação ao que falta no futsal, como chutes longos, passes longos e lançamentos. O domínio de bola também complica um pouco, devido as irregularidades do campo, acaba desacelerando os movimentos do jogador de futsal.
 
Por tudo isso que é extremamente importante saber a hora certa de fazer a transição dos jogadores de futsal para o campo, quando este for o objetivo final. Se transferir muito jovem, os benefícios do futsal não surtirão efeito, como o maior desenvolvimento da habilidade e o jogo rápido. Por outro lado, se atrasar a transferência, o jogador poderá perder muito tempo para se adaptar ao futebol e perder espaço na concorrência por vagas nas categorias de base dos clubes, atrapalhando o desenvolvimento final.
 
Se considerarmos que geralmente as crianças iniciam a prática regular do futsal por volta dos 8 anos de idade, transferir a partir dos 11, possibilitará que ele tenha praticado aproximadamente 3 ou 4 anos de futsal, consolidando melhor o aprendizado da modalidade.
 
Já a idade ideal para fazer esta transferência será entre 12 a 13 anos.
 
O limite máximo será até os 14 anos. Esta é a idade (categoria infantil sub15) que a maioria dos clubes de futebol inicia a seleção de atletas para a formação das equipes de competição. Tentar entrar nos clubes após esta idade, tornará tudo mais difícil, como maior tempo de adaptação e maior concorrência para ser selecionado. Fazer a transferência dos 15 anos em diante provavelmente já terá deixado a oportunidade passar. Existem alguns casos de sucesso, mas são exceções.
 
Nesse período, entre os 11 a 14 anos, o jogador poderá continuar atuando nas duas modalidades de forma simultânea, sem que ocorram treinamentos em excesso. Também é possível a inserção numa modalidade intermediária, conhecida em alguns lugares como futebol suíço, noutros como futebol society. Esta modalidade geralmente é disputada com 7 ou 8 jogadores, em campo de grama natural ou sintética, num campo maior que uma quadra, mas menor que o campo de futebol.
 
Oferece um pouco dos benefícios do futsal e um pouco dos benefícios do futebol. No entanto, como não é uma modalidade tradicional, com competições, raramente os clubes oferecem treinamento no futebol suíço, ficando muito mais para um esporte de lazer aos finais de semana.
 
Também é interessante possibilitar que os jovens jogadores tenham experiências no futevôlei e no futebol de areia. São modalidades que utilizam as mesmas técnicas de jogo do futebol, porém em situações completamente diferentes, com o piso totalmente irregular. Estas são modalidades que irão contribuir muito no domínio e controle de bola dos jogadores. Grandes nomes do futebol brasileiro também eram jogadores exemplares destas modalidades, como Zico, Júnior, Romário, Djalminha, Edmundo, Renato Gaúcho, entre tantos outros.
 
Resumindo as ideias acima, as modalidades futebol e futsal são parecidas, porém possuem diferenças significativas para o alto rendimento. O futsal pode contribuir muito mais na formação de jogadores de futebol do que o contrário. Naturalmente isso já ocorre no Brasil. Basta saber quando realizar a transferência do jogador de futsal para o futebol, sem perder o tempo certo. Quando possível, será benéfico também inserir o futebol suíço, o futevôlei e o futebol de areia.
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Autor: Luiz Antonio Ramos Filho
Mestre em Gestão do Esporte e Especialista em Futebol (mais sobre o autor)
Fonte: GestaoDesportiva.com.br
*As opiniões e informações publicadas nesse blog são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente os valores do GestaoDesportiva.com.br
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Vamos falar sobre estratégia?

1/8/2018

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O Mundial de Futebol masculino acabou, discussões de todos os tipos passaram pelo e após o evento, mas tem um assunto que, especialmente no futebol (vou tentar justificar em instantes...), sempre vem à tona... A questão estratégica...
 
Sempre gosto de falar sobre esse assunto, mas a motivação para esse texto em específico surgiu após a leitura de um texto divulgado após a primeira rodada da Copa do Mundo:  “Como basquete e handebol explicam a abundância de bola parada e o sofrimento dos grandes na Copa”.
 
No texto, o autor sugere que as tendências estratégicas defensivas do handebol e ofensivas no basquetebol podem ser utilizadas para entendermos as opções estratégicas das equipes na primeira rodada do Mundial de futebol. O que mais me chama a atenção, no entanto, é um certo grau de surpresa na evidência de que a estratégia faz diferença...
 
Pois bem, por que considero importante falar sobre estratégia?
 
“Nem sempre é preciso ter os melhores jogadores para vencer, e sim a melhor estratégia”, disse Jurgen Klopp, como citado no texto acima. Muito simples. Num jogo de futebol, como em qualquer outra modalidade e coletiva, tendo em visita seu contexto aberto, complexo e imprevisível, a questão estratégica é fundamental. Isso, fundamento. É a base que sustenta um bom desempenho.
 
Em um jogo entre duas equipes que ignoram esse fato, outras coisas são cruciais. Mas num jogo em que uma equipe quer vencer, é preciso planejar como isso vai acontecer. Tecer como jogadores e equipe vão construir seu caminho e lidar com as (muitas) adversidades que vão surgir.
 
Estratégia pode ser entendida como um processo de caráter prospectivo que define os contornos da atuação tática do jogador. É um sistema de planos de ação de curto, médio ou longo prazo que visa atingir determinados objetivos (fazer um gol nos primeiros 20 min de jogo; permanecer entre as 4 primeiras equipes do campeonato; ser a equipe com mais jogadores a participar de uma Copa do Mundo, para exemplificar em diferentes escalas).
 
Por que acho que isso salta aos olhos especialmente no futebol?
 
Querendo ou não é a modalidade mais vista, mais comentada e mais cheia de entendedores (e corneteiros) do assunto. Muitos dos entendedores estão com o poder da fala e da escrita nas mãos, na mídia, e influenciam a forma como milhares de pessoas enxergam e entendem o futebol. Muitas vezes a questão estratégica é negligenciada ou subvalorizada. A discussão muitas vezes fica na superficialidade técnica.
 
Quantas vezes ouvimos a saudosa lembrança do futebol brasileiro de outrora, de grande maestria técnica, como a solução para as mazelas de desempenho do futebol atual? Enquanto lamentamos, veja um exemplo do que está rolando por aí:  https://rondos.futbol/2018/06/fluidez-posicional-y-el-futbol-del-futuro-una-primera-reflexion/
 
E por que acho esse assunto preocupante?
 
Minha preocupação sempre recai sobre a formação. Como jogadores e jogadoras podem pensar, atuar, compreender a lógica do jogo, de forma estratégica? Como devem ser planejados os treinos – em curto, médio e longo prazo – para que cada vez mais os atletas saibam compreender o jogo e criar a partir das escolhas estratégicas de sua equipe?

Por que muitos jogadores estranham um treino que do começo ao fim é conectado de intenções estratégico-táticas, onde correr ao redor do campo para aquecer não faz o menor sentido? Por que o Neymar não entende de "tática"?
 
A formação de jogadores e jogadoras inteligentes passa por um processo que explore a criatividade, as tomadas de decisão, a variabilidade motora, a resolução de problemas. A linguagem no treino deve ser a linguagem estratégico-tática. Ao longo da formação esportiva, professores e professoras devem conhecer a "matéria", para ter condições de criar um ambiente no qual as crianças e adolescentes construirão sua compreensão do jogo.
 
Quando atletas profissionais, seu treinador e treinadora devem ser conhecedores da modalidade na sua mais profunda especificidade, nos detalhes, nas nuances. Devem estudar constantemente e estar atentos às mudanças geradas pela evolução do jogo e pelas imposições adversárias.

Se vocês notaram, usei o termo tático junto ao termo estratégia, tendo em vista a sua íntima relação e interdependência.
 
Para finalizar, deixo aqui uma proposta:
 
Pense nos treinadores e treinadoras da(s) modalidade(s) esportiva(s) que acompanha. É possível perceber que eles estudam, que eles entendem profundamente o jogo?
 
Taí a deixa para um próximo texto. Até lá!
 
Agradeço ao meu amigo Diogo Castro, grande estrategista, por compartilhar dois dos artigos que compõem este texto.

Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/rush-futebol-grass-jogar-1335365/
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Autora: Thatiana Freire
Mestre em Estudos do Esporte e Especialista em Pedagogia do Esporte
Fonte: GestaoDesportiva.com.br
*As opiniões e informações publicadas nesse blog são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente os valores do GestaoDesportiva.com.br
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Considerações sobre a Copa do Mundo, e a participação e eliminação brasileira

17/7/2018

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​​A Copa do Mundo da Rússia chegou ao fim, e uma coisa ficou clara: favoritismo não ganha jogo. Já na fase de grupos vimos jogos surpreendentes e feitos improváveis. Uma das surpresas foi a Alemanha, campeã em 2014, sendo eliminada em último lugar no grupo, pior campanha da sua história em copas do mundo.
 
Mesmo revertendo uma situação complicada com um desempenho impressionante contra a Suécia no segundo jogo, após uma derrota por 1 a 0 para o México na primeira partida, todo o empenho alemão não foi suficiente, e novamente foram derrotados, desta vez pela Coréia do Sul. Apesar disso, a postura apresentada pela seleção da Alemanha – referência no que diz respeito ao trabalho psicológico – no quesito controle e equilíbrio emocional foi exemplar.
 
Também com moral elevada antes da estreia, vimos uma seleção brasileira sofrendo nas mãos – ou pés e cabeça – da Suíça no primeiro jogo. A dependência de um jogador referência que parecia ter o foco dividido entre seu desempenho e a imagem pessoal, com desempenho bem inferior do esperado, individualista; e a culpabilização de fatores externos – leia-se arbitragem – pelo empate, ao invés de elaborar e assumir a responsabilidade pelos erros cometidos, foram determinantes no resultado.
 
A redenção viria contra a Costa Rica. A princípio um jogo que deveria ser favorável se mostrou um grande desafio, persistindo em 0 a 0 até os acréscimos. O que vimos foi insegurança e bastante descontrole emocional por parte de alguns jogadores, agredindo verbalmente árbitro e adversários, entre outras reações explosivas.
 
Após alterações ousadas e muita pressão a seleção brasileira enfim abriu o placar, e ainda chegou ao segundo gol com Neymar, tirando um pouco do peso enorme que vinha carregando. O que vimos após o apito final foi um choro descompensado do camisa 10, reação que pode representar uma catarse e descarga emocional de toda a pressão sofrida. De qualquer forma, algo que mereceria a devida atenção.
 
Já no último jogo da fase de grupos a seleção brasileira parecia estar encontrando o caminho. Com Neymar mais confiante e buscando o jogo coletivo, conseguimos impor um ritmo e garantir o primeiro lugar do grupo. Em suma, vimos um crescimento do time do Brasil ao longo dos três jogos da primeira fase. A apreensão, porém, começou a recair sobre o nosso camisa 9, o centroavante Gabriel Jesus, que não conseguia balançar as redes.
 
A fase de mata-mata traz novos elementos emocionais, e novamente vimos confrontos épicos e o favoritismo cair por terra. Com duas viradas de placar e sete gols no jogo, a França desclassificou a Argentina de Messi por 4 a 3, apesar do gol de Agüero nos acréscimos.
 
E a surpresa das oitavas ficou por conta da eliminação da Espanha pela anfitriã Rússia nos pênaltis. Também nas penalidades, após jogo duríssimo contra a Dinamarca, a Croácia se classificou. A seleção brasileira, apesar de grande atuação do goleiro mexicano Ochoa, garantiu a classificação por 2 a 0 sem grandes problemas.
 
O revés brasileiro veio nas quartas de final. A Bélgica saiu na frente com gol contra de Fernandinho, que estava substituindo Casemiro suspenso. Ainda no primeiro tempo De Bruyne marcou o segundo gol belga. Desde então, até meados do segundo tempo, a seleção brasileira demonstrou dificuldade em lidar com a situação adversa e reencontrar o foco da partida, sem conseguir criar grandes chances, sofrendo com a forte equipe belga. Somente aos 30 minutos do segundo tempo conseguimos tirar o zero do placar, mas sem conseguir manter a intensidade acabamos eliminados. Enquanto isso, demonstrando foco e grande resistência mental, a Croácia elimina a anfitriã, novamente nas penalidades, e avança às semifinais.
 
Vale destacar que na semifinal contra a Inglaterra, mais uma vez a Croácia teve que lidar – e soube fazê-lo muito bem – com uma prorrogação. Foram três prorrogações nos três jogos da fase eliminatória, o que exige um grande esforço não apenas físico, mas também mental. Já na final contra a França, apesar de pressionar bastante nos primeiros 20 minutos e lutar bravamente até o final, o desgaste das três partidas anteriores parece ter pesado, e a excelente seleção francesa conseguiu impor seu jogo e levar seu segundo título mundial.
 
Por parte do Brasil, algumas declarações chamaram a atenção após a eliminação. Por exemplo, ouvimos Neymar dizer que seria difícil voltar a jogar depois disso. O esporte de alto rendimento envolve saber lidar com derrotas, elaborar e extrair os aprendizados necessários para desempenhar melhor nos próximos desafios.
 
Confiança excessiva, talvez, e lidar com as pressões e a frustração, são aspectos que devem ser devidamente trabalhados. Também vimos Gabriel Jesus se queixar – apesar da aparente tranquilidade nas entrevistas durante a competição – da angústia por não marcar gols. É preciso manejar adequadamente a ansiedade para que se consiga manter o foco e atingir o objetivo pretendido.
 
Ainda sobre Neymar, sabemos que simular e valorizar faltas faz parte do esporte. O problema dele talvez seja fazer isso de maneira exagerada. Não a toa virou piada em todo o mundo, o que não vemos acontecer com outros jogadores. Neymar é, sem dúvida, um dos melhores do mundo hoje. Talvez falte maturidade e uma orientação adequada para que se concentre efetivamente no desempenho e possa realmente brilhar e render tudo que é capaz.
 
Somado a isso tudo, o próprio povo e cultura esportiva do Brasil, acostumados com grandes destaques nas mais diversas modalidades – Pelé, Ayrton Senna, entre outros – tem muita dificuldade em lidar com a derrota e reconhecer e valorizar os esforços dos nossos atletas quando estes não estão no topo, o que coloca ainda mais pressão nos esportistas brasileiros.
 
Vimos, por exemplo, muitas críticas e ataques – inclusive de cunhos racistas – direcionados ao Fernandinho após a eliminação. O peso de representar o país já é grande o suficiente para que coloquemos mais lenha na fogueira. Deveríamos, ao invés disso, reconhecer e valorizar o esforço, desde que legítimo, e apoiar nossos atletas para que se sintam amparados. Afinal, perder é parte do esporte.
 
Diferentes falhas emocionais em diferentes momentos e contextos de uma competição do mais alto nível de exigência. Apesar da evidente estagnação do futebol brasileiro, diretorias insistem em fechar as portas para uma ciência que poderia fazer a diferença.
 
Temos uma boa geração de atletas, que ainda podem render bons frutos, desde que o conservadorismo se desfaça e esses atletas recebam o devido apoio. Enquanto banalizarmos e tratarmos a Psicologia do Esporte entre aspas, delegando o suporte emocional a pessoas não capacitadas para tal, outras seleções continuam avançado. Talentos já não garantem vitórias nem títulos. Outros aspectos, infelizmente desvalorizado no nosso futebol, estão fazendo diferença.
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Autor: Alexandre Herbst
Psicólogo Especialista em Psicologia do Esporte
Fonte: GestaoDesportiva.com.br
*As opiniões e informações publicadas nesse blog são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente os valores do GestaoDesportiva.com.br
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Psicologia do Esporte: O que é? O que faz? Como faz?

5/7/2018

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​A Psicologia do Esporte no Brasil tem pouco mais do que seis décadas de existência. O início se deu com o professor João Carvalhaes em 1954, no Departamento de Árbitros da Federação Paulista de Futebol. Se para nós, seres humanos, 60 anos é uma idade que indica maturidade e experiência, para uma ciência em desenvolvimento ainda há muito o que percorrer. Mas, aos poucos, vem conquistando seu espaço e reconhecimento.
 
Mas afinal, o que faz a Psicologia do Esporte?
 
Na área esportiva é comum valorizarmos principalmente a condição física dos atletas. Porém, cuidar do corpo significa também percebê-lo como um todo unificado, integrado, do qual fazem parte também as emoções e estruturas mentais, e entender que todas as esferas (física, tática, técnica, psicológica) atuam em conjunto e influenciam umas às outras.
 
Segundo Benno Becker Jr., um dos principais autores brasileiros no assunto, o objetivo da Psicologia do Esporte é investigar as causas e os efeitos das ocorrências psíquicas que o ser humano apresenta antes, durante, e após o exercício ou o esporte, sejam estes de cunho educativo, recreativo, competitivo, ou reabilitador.

Em outras palavras, é o campo da ciência que trabalha com os fatores psicológicos (emoções, pensamentos e comportamentos) que afetam atletas e praticantes de atividades físicas, para melhorar o desempenho esportivo ou a qualidade da experiência da atividade física, ajudando atletas e praticantes a controlar suas emoções, seus pensamentos, sua ansiedade, agressividade, relação com companheiros de equipe, entre outros.
 
Muitas vezes os papéis da Psicologia do Esporte e da Psicologia Clínica são confundidos, quando na verdade são especialidades diferentes, e esta falta de esclarecimento pode dificultar a aceitação do psicólogo esportivo por parte de instituições, atletas, treinadores. Para exemplificar, em um simpósio da CBF em 2016, o ex-treinador da seleção brasileira de futebol, Dunga, manifestou sua resistência ao trabalho psicológico. Nas palavras do próprio Dunga, “o jogador chega na seleção depois de uma viagem de 11 horas, tem poucos dias até o jogo. Ele vai abrir o coração dele (para um psicólogo) em meia hora?”.

Essa declaração demonstra a confusão que citei acima. Não se “transporta” para o ambiente esportivo o “divã”. As estratégias de intervenção dessas áreas podem ser em alguns momentos similares, porém os objetivos são distintos. Na área esportiva procuramos desenvolver as principais habilidades psicológicas para otimizar o desempenho.
 
Outro ponto levantado pelo ex-treinador diz respeito ao sigilo das informações trocadas entre o psicólogo e o atleta. Ele diz que “não sabe pra quem o cara vai contar o que ouvir”. Vale lembrar que a Psicologia é regida por um código de ética elaborado pelo Conselho Federal de Psicologia, e no artigo 9 diz que é dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.

Então é necessário desconstruir algumas ideias equivocadas para que este trabalho possa ser desenvolvido. A atuação profissional mais conhecida está relacionada aos esportes de competição e alto rendimento. Mas não é só esse o foco. O psicólogo do esporte pode atuar também em:
  • Práticas de tempo livre: atividade física como manutenção da saúde e do bem-estar;
  • Esporte escolar: a relação do praticante com o ambiente escolar, nos mais variados graus;
  • Iniciação esportiva: crianças e jovens envolvidas em atividades esportivas, pedagógicas e competitivas;
  • Reabilitação: recuperação psicológica de lesão, atividade física como meio para reabilitação ou inserção social, obesos, doentes cardíacos, doentes mentais, pessoas com necessidades especiais;
  • Projetos sociais: esporte como meio de educação e socialização de crianças e jovens de comunidades carentes.
 
Sendo assim, os psicólogos esportivos podem atuar em academias de ginástica, escolas, centros recreativos, clubes, programações educacionais junto a educadores físicos, entre outros. Nesses contextos que não correspondem ao esporte de competição e alto rendimento, o papel do psicólogo consiste em orientar o praticante no sentido de controlar estresse e ansiedade, gerar motivação, prevenir lesões e excesso da prática, visando sempre ao bem-estar, à saúde e ao lazer.
 
E de que forma acontece o trabalho da Psicologia do Esporte?
 
Sempre que se inicia um trabalho, em qualquer área da atividade humana, é necessária uma avaliação prévia.
 
Vale lembrar que o trabalho psicológico não é imediatista. É muito comum equipes chamarem um psicólogo em momentos de crise, na tentativa de “apagar o incêndio”. Para ser eficaz, o trabalho deve ser desenvolvido a longo prazo, através de um acompanhamento sistemático.
 
Durante esse processo, o profissional utiliza diversas técnicas e ferramentas específicas para o trabalho em questão. Em um primeiro momento ele recolherá informações básicas sobre como funciona a instituição e o grupo esportivo em que vai trabalhar. Para isto utiliza entrevistas, inventários e observações pessoais. É de fundamental importância ouvir a avaliação do treinador e dos membros da equipe técnica a respeito de como funciona a dinâmica do grupo esportivo. São aplicados questionários, realizadas observações de treinos e competições, levantamento do perfil e pontos fortes e fracos de cada grupo ou atleta.

​A partir das informações obtidas é estruturada a intervenção, que pode utilizar técnicas de relaxamento, ativação, controle de atenção, concentração, mentalização, conforme as necessidades observadas, buscando atingir um estado mental que possibilite seu melhor desempenho.
 
Concluindo…
 
Dar aos atletas respaldo psicológico é tão importante quanto lhes fornecer uma alimentação balanceada, programada por nutricionistas, ou um treinamento físico específico, orientado por um educador físico. Mostrar aos atletas que cada profissional contribui com seus esforços e sua técnica para alcançar os objetivos da equipe, certamente é o caminho adequado para o início de um trabalho consistente.
 
Espero que essas informações ajudem a clarear um pouco a compreensão sobre a Psicologia do Esporte, e que sirva para dar um bom panorama sobre essa área de atuação que vem se solidificando nos meios esportivos.
 
O objetivo aqui é sempre enriquecer a compreensão e o conhecimento, e quem sabe abrir novas possibilidades à quem talvez não conhecesse à respeito.
 
Até a próxima!
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Autor: Alexandre Herbst
Psicólogo Especialista em Psicologia do Esporte
Fonte: GestaoDesportiva.com.br
*As opiniões e informações publicadas nesse blog são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente os valores do GestaoDesportiva.com.br
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Pedagogia e Gestão do Esporte. Que esporte?

22/6/2018

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Escrever sobre pedagogia do esporte em uma plataforma sobre gestão esportiva faz sentido?

Aproximar essas duas áreas será um dos meus objetivos ao escrever por aqui. Agradeço a oportunidade e espero contribuir com o diálogo.

Vou começar, neste primeiro texto, discutindo um pouco sobre qual esporte pretendo falar. Tratarei daqui do esporte sem sobrenome ou apelidos. Não será do Esporte Social da Silva ou do Esporte Educacional de Souza. Muito menos do Esporte Competitivo Oliveira ou do Esporte Rendimento Rodrigues.

Ainda que entenda que a definição sobre as manifestações de esporte presentes na Lei Pelé¹ tenha contribuído para a diversificação das possibilidades de relação com o esporte e direcionamento de políticas, insisto em tratá-lo no singular. Esporte. Não tem plural, apesar de ser plural. Mais ainda, acredito que as tentativas de atribuir a ele os diferentes “sobrenomes”, fizeram prevalecer, ao longo da história, um caráter utilitário ao esporte, enfraquecendo-o como um fim em si mesmo.

Vou exemplificar: o Esporte é um direito garantido na constituição federal brasileira (e de outros países). Ao estado cabe fomentar as práticas esportivas, formais e não formais. Um estudo do Observatório Latino-Americano de Inovação Pública Local² identificou 1.050 ações voltadas ao esporte em alguns países da América Latina. No Brasil, foram 731. Apenas uma pequena parte destas ações foi classificada como política pública de esporte, ou seja, que tem o esporte como objetivo principal. No Brasil, 27% das experiências entram nesse grupo. A maior parte das políticas não se refere ao esporte em primeiro lugar. Na verdade, tem o esporte como “pano de fundo”, como ferramenta para alcançar outros objetivos, tais como educação, saúde e inclusão social.

Utilizar o esporte como ferramenta é um problema? Não. Até porque, de fato, é um instrumento poderoso pela sua complexidade e capacidade de mobilizar e envolver as pessoas. Mas, vale a pena perguntar: a prática esportiva enquanto meio, garante o direito ao esporte?

O que me parece um problema é não destinar a atenção para aquilo que o esporte tem de genuíno, para o seu valor em si mesmo. É não entender o acesso ao desenvolvimento esportivo (que inclui formação esportiva, cultura esportiva) como o direito e, portanto, não destinar as políticas públicas para tal. Imagine o esporte como ferramenta em um projeto de inclusão de jovens de baixa renda. Se o objetivo é promover a inclusão, facilmente podemos trocar a ferramenta, por música ou tecnologia, por exemplo. Se o objetivo é promover a formação esportiva, o esporte deve estar no centro. E, possivelmente, vai gerar inclusão.

É, portanto, desse esporte que debateremos aqui. Fenômeno de grande expressividade, que com trato pedagógico e gestão adequada, é condição para o desenvolvimento pleno do ser humano. Patrimônio cujo acesso é direito de todos e deve ser garantido. Não por diminuir os índices de obesidade ou sedentarismo. Não por ser útil. Mas, como diz Bento³, por entender que “sem desporto, o envolvimento cultural dos homens empobrece, torna-se descarnado e ressequido de emoções e paixões.”.

Afinal, é o inútil que dá beleza a vida.

¹A lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 prevê atualmente as seguintes manifestações do esporte: desporto educacional, desporto de participação, desporto de rendimento e desporto de formação.

²SANTOS, Marinella Burgos Pimentel dos ; SANTOS, Fernando Burgos Pimentel dos ; LEMOS, Roberta Freitas . Deportes y Políticas Públicas Locales en América Latina. In: SALINAS, Javier; OCHSENIUS, Carlos. (Org.). Innovación Local en América Latina: Un recorrido por diversas experiencias latinoamericanas, estudios e investigaciones. Santiago: Observatorio Latinoamericano de la Innovación Pública Local, 2010, v. , p. 340-370

³Trecho retirado do texto Formação e Desporto, de Jorge Olímpio Bento, extraído do livro: TANI, G.; BENTO, J. O.; PETERSEN, R. D. S. (Eds.) Pedagogia do Desporto. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
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Autora: Thatiana Freire
Mestre em Estudos do Esporte e Especialista em Pedagogia do Esporte
Fonte: GestaoDesportiva.com.br
*As opiniões e informações publicadas nesse blog são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente os valores do GestaoDesportiva.com.br
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O treinamento integrado no futebol: a realidade do jogo!

25/5/2018

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​O treinamento integrado no futebol, tem como objetivo juntar todas as capacidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas necessárias para a alta performance. Aproximando assim, de fato, da realidade do jogo.
​
No passado, a preparação era vista como capacidades divididas, em que os métodos de treinamento de modalidades individuais influenciaram diretamente a forma que os jogadores de futebol treinavam. Por isso tornou-se tão comum ver jogadores trotando longos períodos ao redor do campo, ou mesmo fazendo tiros de velocidade em distâncias acima de 50 metros. A bola era pouco utilizada como parte do treinamento físico.

O desenvolvimento da preparação física específica do futebol passou a analisar melhor o que realmente era exigido durante um jogo e de que forma os jogadores deveriam ser treinados. Inserir a bola e exigências técnicas e táticas passaram a ser o foco da preparação. Afinal, o jogo exige máxima concentração dos jogadores. Quando já estão cansados, necessitam cruzar a bola, fazer passes e lançamentos, chutes a gol, marcarem os adversários e se posicionarem da melhor forma em campo. Por isso, não basta correr ao redor do campo, pensando em outras coisas distantes do jogo de futebol.

Esta compreensão sobre as exigências específicas do jogo levou aos preparadores físicos criarem o método de treinamento integrado. Isto significa que é planejada uma combinação de treino técnico e tático, baseado em parâmetros físicos que é um dos objetivos do treino. Por exemplo, jogos em campos reduzidos, em que há maior contato com a bola, porém sem perder a essência do jogo, como superar a marcação adversária, tentar fazer gols e ter que marcar os adversários para recuperar a bola.

Neste tipo de treinamento, o preparador físico consegue controlar variáveis para atingir seus objetivos. Se cada jogo for com pouco tempo, deverá ser mais intenso. Se for tempo longo, a tendência é que o ritmo caia, direcionando o treinamento para a resistência. Da mesma forma ocorre em relação a variação das medidas do campo. Campo pequeno aproxima os jogadores e exige ações rápidas. Campo grande oferece mais espaços aos jogadores e o ritmo cai, mas aumenta as distâncias de deslocamento. Jogadores a mais ou a menos numa equipe, também influenciam no ritmo do jogo e nas exigências físicas dos participantes.

Temos as capacidades físicas envolvidas no jogo, como, resistência aeróbia e anaeróbia, velocidade máxima, resistência de velocidade, potência, resistência de força, além das habilidades técnicas e do poder de concentração em situações de cansaço. Tudo isto pode ser bem treinado de forma planejada entre o preparador físico e treinador.

Existem métodos de controle do treinamento, para verificar se está na intensidade pretendida, como a frequência de batimentos cardíacos, as escalas de percepção de esforço e até mesmo uma coleta sanguínea para análise da concentração de lactato no sangue. No entanto, sugiro um controle de percepção de esforço subjetivo (escala de Borg), escala de dor (local do corpo onde o atleta sente um desconforto) e de recuperação, que são ótimos indicativos para atletas que já conhecem o próprio limite do corpo.

​Por tudo que foi exposto acima, caberá ao preparador físico planejar o treinamento em conjunto com o treinador, para que o treinamento seja otimizado, de forma integrada, envolvendo todas as capacidades físicas, técnicas e táticas, incluindo o desgaste mental necessário para a preparação adequada dos jogadores. Assim, aproximaremos ao máximo o treino da realidade do jogo e tornaremos o treinamento mais interessante para os jogadores.
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Autor: Raphael de Souza Peixoto
Especialista em Treinamento de Alto Rendimento no Futebol
Fonte: GestaoDesportiva.com.br
*As opiniões e informações publicadas nesse blog são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem necessariamente os valores do GestaoDesportiva.com.br
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A escassez de laterais de elite no futebol internacional

15/5/2018

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​A lesão do lateral direito Daniel Alves na véspera da Copa 2018, chamou a atenção por dois motivos. O primeiro, é pela própria ausência dele, que é considerado um dos melhores do mundo na posição. O segundo, pois há uma certa escassez de laterais de elite em todas as seleções, como foi destacado nesse texto. O curioso é que há motivos conhecidos para justificar esta escassez.
 
Existem duas capacidades no futebol que são determinantes para definir as posições que os jogadores atuam: velocidade e habilidade técnica. Em linhas gerais, normalmente os mais habilidosos e velozes costumam jogar nas posições ofensivas (meias e atacantes). Os não tão velozes e não tão habilidosos costumam jogar nas posições defensivas (zagueiros, laterais e volantes).
 
Isso é regra? Não, mas é o que geralmente acontece, por causa da própria exigência do jogo. É mais difícil atacar e criar jogadas ofensivas do que defender. Os jogadores ofensivos precisam se livrar da marcação durante todo o jogo, necessitando muito de velocidade, agilidade e principalmente de habilidade. Desta forma, pela lógica, os melhores jogadores (mais habilidosos e rápidos) serão melhor utilizados nas posições ofensivas.
 
Entre os não tão habilidosos, que geralmente atuam nas posições defensivas, os mais rápidos geralmente atuam nas laterais, enquanto os mais altos costumam atuar de zagueiros e os mais habilidosos como volantes, por atuarem no setor de meio campo.
 
Agora é importante compreender como ocorre a formação destes jogadores, durante a adolescência. Eles atuam nas categorias de base dos clubes, numa fase chamada de especialização. Isso significa treinar cada jogador ao máximo na mesma posição, para que ele se torne um especialista nesta posição e consiga desempenho acima dos demais concorrentes pela mesma vaga. Laterais quase sempre treinam como laterais, zagueiros como zagueiros e assim por diante para todas as posições.
 
No entanto, alguns fatores podem influenciar mudanças de posições nessa fase de especialização. Por exemplo, quando há muita concorrência para uma posição, é comum que os jogadores menos aptos busquem outras posições para que consigam uma vaga na equipe. Os não tão habilidosos certamente deixarão de tentar atuar nas posições ofensivas. Os baixinhos desistirão de ser zagueiros e goleiros, já os lentos provavelmente irão abandonar a carreira. O futebol competitivo é assim, excludente, só ficam os melhores.
 
Agora, voltando a questão inicial, por que há certa escassez de laterais de elite no futebol internacional?
 
Qualquer equipe de categoria de base que tenha um ótimo lateral, mais habilidoso que os meias e atacantes, certamente irá deslocar esse lateral para estas funções ofensivas. O lateral esquerdo Michel Bastos é um dos grandes exemplos disso, que já atuando na categoria profissional, no Lyon, um dos principais clubes franceses, deixou a lateral esquerda para atuar na ponta direita, usando toda sua habilidade e velocidade. O próprio Daniel Alves, que motivou este texto, também já atuou em posições ofensivas no Barcelona, na Juventus e até mesmo na Seleção Brasileira.
 
Já passei por essa situação em duas equipes que eu era o treinador. Eu tinha laterais mais habilidosos e rápidos que os meias e atacantes. Essas mudanças foram inevitáveis e nos dois casos melhorou o rendimento das equipes. A função do meia ofensivo é mais decisiva que dos laterais e torna-se um desperdício deixar um lateral muito habilidoso só atuando na lateral. Isso explica de forma geral a escassez de tantos laterais de qualidade.
 
Qual a solução para este problema? Laterais que atuem em equipes com meias e atacantes mais habilidosos, certamente serão mantidos nas laterais. Porém nem sempre isso é possível. Assim, o ideal é que cada jogador atue durante toda sua formação em no mínimo duas posições. A princípio parece que irá prejudicar a especialização dele, mas na realidade não. Pelo contrário, tornará o jogador ainda mais completo e inteligente, com melhor noção de outra posição e setor do campo.
 
Diversos atletas de alto nível mudaram de posição depois que envelheceram e ficaram mais lentos, porém compensaram com um desempenho mais completo e inteligente em campo. Alguns grandes exemplos: o ponta galês Giggs passou a jogar como volante. O ponta alemão Schweinsteigger também virou volante. O meia alemão Mathaus passou a atuar como líbero no setor defensivo. O lateral italiano Maldini passou a atuar de zagueiro. O lateral brasileiro Zé Roberto passou a atuar como volante, entre tantos outros casos de mudança de posição no futebol de elite.
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Autor: Luiz Antonio Ramos Filho
Mestre em Gestão do Esporte e Especialista em Futebol (mais sobre o autor)
Fonte: GestaoDesportiva.com.br
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